Blueberry
e o amor
Em 1989, falece Jean-Michel Charlier, por cujo seja Gir como Blueberry devem tomar uma decisão
importante: o primeiro toma em mãos as rédeas da série para completar o roteiro
de “Arizona Love” deixado incompleto à página 22, enquanto o segundo,
dado baixa do exército, decide colocar ordem na própria vida e de contrair
núpcias com a sempre mais bela Chihuahua Pearl, a única mulher capaz de opor-lhe
resistência e que parece ter-lhe entrado no coração.
Então, nesse álbum de ruptura com a tradição aventurosa da
saga de Blueberry, cuja os dois
autores nos habituaram, prossegue a obra de humanização do personagem levada
adiante por Giraud. A longa saga
iniciou no distante 1963 e durou até 1990, ano de publicação desse volume,
através de 23 episódios e 5 editoras diferentes: Dargaud, Fleurus, Hachette, Novedi e Alpen Publishers!
Nessa narrativa, Mike
Blueberry não deve salvar nenhuma comunidade indígena, nem resolver
conflitos militares ou desvendar complôs aos danos do governo dos Estados
Unidos da América, mas, mais simplesmente, decide pensar em si mesmo interpondo-se,
ainda uma vez, entre a bela aventureira Chihuahua
Pearl e as suas núpcias com o rico Duke
Stanton, já encontrado em “La Tribu
fantôme”, tentando “salvá-la” de um matrimônio por interesse.
A
irrupção de Mike na igreja, para
interromper a cerimônia de núpcias entre a bela e Stanton, recorda muito aquele final do filme “Il Laureato”! (2) Depois do quê é um suceder-se de
perseguições e reviravoltas à Charlier.
Atraem a atenção do leitor as onipresentes rochas e cavernas, que fazem por
muda cenografia a uma noite de amor entre os dois.
2) “The Graduate” (“A Primeira Noite de um Homem”, título no
Brasil) é um filme estadunidense de 1967, uma comédia romântica dirigida por Mike Nichols e estrelada por Dustin Hoffman, Anne Bancroft e Katharine
Ross. Fonte: Wikipédia.
Que se trata de um episódio diverso do resto da
saga é demonstrado pela presença, pela primeira vez, das agradáveis formas do
nu de Pearl, de uma cena onírica
sonhada pelo bom Mike e pelo fato
que não há nenhum morto, não obstante repetidas cenas de violência.
Infelizmente, a cobiça por dinheiro da aventureira
leva a melhor sobre Cupido. No episódio há um frenético clima de contínuas
perseguições, de peça teatral à Feydeau (3), em cuja todos os protagonistas
se perseguem: Stanton persegue Mike, que raptou Pearl, Mike persegue Pearl, que lhe roubou o dinheiro do
tesouro de Vigo, o guarda-costas Traber persegue Pearl para roubá-la, por sua vez, o butim.
N. C.: 3) Georges
Léon Jules Marie Feydeau (1862 - 1921) foi um dramaturgo francês. Ficou particularmente famoso como autor de “Vaudeville”. Fonte: Wikipédia.
Os únicos a manter a calma, nesse clima frenético, são o
xerife e o seu jovem ajudante, e também com a ausência de Red Neck e Jimmy Mac Clure,
são os dois representantes da lei que asseguram, ao mesmo tempo, uma sutil veia
humorística em subfundo que torna agradável a leitura da narrativa. Neles se
podem entrever alguns arquétipos dos personagens criados para o ciclo
sucessivo.
A capa de Giraud
é copiada, ao contrário, do cartaz do célebre filme “...E o Vento Levou”, com Mike e Pearl ligados como Rhett Buttler (Clark Gable) e Scarlett O’Hara
(Vivien Leigh), talvez para sublinhar a ambientação de uma história rosa (4) no Oeste e de considerá-lo um episódio interlocutório entre os vários
ciclos de “Blueberry”. Somente que,
nesse caso, será a mulher a abandonar o homem e não vice-versa como no filme de
Victor Fleming. Ao desiludido Mirtilo
não resta que andar a atolar-se em uma cidade de fronteira, para esquecer a
única e esplêndida Pearl.
N. C.: 4) História rosa. Literatura. a) Romance
rosa, de natureza sentimental. Fonte: La Repubblica. b) Que assinala a presença
de mulheres, de argumento amoroso. Fonte: Corriere della Sera.
Em suma, o autor parece ter aplicado nesse caso quanto por
ele afirmado em uma entrevista com Numa
Sadoul (1981): “A história em
quadrinhos de aventuras ainda é cheia de novos interessantes argumentos por
encontrar com uma nova problemática: problemas financeiros, sentimentais,
sexuais, familiares, vida cotidiana, contexto político, projetos pessoais,
sonhos falecidos, etc., tudo isso pode ser integrado e formar uma trama
excitante.”.
Para a descrição, na primeira edição, a narrativa inicia com um
duplo erro de Charlier. O primeiro:
na última prancha de “Le Bout de la piste”,
no quadrinho 8, em cujo Blueberry decidiu
dirigir-se a Sacramento, Califórnia, para assistir às núpcias de Pearl, enquanto em “Arizona Love” a cerimônia se desenrola
em Tacoma, Novo México! O segundo erro é sobre as datas: o episódio atual se
desenrola em julho de 1889, enquanto naquele precedente os autores nos mostram
o presidente Grant durante uma campanha eleitoral para a reeleição, fato
histórico acontecido em 1872, e no quadrinho 9 da prancha 20 um jornal tem a
data de 1886! Essa, como outras datas, será retificada nas reedições
sucessivas.
23 – “Arizona Love”
Álbum
Alpen Publishers em 1990
“Arizona
Love”
“Il Grifo” do nº 5 de 1991 ao nº 9
de 1992, Editori del Grifo
(volume) “Nuova Mongolfiera” 48,
Editori del Grifo, 1993
(volume) Alessandro Editore, 2002
“Skorpio” do nº 22 ao nº 26 de
2012, Editoriale Aurea
Álbum “Blueberry” 12, Editoriale
Aurea, 2014
“Collana Western” 13, Gazzetta
dello Sport, 2014
Fonte:
Blog Zona BéDé, Itália.
Blueberry
e l’amore © Zona BéDé 2014
A série
“Blueberry” foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.
Blueberry ©
Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur
Afrânio Braga
Edições
do grupo Média-Participations na Livraria Amazon Brasil
Inigualable el Maestro Giraud...
ResponderExcluirNadie como el...