terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Giraud/Moebius

BIOGRAFIA

Jean Giraud é nascido em 8 de maio de 1938, em Nogent-sur-Marne, França. Seus pais se divorciam então quando ele tem três anos e ele é educado, em parte, por seus avós. Todavia é graças a seu pai que ele faz uma descoberta importante para si, entre quinze e dezesseis anos: aquela da literatura de ficção científica, que ele lê nas páginas da revista “Fiction”.

Após dois anos nas Arts Appliqués, ele desamarra a história em quadrinhos no profissional. Ele começa em “Far West” e colabora nas revistas católicas como “Coeurs Vaillants”. Cerca de 1955, ele parte e se reúne à sua mãe, que vive no México, onde ela é casada. Ali, ele descobre, ao mesmo tempo, a maconha, o be-bop e as experiências da idade adulta. Mais que um título, Jean Giraud tem considerado o México como terra de predileção, até dizer que, de certo modo, Moebius é nascido no México.




O retorno à França o faz desencantar-se. Ele parte para o exército, passa seis meses na Alemanha e o resto na Argélia, onde ele é, primeiramente, telefonista, depois ligado à vigilância de um depósito de material. Ele não combate; ele passa todo o seu tempo livre a desenhar.

De retorno ao continente, ele toma contato com Joseph Gillain, dito Jijé, um dos pilares do hebdomadário belga “Spirou”. Giraud se torna seu discípulo e colabora em uma das criações do mestre, o western Jerry Spring, para o episódio intitulado La route de Coronado. Na França, o hebdomadário “Pilote”, fundado notavelmente por René Goscinny, desejava ter uma série western. Sob a assinatura de Gir, é o começo da colaboração com Jean-Michel Charlier. Ele gera Fort Navajo, denominação de origem das aventuras de Mike Steve Blueberry, que prosseguem ainda hoje. Aparece no número de “Pilote” de 31 de outubro de 1963, a série encontra um sucesso sempre maior a cada novo episódio. Ela conta, hoje, mais de 24 álbuns periodicamente reeditados.

Através dessa série, que constitui o verdadeiro aprendizado de Giraud, o desenhista se liberta pouco a pouco da influência de Jijé. Sob sua impulsão, o roteiro evolui igualmente e integra os ingredientes estilísticos vindos do cinema, de John Ford a Sergio Leone passando por Sam Pekinpah. Blueberry adquire assim um tom moderno e dramático que ultrapassa os modelos da história em quadrinhos franco-belga para a juventude. Na opinião dos aficionados, os melhores episódios são os dois pórticos de La Mine de l’Allemandu perdu e Le Spectre aux balles d’or, e o ciclo Chihuahua Pearl, L’Homme qui valait 500 000 $, Ballade pour un cercueil, Le Hors-la-loi e Angel Face.

A assinatura Giraud, ou Gir, representa, nessa fase, o desenhista de inspiração clássica ou neoclássica. Todavia outra vertente criativa se desenvolve nele, para a qual ele assinará Moebius. A princípio, para abordar uma veia satírica, na linha da revista americana “Mad”. São as estreias do rótulo Moebius para a mensal, tola e travessa “Hara Kiri”, onde ele desenha história curtas de humor negro. Mas, breve, a dualidade Gir/Moebius vai tomar, totalmente, outra amplitude.

Em 1965, uma nova viagem ao México se salda para uma decepção: Giraud se confronta com a solidão e a angústia. Ele experimenta, pela primeira vez, os cogumelos alucinógenos. Quando ele volta, ele se consagra, muito seguro, em sua produção para “Pilote”, mas aborda igualmente a ficção científica pelo viés da ilustração ou do cartaz. Ele colabora, regularmente, com as edições Opta, para o Club du Livre d’Anticipation ou as revistas “Fiction” e “Galaxie”.

Enfim, entre 1973 e 1974, ele assina, para “Pilote”, algumas histórias ao tom novo e livre, que anunciam a revolução Moebius, em particular “La déviation”, que marcará gerações de desenhistas. Mas é, então, um fenômeno mais vasto que atrai: o nascimento, na França, da história em quadrinhos de autor ou, se quisermos, da história em quadrinhos “adulta”, em cuja Moebius será uma das mais importantes referências através da revista “Métal Hurlant”.

Uma diferença sobrevinda com seu editor francês, Dargaud, a propósito de “Blueberry”, conduz à interrupção provisória da série, durante quatro anos, de 1975 a 1979. A criação da revista “L’Echo des Savanes”, em 1972, e o movimento da história em quadrinhos “adulta”, na França, derivado do underground americano e do desejo de ser libertar da censura ou dos limites impostos pela imprensa jovem, permitem a Moebius florescer. Em 1974, ele publica, nas edições du Fromage (emanação de “L’Echo des Savanes”), Le Bandard Fou. No mesmo ano, Etienne Robial publica o primeiro álbum de história em quadrinhos que menciona, na capa, o nome do autor (e não aquele de um personagem): é Gir, em Futuropolis.

1975 é uma nova data histórica: ela vê a reunião de Moebius, Druillet, Dionnet e Farkas para a criação de “Métal Hurlant” e de sua editora, Les Humanoïdes Associés. A assinatura Moebius ali encontra totalmente seu sentido e gera, com um grande êxito experimental e uma nova força de expressão, criações regularmente citadas entre as obras-primas incontestáveis da história em quadrinhos: Arzach, em 1976, Cauchemar Blanc, em 1977 (para “L’Echo des Savanes”), Les yeux du chat, com Alejandro Jodorowsky, em 1978, e Major Fatal ou Le Garage hermétique, em 1979. Cada uma a seu modo, essas obras revolucionaram a compreensão da história em quadrinhos e impeliram os limites criativos.

Um novo período se abre, então, para Moebius. Seu encontro com Alejandro Jodorowsky, sobre o projeto inacabado do filme Dune, de uma parte o leva à criação de L’Incal, de outra parte o lança sobre múltiplas colaborações cinematográficas: Alien, do diretor Ridley Scott, o desenho animado de René Laloux, Les Maîtres du Temps, ou Tron, de Steven Lisberger, que integra as sequências animadas por computador.

Paralelamente, Moebius conhece uma entrega em causa existencial radical: se apaixonando pelas doutrinas espirituais, logo ele se junta ao grupo Isozen, dirigido por Appel-Guéry. Ele abandona tabaco, álcool ou toda outra substância produzida nos paraísos artificiais, para se tornar vegetariano, se estabelecer durante alguns anos em Béarn, próximo de Pau, depois se evaporar para o Tahiti, quando o grupo vai se implantar. Sua estadia será de breve duração.

Atraído pelo cinema, ele se instala em Los Angeles e toma suas distâncias com Isozen. L’Incal torna-se um sucesso e o equivalente em notoriedade para Moebius, de Blueberry para Gir! Ele divide, então, sua existência entre Los Angeles e Paris. Em 1984, ele cria, com Jean Annestay e Gérard Bonysse, uma pequena editora em Paris, AEdena, que se consagra nas tiragens limitadas das imagens de Moebius, nas coletâneas de suas ilustrações, assim como em um novo ciclo de história em quadrinhos: Le Monde d’AEdena, hoje retomado por Casterman.

Em Los Angeles, ele cria, com sua esposa Claudine, Jean-Marc e Randy Lofficier, uma sociedade que o representa, Starwatcher Graphic, e que vai permitir a tradução de sua obra completa, em luxuosas graphic novels, pela Marvel, coroando assim sua dimensão de artista internacional. Flexionando-se, de bom grado, aos costumes locais, Moebius desenha, mesmo em 1988, dois episódios de um super-herói lendário: o Surfer d’Argent, sobre um roteiro de seu criador, Stan Lee. Um de seus projetos mais importantes consiste em retomar seu personagem fetiche, o Major Grubert, e em estender Le Garage hermétique às dimensões de um ciclo em diversas facetas.

Os anos 1988 e 1989 inauguram um novo período para Giraud/Moebius. Ele coloca termo à sua “aventura americana”, volta à França e altera o curso da sua vida, tanto naquilo que concerne sua vida privada, quanto suas atividades profissionais.

No terreno editorial, ele não fica inativo. A assinatura de Moebius vai, doravante, aparecer, muito regularmente, no catálogo das edições Casterman, através de múltiplas criações. O desenvolvimento do universo criado, primeiramente, na época das edições Aedena, com o ciclo Le monde d’Edena (4 álbuns publicados). Em paralelo, sempre no registro onírico e instintivo, que caracteriza seu tratamento da ficção científica, Moebius publica, pela mesma editora, várias coletâneas de imagens (a última, em data, se intitula Fusions) reunindo uma boa parte de sua produção “fora HQ”: rascunhos, estudos, aquarelas, ilustrações, etc. Enfim, Casterman acolhi, igualmente, outra faceta de sua inspiração: muito admirador da obra de Winsor McCay, Moebius propõe uma nova adaptação, em dois volumes, do célebre Little Nemo (Le bon roi, Le mauvais roi), desenhada por Bruno Marchand.

Com seu velho cúmplice, Alejandro Jodorowsky, ele inaugura, além disso, por Les Humanoïdes Associés, uma nova série, Le cœur couronné: dois álbuns são publicados (La folle du Sacré-Cœur, Le piège de l’irrationnel), um terceiro está, atualmente, em preparação.

Durante esse período, sempre atraído pelo audiovisual e a animação, Giraud/Moebius fica em contato com o melhor do cinema na França, como nos Estados Unidos, mas nenhum dos grandes projetos que ele havia iniciado, quer seja Le Garage hermétique, com o desenhista japonês Otomo, ou Starwatcher, longa metragem inteiramente em imagens de síntese, de cujo cinco minutos têm sido realizados, não verá finalmente a luz.

Enfim, no capítulo das atividades, não se integrando em um ciclo preexistente, Moebius tem assinado, aqui e ali, alguns livros atípicos como Les Histoires de Monsieur Mouche (com Jean-Luc Coudray, nas edições Hélyode), criado uma pequena estrutura editorial, Stardom (serigrafias, objetos, etc.), com sua ex-esposa Claudine, e visto se erigir um fã-clube, que publica a Moebius Groove, revista dando conta da atualidade da sua produção.

Mas se Moebius revela-se prolífico, Jean Giraud não desaparece da paisagem para tanto. Sempre como roteirista, retoma, pela Casterman, o personagem Jim Cutlass, criado, na origem, por Jean-Michel Charlier, desenhado por Christian Rossi. 4 álbuns são publicados até o presente, o título do último, Tonnerre au Sud, se permitindo mesmo uma piscadela amigável a Blueberry.

O qual Blueberry retoma, além disso, rapidamente ao serviço. Primeiramente em Marshal Blueberry, desenhado por William Vance, sobre roteiros de Giraud (dois álbuns publicados, um terceiro a publicar proximamente) e, em seguida, em Arizona Love, títulos, inicialmente, publicados por Alpen e retomados, depois, por Dargaud que, doravante, publica todas as novidades da série, notavelmente esse “Mister Blueberry” que aparece nestes dias.

N. C.: Jean Giraud, dito Moebius, falece em 10 de março de 2012 em Paris, França.


BIBLIOGRAFIA

GIRAUD

BLUEBERRY
Com Jean-Michel Charlier (roteiro)
ÉDITIONS DARGAUD
Fort Navajo
Tonnerre à l’Ouest
L’Aigle solitaire
Le Cavalier perdu
La Piste des Navajos
L’Homme à l’étoile d’argent
Le Cheval de fer
L’Homme au poing d’acier
La Piste des Sioux
Général “Tête Jaune”
La Mine de l’Allemand perdu
Le Spectre aux balles d’or
Chihuahua Pearl
L’Homme qui valait 500 000 $
Ballade pour un cercueil
Le Hors-la-loi
Angel Face
Nez Cassé
Arizona Love
Mister Blueberry
ÉDITIONS DUPUIS
La Longue Marche
La Tribu fantôme
La Dernière carte
Le Bout de la piste

LA JEUNESSE DE BLUEBERRY
Com Jean-Michel Charlier (roteiro)
ÉDITIONS DARGAUD
La Jeunesse de Blueberry
Un Yankee nomée Blueberry
Cavalier bleu
François Corteggiani (roteiro) e Colin Wilson (desenho)
Trois hommes pour Atlanta
Le Prix du sang
Jean-Michel Charlier (roteiro) e Colin Wilson (desenho)
ÉDITIONS DUPUIS
Les Démons du Missouri
Terreur sur le Kansas
Le Raid infernal
La Poursuite impitoyable (com François Corteggiani)

MARSHAL BLUEBERRY
Com William Vance (desenho)
ÉDITIONS DARGAUD
Sur ordre de Washington
Mission sherman

JIM CUTLASS
Com Jean-Michel Charlier (roteiro) e Christian Rossi (desenho)
ÉDITIONS CASTERMAN
Mississippi River
L’homme de la Nouvelle Orléans
L’alligator blanc
Tonnerre au Sud

CRISTAL MAJEUR
Com Marc Bati (desenho)
ÉDITIONS DARGAUD
Le cristal majeur
L’île de la licorne
Le secret d’Aurélys
Les immortels de Shinkara

HORS COLLECTIONS
ÉDITIONS DARGAUD
L’univers de Gir
ÉDITIONS FUTUROPOLIS
30x40 : Gir
ÉDITIONS LES HUMANOÏDES ASSOCIÉS
Le lac aux émeraudes
Le tireur solitaire


MOEBIUS

JOHN DIFOOL
Com Alejandro Jodorowsky (roteiro)
ÉDITIONS LES HUMANOÏDES ASSOCIÉS
L’incal noir
L’incal lumière
Ce qui est en bas
Ce qui est en haut
La cinquième essence 1 : Galaxie qui songe
La cinquième essence 2 : La planète Difool
Les mystères de l’incal (com Alejandro Jodorowsky e Jean Annestay)

LE CŒUR COURONNÉ
Com Alejandro Jodorowsky (roteiro)
ÉDITIONS LES HUMANOÏDES ASSOCIÉS
La folle du Sacré-Cœur
Le piège de l’irrationnel

LE MONDE DU GARAGE HERMÉTIQUE
Com Jean-Marc Lofficier (roteiro), Eric Shanower (desenho) e Jerry Bingham (desenho *)
ÉDITIONS LES HUMANOÏDES ASSOCIÉS
Le prince impensable
Les quatre royaumes
Le retour du Jouk
Les terres aléatoires *
Le seigneur d’onyx *

LE MONDE D’EDENA
ÉDITIONS CASTERMAN
Sur l’étoile
Les jardins d’Edena
La déesse
Stel

LITTLE NEMO
Com Bruno Marchand (desenho)
ÉDITIONS CASTERMAN
Le bon roi
Le mauvais roi

OBRAS FORA DE SÉRIE
ÉDITIONS LES HUMANOÏDES ASSOCIÉS
Le garage hermétique
The long tomorrow
La citadelle aveugle
Escale sur Pharagonescia
Le bandard fou
Arzach
Les vacances do Major
Chaos
La complainte de l’homme-programme
Le désintégré réintégré
Chroniques métalliques
Arzach made in USA
30x30
Les yeux du chat com Alejandro Jodorowsky (roteiro)
Griffes d’ange com Alejandro Jodorowsky (roteiro)
ÉDITIONS AEDENA
La nuite de l’étoile com Marc Bati (desenho)
La cité feu com Geoff Darrow (desenho)
ÉDITIONS GENTIANE
La mémoire du futur
ÉDITIONS HÉLYODE
Les histoires du Monsieur Mouche com Jean-Luc Coudray (roteiro)
ÉDITIONS CASTERMAN
Surfer d’argent com Stan Lee (roteiro)
Moebius Entrevista com Numa Sadoul
Tueur du monde
Venise céleste
Starwatcher
Made in L.A.
Quatre-vingt-huit
Fusions

N. C.: Bibliografia até 1995.

Fonte: Mister Blueberry Dossier de presse, Dargaud Éditeur, Paris, França, 1995.

Imagem: Afrânio Braga: Jean Giraud, dito Mœbius, extraída da biografia publicada em “Mister Blueberry Dossier de presse”.

Mister Blueberry Dossier de presse © Jean-Michel Charlier, Jean Giraud, Dargaud Éditeur 1995

Afrânio Braga


Um comentário:

  1. Muito bem feita essa biografia do grande Jean Giraud. Ele foi com certeza uma das maiores perda que tivemos nos últimos anos.

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