quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Um astro francês: o Tenente Blueberry



UM ASTRO FRANCÊS: O TENENTE BLUEBERRY


AQUELE DISSOLUTO,
IRRESISTÍVEL “MIRTILO”






S
ão muitos a julgar "Blueberry" um dos melhores quadrinhos western da História, por mais de um motivo. A série estreia em 1963, no semanal francês "Pilote", com o título de "Fort Navajo".  Teatro da vicissitude é o habitual fortim nas quentes fronteiras do Sudoeste dos Estados Unidos, logo após a Guerra de Secessão. Soldados empoeirados, bandidos arrogantes, índios impenetráveis, cavalos, cactos, cânions. Porém, um dos personagens, o tenente Mike Steve Donovan, ex-sulista, apelidado jocosamente de Blueberry ("mirtilo"), mostra rapidamente aquele impalpável algo a mais que o fará o inevitável astro. Despenteado e briguento, fumante, beberrão, jogador, galante apreciador do belo sexo, permanece impresso na mente dos leitores também por um motivo mais exterior: as suas feições reproduzem aquelas do simpático ator Jean-Paul Belmondo. Mas tudo isso, naturalmente, não basta. 


Os textos de Jean-Michel Charlier, bem construídos e documentados, se fazem rápido apaixonantes, enquanto o poder de fascinação das imagens assinadas pelo jovem Jean Giraud, discípulo prodígio de Jijé, cresce de episódio em episódio. Inspirando-se nas atmosferas dos filmes de Sergio Leone e de Sam Peckinpah, Gir interpreta, como verdadeiro diretor, os roteiros, dispondo os quadrinhos em sequência que dilatam ou aceleram os tempos narrativos e, sobretudo, tendo sempre em relação os personagens com a paisagem circundante, com o tempo atmosférico, com as diversas horas da jornada.




À morte de Charlier, ocorrida em 1989, Gir prossegue sozinho a saga de Blueberry, e dos seus amigos e inimigos, que ainda goza de um imudável sucesso (basta pensar que o último episódio saiu em pré-lançamento, em capítulos, no renomado cotidiano "Le Monde"). Uma paralela série secundária nos leva aos anos da dissoluta juventude, com François Corteggiani nos textos e Colin Wilson nos desenhos.


 Com o seu físico musculoso e “marcado” e o seu
 caráter irremediavelmente desenvolto e
 anticonformista, o “Blueberry”, de Jean-Michel
 Charlier e Jean Giraud, está na pista desde 1963.




Fonte: Una star francese: il Tenente Blueberry, artigo que integra Al galoppo intorno al mondo, de Ferruccio Giromini, capítulo 2 de “Le Frontiere di carta. Piccola storia del western a fumetti”, livro anexado a “Tex” nº 455, setembro de 1998, em comemoração aos 50 anos de Tex, publicado por Sergio Bonelli Editore S.p.A., Milano, Itália.

© Sergio Bonelli Editore 1998

N. C.:
1) O capítulo Al galoppo intorno al mondo traz em sua página de apresentação a capa de "Le Cavalier perdu" ("O Cavaleiro Perdido"), volume 4 da série “Blueberry”, de Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, e quarto álbum do ciclo Forte Navajo. As Primeiras Guerras Indígenas.
2) As imagens blueberryanas que ilustram o artigo foram extraídas de "La Tribu fantôme" ("A Tribo Fantasma"), volume 20 da série “Blueberry”, de Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, e terceiro álbum do Ciclo do Segundo Complô contra Grant – Parte 1. O Crepúsculo da Nação Apache.
3) A história "Ombres sur Tombstone" ("Sombras sobre Tombstone"), antes do lançamento, foi publicado, em capítulos, no jornal francês "Le Monde". Tal fato também aconteceu com a história "OK Corral" (“OK Corral”), que saiu no quotidiano "L’Express".

Fontes das imagens: Afrânio Braga: Página de apresentação, traduzida do italiano para o português, do capítulo Al galoppo intorno al mondo – Ao Galope Entorno do Mundo. Jean-Yves Brouard: os extratos do álbum “La Tribu fantôme” – prancha 15, quadrinho 2: Blueberry, disfarçado de soldado, persegue o sargento Dougherty, que dispara contra ele; prancha 9, quadrinho 1: Cochise considera Tsi-Na-Pah como um filho; Chini, filha de sangue do chefe apache chiricahua, acha que está tudo perdido para a tribo; prancha 11, quadrinho 3: quatro patrulhas e um mensageiro solitário, o sargento Dougherty, saem do forte da Reserva Indígena San Carlos, no Arizona. Agradecimento a JYB pelas imagens das pranchas de “La Tribu fantôme”.


Na comemoração do cinquentenário de Tex Willer, o seu irmão francês não poderia faltar: Mike Steve Donovan, aliás, Mike Blueberry - também chamado de Tsi-Na-Pah, “Nariz Partido”, pelos seus amigos e irmãos Apaches, devido ao seu nariz quebrado pelo General Dodge, ainda na juventude, durante a Guerra de Secessão.

Natural da Geórgia, Estado sulista, Blueberry lutou pelo Norte na Guerra de Secessão. Ele foi tenente, xerife, marshal, fora da lei e, atualmente, vive a sua aposentadoria militar em Tombstone, jogando pôquer, o seu passatempo predileto. O nosso herói, após tantas aventuras pelo Oeste - e também pelo México – estabeleceu residência na célebre cidade mineira do Arizona, onde, entre um charuto e um drinque, está nos braços da bela cantora-dançarina Dorée Malone.

Em meio aos eventos que causaram o famoso tiroteio entres os irmãos Earp e Doc Holliday, e os irmãos Clanton e Mc Lowery, Mike vive o seu mais denso, e tenso, ciclo de aventura, aquele do O.K. Corral, também chamado de ciclo Mister Blueberry e de ciclo Tombstone.

Os seus criadores, Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, dois dos mais renomados autores da Bande Dessinée francófona, se inspiraram no cinema para compor o personagem, tanto no visual, quanto nas narrativas. Blueberry é uma verdadeira Hollywood em quadrinhos e, no processo inverso, exportou para as telas o seu mais renomado ciclo, O Ouro da Sierra, baseado em uma história verídica ocorrida nos Montes da Superstição.

Rodeado por acontecimentos e personagens históricos, o ex-tenente, em Tombstone, parece não sentir falta de seus antigos companheiros de aventuras, Jimmy Mac Clure e Red Neck, que muito fazem rir e emocionar os leitores. Através desse bravo trio de parceiros, as narrativas repletas de reviravoltas e os desenhos com enquadramento cinematográfico legaram às paginas blueberryanas um dos mais nobres sentimentos: a amizade.

Afrânio Braga


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