GIRAUD por
GIRAUD,
de A a Z
Álbum (ns) preferido (s): “Há vários. O
ciclo de La Mine..., porque o desenho
tem muito de entusiasmo, de generosidade. Nez
Cassè, tecnicamente muito ao ponto. La
Tribu Fantôme, por sua descontração gráfica. E depois eu tenho uma ternura
particular pelo lado estranho, um pouco híbrido, de Arizona Love.”
América: “Apesar de Francês e nascido na
França, é verdade que eu tenho uma espécie de contrato com a América. Contar
Blueberry é contar um pedaço da História dos Estados Unidos. Mesma coisa quando
eu faço a ficção científica, que é um gênero antes anglo-saxão. Há muito tempo,
quando eu estava ligado aos Estados Unidos, isso ainda não tinha se tornado uma
moda, tem tido qualquer coisa de um pouco subversivo nesse modo de andar.
América foi o nome que se deu, finalmente, à modernidade. E eu, como a maioria
dos artistas, tenho entrado de maneira muito apaixonável no modelo americano. Foi
uma atração violenta, uma forma de fetichismo, uma nostalgia difundida pelas
velhas histórias de cowboys e de índios... E depois chega um momento em cujo se
cessa de assimilar essa cultura, porque demais, é demais. Isso cria as zonas de
resistência. Por sinal, é por isso que “minha” América é moderadamente “real”.
Muito menos precisa, por exemplo, que aquela de Blanc-Dumont ou de Hermann. Ela
tem o ar autêntico, mas ao olhar de
perto, é longe de ser o caso.”
(1)
Ausência (tão longa): “Numerosas
razões explicam a ausência de Blueberry nesses últimos anos, algumas muito
triviais e outras que são de ordem do imaginário. Há, em primeiro lugar, a
ausência de Jean-Michel. Quando ele ainda estava ali, era ele que tinha o
“calendário” da série e, em geral, eu me juntava a seus desejos. Ele faleceu –
e, do mesmo golpe, a “pressão” que ele mantinha -, eu me tenho encontrado só, e
eu acreditei finalmente que eu tenho tido, em certo momento, um pouco de medo
de me lançar em um novo álbum. Medo de enfrentar, solitário, o roteiro. Medo
também de “fazer Blueberry”. Pois, naquele momento, fazer um Blueberry era
sinônimo, em meu espírito, de refazer
um Blueberry. Existia também, durante esse período, certa hesitação editorial:
a série se preparava para voltar à sua editora de origem, Dargaud, após ter
sido algum tempo publicada por Les Humanoïdes Associés. E depois, havia, enfim,
uma razão mais imaterial. Ao fim de Arizona
Love, Blueberry vive um momento dobradiça de sua existência, ele sente que
era um pouco o fim de uma época: ele não tem podido, não tem sabido conservar o
amor de uma mulher, ele está em situação de fracasso, de choque emocional.
Blueberry tem as asas quebradas, era o fim da Grande Aventura. Partindo dali,
era muito lógico, para mim, que havia uma espécie de buraco negro em sua vida.
Eu o tenho abandonado 4 anos, mas se tem passado 7 anos para ele. 7, é uma
cifra um pouco mágica, um símbolo forte que retorna a um dos ciclos biológicos
do corpo humano. Por conseguinte, se pode supor que esses 7 anos têm conduzido
Blueberry a viver uma profunda transformação.”
Blood’n’guts: “Jean-Michel havia preparado, no ponto,
um pequeno repertório desse gênero de expressões, é seu lado engraçado. E
depois, isso responde a uma necessidade: em um western, se deve poder semear
esse tipo de sinais, que criam um exotismo. Isso dito, Blood’n’guts,
literalmente “sangue e tripas” em inglês, é uma invenção total de Jean-Michel.
Nunca algum cowboy tem utilizado esse palavrão!” Parece ser.
Blueberry: "Um
gêmeo, um irmão, mais ainda... Blueberry sou eu, quer eu queira ou não! Um dia,
quando eu era criança, eu cortei o nariz, muito seriamente, brincando na rua.
Minha mãe, a pé, me levou ao dispensário em seus braços. Ao chegar - eu guardo
uma lembrança muito forte disso -, sua camisa estava coberta de sangue. Eu
disse para mim que Blueberry, com seu nariz partido e seus perpétuos
aborrecimentos, poderia ser um ressurgimento desse acontecimento... Seja o quê
for, eu tenho por ele uma enorme afeição. Sua sobrevivência obstinada termina
por ser admirável, igualmente o seu dom de atrair problemas. Eu disse para mim,
às vezes, que sua vida não é exatamente uma vida, mas, no fundo, poderia ser que
fosse exatamente ao contrário: se gerar dos aborrecimentos foi uma maneira
incomparável de se sentir existir..."
Celebridade: “A celebridade... faz necessariamente
parte das “ferramentas do artista”, mas ela comporta, obrigatoriamente, também
uma parte de neurose. Eu tinha, frequentemente, o costume de dizer, no passado,
que dois perigos ameaçam os artistas: o fracasso e o sucesso. Em todo trabalho
artístico, existe um desejo, uma necessidade de reconhecimento. Se alguém está abaixo
desse desejo, é um sofrimento e um fracasso profissional. Mas se alguém está
mais além – diferentemente dito, se a celebridade desembarca -, então é ali que
a neurose tocaia, e o reconhecimento pode também ser um sofrimento.
Pessoalmente, eu tento encontrar um equilíbrio, de gerir a parte neurótica de
mim mesmo, que aspira à glória absoluta, sem para tanto ceder às estratégias
grotescas que poderiam me ditar esse impulso. Mas isso não significa que se
deve sempre reprimi-la: em certa época, por exemplo, eu tenho ficado com
alegria em ver se construir uma imagem internacional de mim mesmo.”
Charlier (Jean-Michel): “Jean-Michel é
alguém que tem, verdadeiramente, orientado minha vida. Encontrá-lo não me tem
deixado intacto. Ele me tem dado muito, seja profissionalmente: uma segurança
de trabalho fantástica, um autêntico profissionalismo, uma verdadeira confiança
em mim. Sua personalidade foi muito presente, calorosa, cheia de humor. Naturalmente,
ele tinha, às vezes, discórdias, que ocorriam por nossas diferenças. Ele tinha
dificuldade em compreender, por exemplo, aquilo que eu fazia sob o nome de
Moebius. Mas mesmo quando ele tinha oposição, era sempre muito finamente gerado
de sua parte: ele se arranjava para que isso não me magoasse. Como muitos
outros, é somente quando ele está morto que eu tenho compreendido qual grande
artista ele foi, qual formidável herança ele deixou. Hoje, em total
cumplicidade com a família de Jean-Michel, eu vejo como um privilégio
excepcional o fato de continuar Blueberry.”
Chihuahua Pearl: “Blueberry, eu tenho me dado
conta, progressivamente, é um homem de uma só mulher. E essa mulher, o grande
amor de sua vida, é Chihuahua. Um e o outro constituem realmente uma entidade.
Com Arizona Love, eu tenho criado,
portanto, um momento que ela irá sair de cena definitivamente: exit
Chihuahua... Mas, agora, eu sei que é impossível: é inevitável que ela reapareça.” (2)
Cor: “É muito importante para mim, capital.
Eu creio fazer parte desses autores que têm demonstrado, então que isso não era
uma opinião frequentemente admitida, que a cor é um componente essencial, maior,
da criação em história em quadrinhos. Hoje, a ideia tem feito seu caminho, mas
os bons coloristas restam pouco numerosos na HQ, porque é uma arte difícil: ele
deve saber oscilar, sem cessar, com muita sutileza, entre a estilização e o
realismo. Eu creio que em Mister
Blueberry, Florence Breton tem perfeitamente aumentado o desafio.”
Desenho: “Blueberry é um tipo de desenho bem
particular, com suas leis, suas exigências, suas dificuldades. Algo que me é
impossível de improvisar, que demanda treinamento, disciplina. Que mobiliza, digamos,
todos os recursos do desenho clássico europeu. É interessante, além disso,
porque a história em quadrinhos é, sem dúvida, hoje, uma das últimas
manifestações dessa tradição realista que é uma invenção tipicamente ocidental.
Uma forma de desenho sem caricatura, o academicismo em ação. É um gênero
difícil, que demanda bastante da memória e exige o respeito ao real, à luz e à
perspectiva. No final das contas, é uma arte submissa. Difícil de aceitar para
o espírito moderno de hoje, porque ela implica também de se submeter, com
antecedência, a um ensinamento. O fato que os “mestres”, no sentido clássico do
termo, praticamente todos têm desaparecido, demonstra bem que essa tradição
está em recuo.”
Desgaste: “É um perigo que espreita permanentemente.
Tudo se desgasta: a imaginação, o olhar dos leitores, o entusiasmo... Um
desenhista está tão mais exposto que seu trabalho solitário, e deve alimentar-se
de certa atividade espiritual. Esse desgaste, eu o temo, e é útil: o temor ao
desgaste é como o temor a Deus, isso nos mantém...”
Earp (Wyatt): “Wyatt Earp é, efetivamente, um dos
protagonistas de Mister Blueberry,
mas na mesma posição que seus irmãos ou que Doc Holliday, que se esforçam em
colocar a ordem em Tombstone. Na realidade, mais que um ou outro desses
personagens, era o mito que me interessava antes de tudo. Eu queria que
Blueberry encontrasse os mitos do Oeste, sabendo que, em meu espírito, ele
também é um. Se alguém olhar atentamente os livros de história, que tratam dessa época, ele está ali também, justo último, entre as linhas...”
Editoras: “É verdade que o périplo editorial de
Blueberry é um pouco torto. Existe a época Novedi, cuja razão de ser, então,
foi de se ocupar exclusivamente da produção de Jean-Michel. Em seguida, oito
títulos – quatro Blueberry e quatro La Jeunesse de Blueberry – são lançadas
por Dupuis, então a “série-mãe”, os dois episódios publicados de Marshal Blueberry e La Jeunesse de Blueberry, após um desvio por Les Humanoïdes
Associés/Alpen, retornam por Dargaud, sua editora de origem. A fivela é
afivelada...”
Filmes (s): “Enquanto vivo, Charlier tinha vários
projetos de adaptação de Blueberry ao cinema, mas todos têm sido parados por
causa da incompatibilidade de roteiro com Jean-Michel. Ele tinha absolutamente
de preservar o sabor e a cor do Blueberry de origem, então que a tendência dos
cineastas, naquele momento, teria sido, de
preferência, arrastar o tema rumo a certa forma de zombaria. Jean-Michel tinha
razão em resistir. Hoje, existe novamente um projeto no estaleiro. Uma
produtora americana tem comprado os direitos de Blueberry para tentar fazer uma
adaptação com um grande estúdio de Hollywood. Eu não sei se ela vai ter sucesso.
Mas se nada se faz, minha ambição, uma vez que se tenha recuperado os direitos,
será de montar aqui, a partir de Blueberry, uma produção de prestígio. Um
grande filme francês, rodado na França, com artistas franceses, que possa fazer
divertimento igual as enormes produções
americanas. Eu não penso necessariamente em uma grande pintura; antes em um enredo
assaz apertado, mas realizado de modo muito luxuoso.” (3)
Fim: “Não existe fim na série, Blueberry
não pode morrer. Eu tenho tido a convicção desde que eu tenho lido a biografia
de Blueberry, que Jean-Michel tem escrito antes de falecer. É uma espécie de
testamento, que ele deixou ali. Blueberry tem nascido em cerca de 1843, portanto,
ele tem 57 anos em 1900, 77 anos em 1920. E nessa época, é ainda, é sempre um
personagem fascinante, muito mais rico que tudo isso que alguém tem podido
imaginar. Segundo Jean-Michel, Blueberry tem mesmo estado lado a lado com
Elliott Ness. A história de um tipo como esse não pode ter fim...”
Gerônimo: “Começa-se a ver discretamente
aparecer Gerônimo em Mister Blueberry,
mas isso é só um começo. O personagem, que é, na vez, um chefe de guerra e um
grande feiticeiro, vai tomar muita importância na sequência, não será porque
ele encaminha a um quase anagrama: Giraud,
meu nome, e Nemo, o menino que
sonha... De fato, Gerônimo e Blueberry se conhecem desde muito tempo. Um
próximo álbum contará, sob forma de flash-back, aquilo que eles têm vivido juntos,
quando jovens, em uma época, anterior a Fort
Navajo, onde Gerônimo era já um poderoso feiticeiro. Eu me apercebi, no
devido tempo, que as conexões de Blueberry com o mundo indígena – ele tem
igualmente frequentado Cochise – são ainda mais profundas que elas pareciam e
tendem a ressurgir sem cessar, vinte, trinta anos após. Tudo isso vai no mesmo
sentido: uma imersão prolongada na biografia de Blueberry, que me conduz mais e
mais a tomar consciência da dimensão verdadeiramente extraordinária de seu
personagem. Eu tenho a impressão, pouco a pouco, que sua vida começa enfim a
tomar sentido.” (4)
História: “Jean-Michel era muito historiador, eu
não o sou de todo. Então, naturalmente, eu jogo o jogo da referência histórica,
mas sem ser um fanático, sem esforço realmente afiado de pesquisa documentária.
E depois, eu tenho outras armas... Refletindo sobre um futuro prolongamento da
série, que se chamará Blueberry 1900,
eu tenho imaginado que o presidente dos Estados Unidos, de então, seria vítima
de um atentado, e que Blueberry, na sequência de muitas peripécias e aventuras,
seria conduzido a fazer fracasso aos conspiradores e a salvar a vida do
presidente. E depois, um pouco por reflexo, eu tenho olhado alguns livros a fim
de saber precisamente quem era verdadeiramente
o presidente americano em 1900. E qual foi minha estupefação descobrindo que
McKinley, é seu nome, tem realmente sido vítima de um atentado mortal,
exatamente no momento em que eu tinha imaginado.” (5)
História em quadrinhos: “Após todos
esses anos, a história em quadrinhos permanece sempre meu universo de
referência. Então, naturalmente, como todos os profissionais, eu acabei por ter
os calos na cabeça, certa maneira de apreender a imagem. Mesmo se eu pintasse,
eu não evitaria, sem dúvida, deixar de compor meus quadros sob a forma de
sequência. Mas eu não sentiria nenhum cansaço, ao contrário. Se eu ficasse
cansado do desenho, eu acredito que isso queria simplesmente dizer que eu
estaria cansado de viver...”
Humor: “Eu sou bastante sensível, mas quando
ele existe em Blueberry, isso não é realmente premeditado, é antes de ordem do
inconsciente, da improvisação. Jean-Michel amava muito manejar o humor em suas
histórias - se está, às vezes, gentilmente a fazer pouco de alguém apoiados
pelas “gags à la Charlier”. Eu tenho mantido certa afeição por seu tipo de
humor. Isso fazia parte de seu estilo.”
Imitador (es): “Eu, às vezes, tenho sido imitado,
sim, e eu sou o primeiro a dizer que isso é necessário e bom de imitar as
pessoas que se ama ou que se admira. Eu mesmo, profissionalmente, eu não tenho
feito outra coisa: eu tenho começado por imitar outros criadores, e eu continuo
a tentar imitar o academicismo, aliás, sem nunca realmente o alcançar. A
imitação não me põe verdadeiramente problema, é uma das coisas que fazem com que
nos tornemos humanos.”
Jogo: “Em Mister Blueberry, Blueberry joga, muito: daqui em diante rico, ele
se tornou um gambler, um jogador
profissional, um cliente assíduo de casa de jogo. Eu estimo que isso condiga
muito bem com sua história e sua personalidade, mesmo se eu o fiz jogador de
modo muito particular: de modo solto, sem paixão, com alguma coisa um pouco
monstruosa que se sente bater nele. Ainda ali, isso faz parte da emergência de
facetas mal conhecidas de sua personalidade profunda. Todas as provas que Blueberry
tem vivido, o tem formado, moldado, marcado, e têm deixado sobre ele marcas, às
vezes, bizarras. Se vai mais e mais aperceber-se, no futuro, que Blueberry é,
finalmente, um tipo muito estranho.”
McClure (Jimmy): “Ele não aparece em Mister Blueberry, mas se descobre tudo,
assim como ele tem aberto um saloon em Santa Fé. Jimmy McClure, finalmente, é o
único sujeito verdadeiramente puro de toda a história. Ele encarna uma parte do
próprio Blueberry, é Blueberry idoso, se esse estava abandonado em alguns de
seus instintos. Red Neck, igualmente, vai ressurgir no futuro: ele se tornou
rico, mórmon, um bocado sortudo, e vai se lançar na grande aventura do
petróleo.”
Moebius: “Moebius é aquilo que se passa quando
eu me conecto ao meu inconsciente. Hoje, eu continuo a assinar Gir por razões
editoriais, mas tudo isso que eu realizo doravante poderia, de fato, ser
assinado Moebius. Isso incluído “Blueberry” pelos roteiros, o estilo gráfico ficando
um pouco a parte.”
O.K. Corral: “Foi Tombstone, o formidável western de George Cosmatos, que tem
decidido aquilo que iria ser esse novo álbum de Blueberry. Eu tinha um primeiro
roteiro em curso, que eu tinha extraviado. E nisto, eu fui ver o filme. Eu saí
deslumbrado, maravilhado, e eu decidi, imediatamente, que era ali que eu tenho
desejado levar Blueberry, à época do célebre combate entre os irmãos Earp de
uma parte, os Clanton e os McLaury de outra parte, que iria dar nascimento à
lenda de O.K. Corral. Eu tenho definitivamente deixado tombar o roteiro precedente,
e tudo reconstruído em função desse novo objetivo: meu desejo foi de prolongar
o incrível prazer que eu tive ao ver o filme, render-lhe uma homenagem secreta.
Alguém me retorquirá que eu não sou o primeiro a colocar em cena esse episódio
da história do Oeste, mas, justamente, é bem isso que demonstra a potência de
seu poder de atração. Esse duelo atrai os autores como a luz as borboletas.” (6)
Projetos: “Naquilo que concerne essa série, o
próximo grande projeto é Blueberry 1900,
um novo ramo da árvore. O roteiro do primeiro álbum já está pronto, e o
desenhista sondado é um autor de primeiro plano. Isso que eu posso dizer, é que
eu não concebo essa “extensão” como uma aventura a mais. É antes um novo polo
na biografia do personagem. Blueberry tem 57 anos em 1900, exatamente minha
idade hoje. Ele se tornou uma espécie de herói mítico, um personagem misterioso
e fora de norma, um pouco na tradição do romance popular do século 19, que nunca
tem feito tudo ali onde se espera.” (5)
Revólver (es): “Se isso está na capa, Blueberry não
porta e nem utiliza alguma arma em Mister
Blueberry, mas não se deve ver nisso um símbolo ou um significado particular,
é antes da ordem das necessidades de colocá-la em cena. Por outro lado, existe
uma coisa que eu amaria muito colocar ao claro um dia, é a questão da sua
habilidade exata com as armas: ele é muito rápido? Muito hábil? Minha ideia, é
que ele não possa ser capaz quanto se poderia imaginar, mas que ele possui, em
compensação, uma determinação de aço.”
Riqueza: “Isso é um assunto complexo, no qual
eu tenho refletido muito. Criança, eu tenho crescido em um ambiente onde
existia uma grande desconfiança com respeito à riqueza. Eu a tenho
compartilhado certo tempo, até que eu descobri, mais tarde, que a riqueza não é
um estado, mas uma função, um modelo de comportamento. O rico representa o
papel de isca. A coletividade tem necessidade dele, exatamente da mesma maneira
que ela tem necessidade de artistas, de sábios, de assassinos, de mágicos, de
médicos, de profetas, etc... Pessoalmente, eu tenho antes tendência a me empobrecer
financeiramente à medida que eu envelheço, mesmo se eu me enriqueço enormemente,
por outro lado, daquilo que constitui a verdadeira riqueza, quer dizer, os
outros, os próximos, tudo aquilo que se ama.”
Roteiro: “A escrita de roteiros é,
verdadeiramente, minha grande descoberta desses últimos anos, eu fico com um
prazer regenerante. Mas encontrar Charlier me tem, há muito tempo, feito crer
que isso não era para mim, então, evidentemente, desde o momento quando se fazia
a história em quadrinhos, se tocava, necessariamente, no roteiro. Eu não tenho
feito grandes estudos, eu não tenho formação literária, portanto, eu aprendi a
técnica por método de tentativas, ao curso das histórias que eu construí, com
até mais felicidade, porque eu amo a improvisação, o sentimento do risco, o
trabalho sem rede. É quase mais jubilatório que o desenho, embora mais
angustiante, porque os erros são mais difíceis para discernir. E depois, nesses
últimos tempos, eu me divirto muito com um novo brinquedo: o roteiro que tenho
escrito para algum outro.”
Sexo: “A princípio, eu sou bastante
partidário de sexualizar os heróis, mas eu sou igualmente consciente que, em
uma série como “Blueberry”, existem certas leis do gênero a respeitar. A
sexualidade é, certamente, uma função secreta do ser humano, que não se pode
expor não importando como, salvo a cair em outro gênero, que também possua seus
códigos, suas regras, seus mecanismos. Com Arizona
Love, eu tenho definido esse tipo de representação que eu vou, doravante,
adaptar a respeito da sexualidade de Blueberry: eu privilegio a elipse, e eu
creio que está muito bem assim. E depois, existem os recursos dos desenhos
propriamente ditos: para sexualizar os personagens, se pode perfeitamente
adotar um grafismo carnal, insistir nos corpos. Mostrar que eles têm carne,
que...” (7)
Tenente: “O título desse álbum fala dele mesmo:
Blueberry tem deixado o exército, é um civil agora. Ele não é mais Tenente
Blueberry, mas Mister Blueberry. Título que eu tenho escolhido de propósito,
porque ele é em duplo sentido: é também mystère
Blueberry, com isso que oculta supostas zonas de sombra, de movimentos... Por
outro lado, eu não creio que ele tenha acabado verdadeiramente com seu passado
militar, que vai, provavelmente, ressurgir, um dia ou outro, em sua dimensão
oculta: a informação, as missões secretas.” (8)
Trabalho: “Blueberry é também uma história de colas, de papéis, de lápis,
de tinta... Um artesanato que responde às necessidades da sobrevivência
cotidiana. Eu não o esqueço nunca. Mas eu sou igualmente consciente de ter um
grande privilégio: eu tive a oportunidade de poder fazer um trabalho, aquele de
artista, que também é um jogo.” (9)
Vance (William): “Eu tenho escrito Marshal Blueberry como uma espécie de
exercício, para ver se eu era capaz de fazer roteiro à maneira de Charlier.
Quando tive que encontrar um desenhista, eu não tenho pensado em Vance. Alguém
me tem falado dele. Eu tenho percebido que seu estilo era assaz único, e que
Blueberry era suficientemente forte para que eu pudesse soltar, apreciar e
deixar as experiências se fazer livremente. Então, foi isso que se tem passado
e eu nunca tenho lamentado: o Blueberry de William é verdadeiramente uma coisa
importante!” (10)
Wilson (Colin): “Colin tem conquistado sua liberdade
em relação a Blueberry. Quando ele abordou a série, ele vinha de um meio
profissional, a HQ anglo-saxônica, onde os desenhistas têm uma autonomia
restrita, que se exerce no interior de um sistema de referência bastante
rígido. Ele foi progressivamente desmarcado, tem decidido mexer-se, e toma,
doravante, Blueberry em torno do corpo. Eu estou muito feliz.” (11)
Jean Giraud em “Giraud par Giraud, de A à Z”, publicado
em "Mister Blueberry. Dossier de presse", Dargaud Éditeur, Paris,
França, 1995.
N. C.:
1) América: Jean Giraud
morou nos Estados Unidos, onde é mais conhecido por Moebius, seu nome artístico
para produções de ficção científica e afins.
2) Chihuahua Pearl: o
extrato da capa de “Arizona Love” (“Arizona Love”), publicado em “Mister Blueberry. Dossier de presse”, apresenta o casal sem o fundo do desenho.
3) Filme (s): “Blueberry,
l’expérience secrete” (“Blueberry. Desejo de Vingança”, no Brasil), dirigido
por Jan Kounen, com Vicent Cassel, Juliette Lewis, Michael Madsen e grande
elenco, estreou em 2004, mas, segundo a crítica especializada e os leitores de
“Blueberry”, ficou muito aquém da história em quadrinhos. O filme - inspirado nos
episódios “La Mine de l’Allemandu perdu” (“A Mina do Alemão Perdido”) e “Le
Spectre aux balles d’or” (“O Espectro das Balas de Ouro”), que compõem o ciclo
de Prosit Luckner. O Ouro da Sierra – foi considerado ruim por Philippe
Charlier, filho de Jean-Michel Charlier e um dos detentores dos direitos
autorais de “Blueberry”, que solicitou a retirada do nome do seu pai dos
créditos da produção cinematográfica, pois descaracterizava o personagem
Blueberry e o seu universo.
4) Gerônimo: no dossiê foi publicado um desenho de
Vittorio, também chefe apache, extraído do quadrinho 7 da página 41 de “Nez
Cassé” (“Nariz Partido”), quando ele conversava com Chini, filha de Cochise,
após ter prendido Tsi-Na-Pah, ao invés de um desenho de Gerônimo.
5) História, Projetos: a
série “Blueberry 1900”, escrita por Jean Giraud, não foi aprovada por Philippe
Charlier, porque, segundo ele, apresentava um Blueberry muito diferente daquele
do seu pai, o criador literário do personagem. O desenhista seria o renomado François Boucq, autor da saga “Bouncer”,
juntamente com o roteirista Alejandro Jodorowsky, e que trabalhara com Jean
Giraud na editora Les
Humanoïdes Associés.
6) O.K. Corral: Jean
Giraud se inspirou nas cenas do filme “Tombstone” (“Tombstone. A Justiça Está
Chegando”, no Brasil) para fazer aquelas do duelo do O.K. Corral em “Dust”
(“Dust”), o quinto e último episódio do ciclo Mister Blueberry, também chamado
de Tombstone e de O.K. Corral.
7) Sexo: Blueberry e
Pearl no quadrinho
8 da página 15 de “Arizona Love” (“Arizona Love”) – em “Mister Blueberry.
Dossier de presse” foi publicado um extrato desse mesmo quadrinho.
8) Tenente: mystère (francês): mistério.
9) Trabalho: Em 2008, Jean Giraud anunciou um novo
“Blueberry” para 2010. O criador gráfico de Blueberry faleceria em 2012; esse
novo álbum nunca foi publicado.
10) Vance (William): o desenhista belga realizou os
dois primeiros volumes da série “Marshal Blueberry”; o terceiro, e último, foi
desenhado por Michel Rouge, que auxiliou Jean Giraud em “La Longue Marche” (“A
Longa Marcha”), volume 19 de “Blueberry”.
11) Wilson (Colin): o desenhista neozelandês
realizou seis álbuns de “La Jeunesse de Blueberry” (“A Juventude de Blueberry”)
– três com roteiro de Jean-Michel Charlier e três de François Corteggiani.
Desde o volume 10, o desenhista da série é Michel Blanc-Dumont.
Imagens:
Dargaud Éditeur: Blueberry (desenho publicado na página de abertura de vários
álbuns de “Blueberry”, como os fora de série “Les Monts de la Superstition” e
“Apaches”); Chihuahua Pearl e Blueberry (extrato da capa de “Arizona Love”).
Bedetheque: Gerônimo (desenho da capa de “Geronimo l’Apache” (“Gerônimo, o
Apache” – ver nota 4). Stripsuithedenenverleden: Jimmy McClure (extrato do
quadrinho 5 da página 10 de “La Mine de l’Allemandu Perdu”, “A Mina do Alemão
Perdido”). Afrânio Braga: Blueberry e Pearl (quadrinho 8 da página 15 de
“Arizona Love” – ver nota 7). Comic-historietas: Blueberry cowboy (desenho, de
1990, publicado, em parte, na capa de “Le Best of de la BD. Blueberry”, 2005, e
na contracapa de algumas publicações de “Blueberry”).
A série Blueberry foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.
Mister Blueberry
© Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur 1995
Mister Blueberry
Dossier de presse © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur 1995
Blueberry
© Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur
Afrânio
Braga
Edições
do grupo Média-Participations na Amazon Brasil. Acesse a livraria por um dos links
abaixo:
Ñ conheço o personagem, mas se um dia Tex acabar, tomara que seus autores pensem como Jean Giraud. :)
ResponderExcluirPrezado Eduardo Baranowski,
ResponderExcluiredições brasileiras e estrangeiras de "Blueberry" estão à venda pela Internet no Mercado Livre e na Estante Virtual.
Enquanto não começa a sua coleção blueberryana, continue a cavalgar pelas pistas do blog Blueberry, uma Lenda do Oeste.
Quanto ao Ranger Tex Willer, o irmão italiano de Blueberry, eu creio que ele tem uma vida editorial muito longa pela frente.
Cordialmente.
Excelente trabalho esse seu, amigo Afranio Braga.
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