Blueberry
desenhado por Jean
Giraud. (1)
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BLUEBERRY
Outro rosto do
Blueberry de Jean Giraud, alguns anos
mais tarde. (2)
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Naquele tempo que
Jean-Michel Charlier se consagra mais e mais em “Pilote”, ele se impõe como um
narrador sem igual com suas séries realistas; sobretudo com “Blueberry”, um
western desenhado por Jean Giraud, a partir de 1963, que será um de seus
maiores sucessos: “Ao curso de minha
viagem, que ia chegar ao fim, por uma primeira volta ao mundo, via Taiti [cerca de abril de
1962], eu tinha descoberto a magia do
Oeste americano. Após a reportagem na base aérea de Edwards, no Nevada, eu
tenho tido vontade, porque era verdadeiramente a porta ao lado, de fazer uma
excursão ao Oeste. Eu tinha ficado literalmente deslumbrado! Eu que nunca tinha
considerado em minha vida de fazer uma história em quadrinhos western, eu tinha
regressado com o irreprimível desejo, precisamente, de escrever uma. Isso se
achava que alguns anos antes, Jean Giraud [o futuro Mœbius] veio me encontrar, me perguntando se eu não
queria lhe escrever um roteiro de western. Eu lhe havia respondido que isso não
era verdadeiramente meu negócio e que eu não tinha vontade de me lançar ali
dentro. Retornando dessa viagem, eu procurei um desenhista, esse era ele, e nós
temos começado “Blueberry”!”
1963 – A capa,
realizada por Jijé, para o primeiro
número de “Pilote” acolhendo Blueberry, ao
nº
210 de 31 de outubro.
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1965 – O
original da prancha 15 do episódio “Le
Cavalier perdu”.
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Essa
história é demais bela para ser esquecida..., Jean-Michel Charlier é tanto um
hábil contador de histórias que tomava algumas vezes das liberdades literárias
com os fatos! Certamente, nós o temos evocado já muitas vezes, ele havia
imaginado, bem antes dessa data, as histórias parecidas àquelas que ele contará
em “Fort Navajo”, o primeiro ciclo das aventuras de Blueberry: na novela “Fort
Cheyenne”, ilustrada por René Follet, em “Spirou”, em 1949 (existida quase
quinze anos antes), na aventura do cowboy Jim Flokers (com as ilustrações de
Albert Uderzo, em 1956), nas duas páginas sobre Cochise (ilustradas por Georges
Bourdin em “Jeannot”, em 1957), no romance folhetim “Tempête à l’Ouest” (ainda
os desenhos de Follet, em “Tintin”, entre 1958 e 1959), etc. Por outro lado,
foi mais certamente no retorno de sua segunda viagem aos EUA, sempre com seu
amigo, o doutor Juin, no começo do ano seguinte, que o estalo tem devido se
produzir, foi ali que ele realiza as reportagens sobre os índios, notadamente
nas aldeias secretas dos pueblos, etc.: “Não existe uma só história de
“Blueberry” que não seja diretamente inspirada de fatos reais. Existe sempre um
ponto de partida estritamente histórico em todas as minhas histórias. Em
“Blueberry”, os numerosos personagens secundários têm existido realmente. Eles
atravessam essa série com seu verdadeiro nome e no papel que eles têm
representado efetivamente na vida...”
1964 – A capa
de Jean Giraud para a “Pilote” nº
262 de 29 de outubro.
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“Eu
tenho uma memória que é um pouco como um coador. No primeiro álbum, Blueberry
se chamava Steve. Eu tenho esquecido esse prenome e, em seguida, eu o tenho
nominado Mike. Isso fez com que, para me recuperar dos brancos, eu tenho
colocado Mike Steve Blueberry; e, esse gênero de esquecimento, isso me tem
chegado frequentemente.”
Jean-Michel
Charlier caricaturado por
Jean Giraud.
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De
fato, é em primeiro lugar ao seu amigo Jijé, especialista do gênero, com sua
série “Jerry Spring” em “Spirou”, que Charlier se dirige para criar uma
história em quadrinhos western. Sobrecarregado de trabalho, Joseph Gillain lhe
aconselha bastante um de seus alunos, Jean Giraud, que tinha, certamente, já
solicitado o roteirista a esse assunto. O personagem era a antítese do militar
clássico, o desenhista o identifica ao ator Jean-Paul Belmondo, que dará mesmo
seu consentimento para que os autores se sirvam de seu rosto: “É verdade, a verdadeira série que
eu tenho feito um pouco em reação contra minhas outras séries militares, é
“Blueberry”. Um personagem, na medida onde ele tem um comportamento ou um
caráter particular, se encontra quase fatalmente conduzido rumo a certo
destino. É o caso de Blueberry, que é um mau soldado, que não ama o exército,
que ama muito os índios e que, de linha em agulha, se encontra levado nas
missões mais e mais destrambelhadas, em cujas ele se sai muito mal porque,
precisamente, ele é o bode expiatório perfeito.”
Continuando de “paternar” Jean Giraud, Jijé
vai intervir diversas vezes nos cinco primeiros episódios de “Blueberry”, cujo
título genérico fica “Fort Navajo”. A princípio, desenhando a primeira capa,
colocando em epígrafe essa série para “Pilote” (em outubro de 1963), depois
fazendo uma primeira substituição no episódio “Tonnerre à l’Ouest”, em 1964, no
momento em cujo o futuro Mœbius era partido ao México para ver sua mãe. No ano
seguinte, ele vai se ocupar da capa do primeiro álbum editado por Dargaud,
publicado no terceiro trimestre de 1965, e de mais vinte de vinte páginas de
“Le Cavalier perdu”. Entre as pranchas desenhadas por Jijé, para essa aventura,
duas haviam sido enviadas diretamente à gráfica. Ora, os correios as tem
extraviado e Jijé tem devido refazê-las com urgência. Sem lembrar-se
precisamente da sua primeira versão, ele vai reinterpretar o roteiro de
Charlier modificando os ângulos e simplificando o texto, certamente por
preocupação de rapidez. Essas pranchas não hão de ser perdidas para todo mundo,
pois, em maio de 2011, alguém tem descoberto que um colecionador tem comprado
uma dessas meia-pranchas por ocasião de uma venda nos leilões e que a outra foi
igualmente proposta no momento dessa remuneração. Elas haviam sido vendidas,
precedentemente, por ocasião de uma venda comum, em 2008, no Drouot, ao mesmo
tempo que o original da capa de “Le Cavalier perdu”.
As
primeiras versões das meia-pranchas 25a e 26b, do episódio
de “Blueberry”, “Le
Cavalier perdu”, desenhadas por Jijé.
1967 – A
prancha original da página 11 do álbum de “Blueberry”, “Le Cheval de fer”,
desenhada por Jean Giraud.
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1983 – Uma
ilustração para um portfólio
das edições Gentiane. (3)
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À
exceção dessa curta transição e da ajuda propiciada por Michel Rouge no
episódio “La Longue Marche”, em 1980, Jean Giraud desenhará, inteiramente,
vinte e três álbuns completos de “Blueberry” e três de “La Jeunesse de
Blueberry” escritos por Charlier, dando o melhor de si mesmo. O encontro
perfeito de um roteiro e de um desenho: “”Blueberry” é uma série um pouco
especial, pois, contrariamente às minhas outras histórias, é uma história em
quadrinhos que eu tenho concebido em seu conjunto, sobre uma duração de várias
dezenas de álbuns. Desde a estreia, de uma forma pouco detalhada evidentemente,
mas com muito de precisão, eu sabia bastante exatamente aquilo que havia de se
desenrolar, de álbum em álbum, na narrativa da vida de Blueberry. É tudo feito
em particular em relação às minhas outras séries, mas para o resto, é uma série
como as outras. Eu tenho evidentemente muito prazer em escrevê-la, mas ela não
me põe nem mais nem menos problemas que as outras.”
Mesmo se frequentemente ele tem acabado de
transformar os temas iniciais da série e de enriquecê-los de detalhes pessoais
que Jean-Michel Charlier integrava em seu roteiro, Jean Giraud reconhecia em
seu roteirista todas as qualidades de um muito bom profissional. Ele vai mesmo
declarar que “Charlier organiza as
existências, as dirigi a seu bel-prazer... Ele é Deus!” O ponto de vista do
roteirista clareia um pouco mais essa colaboração: ”Os desenhistas, com os quais eu
trabalho, interveem muito pouco na concepção dos roteiros. Bem entendido, eu os
submeto, mas é muito raro que eles me perguntem a menor mudança. Isso que se
resulta, às vezes, que Giraud me pergunta de prolongar um papel que eu tinha
concebido unicamente como secundário. O caso mais característico é aquele de
McClure (4) que devia aparecer durante quatro ou cinco pranchas, no máximo.
1974 – Um
retrato “à la Mœbius” de Blueberry por Jean Giraud para as páginas de guarda do
álbum “Ballade pour
un cercueil”.
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Giraud encontrou nele um psíquico todo
feito em particular e me tem comunicado parte de seu aborrecimento de não mais
revê-lo. De golpe, McClure é presente em todos os episódios. Ao contrário, eu
chego a intervir no trabalho dos desenhistas, sobretudo para bem explicar-lhes
aquilo que eu desejo que eles coloquem em tal ou tal quadrinho. Eu acompanho
minha descrição, que é muito detalhada, de um croqui que eu mesmo fiz. Isso não
é de tudo para intrometer sobre seu papel de colocar em cena, pois é preciso deixar-lhes
toda possibilidade de interpretar as coisas como eles sentem-nas, é
simplesmente para indicar-lhes aquilo que eles não devem omitir de fazer
figurar no desenho. Isso não ata os desenhistas, que concebem, em seguida, seus
desenhos como eles querem; é, geralmente, melhor do que aquilo que eu posso ter
imaginado. No entanto, aos desenhistas mais jovens, que começam a desenhar uma
série atrás de um predecessor, eu tenho devido sugerir de refazer certos
desenhos. Mesmo de frente a Giraud, eu tenho chegado a pedir-lhe de refazer uma
capa que eu não considerei boa. Mas isso é sempre passado muito amigavelmente. Bem
claro, eu reconheço-lhes, evidentemente, o direito de criticar meus roteiros e
de me pedir as mudanças se eles consideram-nas necessárias.”
Fonte:
RATIER, Gilles. Jean-Michel Charlier
vous raconte... Bègles, França: Le Castor Astral, 2013.
N.
C.:
1)
Desenho publicado em “Pilote” nº 305, 26 de agosto de 1965, na página dupla com
o artigo “Pilote” vous presente les
fameuses “Tuniques Bleues”, les intrépides compagnons de Blueberry et de Graig
– “Pilote” vos apresenta os famosos “Casacas Azuis”, os intrépidos companheiros
de Blueberry e de Graig -, em cujo foi incluído o anúncio da sequência do
episódio “Le Cavalier perdu”, que foi pré-publicado no revista semanal do nº
288, 29 de abril de 1965, ao nº 311, 7 de outubro de 1965, antes de ser lançado
em álbum, no primeiro trimestre de 1968, pela Dargaud Éditeur.
Jean
Giraud se inspirou no ator Troy Donahue, como o Tenente Matthew Hazard, no
cartaz do filme norte-americano "A Distant Trumpet" (“Um Clarim ao
Longe”, no Brasil; “A Carga da Brigada Azul”, em Portugal; “La Charge de la 8e
brigade”, na França), 1964, dirigido por Raoul Walsh, para uma ilustração do
Tenente Blueberry no anúncio, publicado em "Pilote" nº 305, 29 de
agosto de 1965, do episódio "Le Cavalier perdu" em curso na revista
semanal.
2) "Le Dernier Visage de Blueberry", serigrafia. Jean Giraud realizou essa ilustração, de Blueberry, inspirada no ator Charlton
Heston atuando em "Will Penny" ("E o Bravo Ficou Só",
1968), filme dirigido por Tom Gries.
3)
A ilustração, feita por Jean Giraud, com os três companheiros (da esquerda para
a direita: Red Neck, Blueberry e Jimmy McClure), extraída de "Portfolio
Blueberry", lançado pela Gentiane em 1983, teve como fotografia de
referência Don Terry, Lon Chaney Jr. e Noah Beery Jr. em "Overland Mail", seriado do estúdio Universal, de 1942, dirigido por Ford Beebe e John Rawlins.
4)
O velhote baixinho, barrigudo, beberrão, guia, garimpeiro e um dos companheiros
de aventuras de Blueberry, é mais conhecido por Jimmy McClure do que por Jim
McClure. Ao lado, o engraçado, atrapalhado e corajoso Jimmy por Jean Giraud.
5)
O fugitivo fora da lei Mike Blueberry entra uma isolada casa abandonada, em cuja
ele encontra uma antiga amiga, Guffie Palmer, no episódio “Le Hors la loi” (“O
Fora da Lei”) que foi pré-publicado em “Pilote”, com o título “L’Outlaw”, do nº
700 (5 de abril de 1973) ao nº 720 (23 de agosto de 1973) mais um anúncio no nº
699 (29 de março de 1973) e publicado em álbum, no 4º trimestre de 1974, por
Dargaud Éditeur.
Fontes
da imagens: BDzoom: o Tenente
Blueberry do anúncio em “Pilote” nº 305; as meia-pranchas 25a e 26b de “Le
Cavalier perdu”. Bedetheque:
Blueberry; prancha original da página 11 de “Le Cheval de fer”; Red Neck,
Blueberry e Jimmy McClure. BDklein:
capa de “Pilote” nº 210. Romitaman:
original da prancha 15 de “Le Cavalier perdu”. Adesso: capa de “Pilote” nº 262; anúncio de “Le Cavalier perdu” em
“Pilote” nº 305 e Blueberry nessa página dupla. Dargaud Éditeur: Blueberry e Jimmy em um cartão de votos para o ano
1967. Comic-historietas: Jean-Michel
Charlier por Jean Giraud. BDobliees:
capa de “Pilote” nº 453. Liberation
(foto: Éditions Le Castor Astral): quadrinho 6 da página 23 de “Blueberry”
“L’Outlaw” na página 46 de “Pilote” nº 709. Mister Jacq: Blueberry “à la Mœbius” por Jean Giraud; cartaz do
filme “La Charge de la 8e brigade”; Blueberry em “Pilote” nº 305; Blueberry-Will
Penny; Don Terry, Lon Chaney e Noah Beery Jr. Tearoomofdespair: Red Neck, Blueberry e Jimmy McClure. Thedailyomnivore: Jimmy Mc Clure.
Jean-Michel
vous raconte... © Gilles Ratier, Le Castor Astral 2013
Blueberry
© Jean-Michel Charlier, Jean Giraud, Dargaud Éditeur
Afrânio Braga
Achei lindo seu bllogger.
ResponderExcluirMuito importante e interessante.
Muito obrigado, Gisela Bezze!
ResponderExcluirAs suas palavras são gentis e incentivadoras para o blog, em cujo, para mim, é um prazer e uma honra escrever sobre Jean-Michel Charlier, o maior roteirista da História em Quadrinhos francófona, Jean Giraud, o maior desenhista de HQ de todos os tempos, o universo de Blueberry, um dos mais famosas personagens western da 9ª Arte, e o Velho Oeste americano, palco de tantas lendas, mitos e fatos históricas, os quais integram a História da humanidade.