UM ASTRO FRANCÊS: O TENENTE
BLUEBERRY
AQUELE
DISSOLUTO,
IRRESISTÍVEL
“MIRTILO”
S
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ão muitos a julgar "Blueberry" um dos melhores
quadrinhos western da História, por mais de um motivo. A série estreia em 1963,
no semanal francês "Pilote", com o título de "Fort
Navajo". Teatro
da vicissitude é o habitual fortim nas quentes fronteiras do Sudoeste dos
Estados Unidos, logo após a Guerra de Secessão. Soldados empoeirados, bandidos arrogantes,
índios impenetráveis, cavalos, cactos, cânions. Porém, um dos personagens, o
tenente Mike Steve Donovan, ex-sulista, apelidado jocosamente de Blueberry
("mirtilo"), mostra rapidamente aquele impalpável algo a mais que o
fará o inevitável astro. Despenteado e briguento, fumante, beberrão, jogador,
galante apreciador do belo sexo, permanece impresso na mente dos leitores
também por um motivo mais exterior: as suas feições reproduzem aquelas do
simpático ator Jean-Paul Belmondo. Mas tudo isso, naturalmente, não
basta.
Os textos de
Jean-Michel Charlier, bem construídos e documentados, se fazem rápido
apaixonantes, enquanto o poder de fascinação das imagens assinadas pelo jovem
Jean Giraud, discípulo prodígio de Jijé, cresce de episódio em episódio.
Inspirando-se nas atmosferas dos filmes de Sergio Leone e de Sam Peckinpah, Gir
interpreta, como verdadeiro diretor, os roteiros, dispondo os quadrinhos em sequência
que dilatam ou aceleram os tempos narrativos e, sobretudo, tendo sempre em
relação os personagens com a paisagem circundante, com o tempo atmosférico, com
as diversas horas da jornada.
À morte de
Charlier, ocorrida em 1989, Gir prossegue sozinho a saga de Blueberry, e dos
seus amigos e inimigos, que ainda goza de um imudável sucesso (basta pensar que
o último episódio saiu em pré-lançamento, em capítulos, no renomado cotidiano
"Le Monde"). Uma paralela série secundária nos leva aos anos da
dissoluta juventude, com François Corteggiani nos textos e Colin Wilson nos
desenhos.
Com o seu físico musculoso e “marcado” e o seu
caráter irremediavelmente desenvolto e
anticonformista, o “Blueberry”, de Jean-Michel
Charlier e Jean Giraud, está na pista desde
1963.
Fonte:
Una star francese: il Tenente Blueberry,
artigo que integra Al galoppo intorno al
mondo, de Ferruccio Giromini, capítulo 2 de “Le Frontiere di carta. Piccola
storia del western a fumetti”, livro anexado a “Tex” nº 455, setembro de 1998,
em comemoração aos 50 anos de Tex, publicado por Sergio Bonelli Editore S.p.A.,
Milano, Itália.
© Sergio
Bonelli Editore 1998
N. C.:
1) O capítulo Al galoppo intorno al mondo traz em sua página
de apresentação a capa de "Le Cavalier perdu" ("O Cavaleiro
Perdido"), volume 4 da série “Blueberry”, de Jean-Michel Charlier e Jean
Giraud, e quarto álbum do ciclo Forte Navajo. As Primeiras Guerras Indígenas.
2) As imagens blueberryanas
que ilustram o artigo foram extraídas de "La Tribu fantôme" ("A
Tribo Fantasma"), volume 20 da série “Blueberry”, de Jean-Michel Charlier
e Jean Giraud, e terceiro álbum do Ciclo do Segundo Complô contra Grant – Parte
1. O Crepúsculo da Nação Apache.
3) A história "Ombres
sur Tombstone" ("Sombras sobre Tombstone"), antes do lançamento,
foi publicado, em capítulos, no jornal francês "Le Monde". Tal fato
também aconteceu com a história "OK Corral" (“OK Corral”), que saiu
no quotidiano "L’Express".
Fontes
das imagens: Afrânio Braga: Página de apresentação, traduzida do italiano para
o português, do capítulo Al galoppo intorno
al mondo – Ao Galope Entorno do Mundo. Jean-Yves Brouard: os extratos do
álbum “La Tribu fantôme” – prancha 15, quadrinho 2: Blueberry, disfarçado de
soldado, persegue o sargento Dougherty, que dispara contra ele; prancha 9,
quadrinho 1: Cochise considera Tsi-Na-Pah como um filho; Chini, filha de sangue
do chefe apache chiricahua, acha que está tudo perdido para a tribo; prancha
11, quadrinho 3: quatro patrulhas e um mensageiro solitário, o sargento
Dougherty, saem do forte da Reserva Indígena San Carlos, no Arizona.
Agradecimento a JYB pelas imagens das pranchas de “La Tribu fantôme”.
Na
comemoração do cinquentenário de Tex Willer, o seu irmão francês não poderia
faltar: Mike Steve Donovan, aliás, Mike Blueberry - também chamado de Tsi-Na-Pah,
“Nariz Partido”, pelos seus amigos e irmãos Apaches, devido ao seu nariz
quebrado pelo General Dodge, ainda na juventude, durante a Guerra de Secessão.
Natural da Geórgia,
Estado sulista, Blueberry lutou pelo Norte na Guerra de Secessão. Ele foi tenente,
xerife, marshal, fora da lei e, atualmente, vive a sua aposentadoria militar em
Tombstone, jogando pôquer, o seu passatempo predileto. O nosso herói, após
tantas aventuras pelo Oeste - e também pelo México – estabeleceu residência na
célebre cidade mineira do Arizona, onde, entre um charuto e um drinque, está
nos braços da bela cantora-dançarina Dorée Malone.
Em meio aos
eventos que causaram o famoso tiroteio entres os irmãos Earp e Doc Holliday, e
os irmãos Clanton e Mc Lowery, Mike vive o seu mais denso, e tenso, ciclo de
aventura, aquele do O.K. Corral, também chamado de ciclo Mister Blueberry e de ciclo
Tombstone.
Os seus
criadores, Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, dois dos mais renomados autores
da Bande Dessinée francófona, se inspiraram no cinema para compor o personagem,
tanto no visual, quanto nas narrativas. Blueberry é uma verdadeira Hollywood em
quadrinhos e, no processo inverso, exportou para as telas o seu mais renomado
ciclo, O Ouro da Sierra, baseado em uma história verídica ocorrida nos Montes
da Superstição.
Rodeado por
acontecimentos e personagens históricos, o ex-tenente, em Tombstone, parece não
sentir falta de seus antigos companheiros de aventuras, Jimmy Mac Clure e Red
Neck, que muito fazem rir e emocionar os leitores. Através desse bravo trio de parceiros,
as narrativas repletas de reviravoltas e os desenhos com enquadramento
cinematográfico legaram às paginas blueberryanas um dos mais nobres
sentimentos: a amizade.
Afrânio Braga
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