Parte da capa de Blanc-Dumont do
álbum “Le Boucher
de Cincinnati”
de “La Jeunesse de Blueberry”.
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Dos
Hombres y un Destino. Entrevista a François Corteggiani y Michel Blanc-Dumont
Tebeosfera, Barcelona, Espanha, 9 de junho de 2014
Entrevista com François Corteggiani e Michel
Blanc-Dumont realizada por Yexus, em 12 de abril de 2013, durante o 31 Salón
Internacional del Cómic de Barcelona, Espanha.
DOIS HOMENS
E UM DESTINO
ENTREVISTA
COM FRANÇOIS CORTEGGIANI
E MICHEL BLANC-DUMONT
Michel Blanc-Dumont (esquerda) e François Corteggiani (direita) durante
a entrevista em Barcelona. Fotografias: Yexus.
Pelo quê
você pensa que Jean Giraud o elegeu para desenhar “A Juventude de Blueberry”?
Blanc-Dumont. Desafortunadamente, ele já não está aqui para
contestar essa pergunta. Pessoalmente, o conhecia desde algum tempo e o lia
desde que publicava em “Pilote”. Quando comecei meu western “Jonathan
Cartland”, Giraud gostava muito dele e inclusive me disse “vou deixar de
desenhar séries do Oeste, porque tu és muito bom”, o qual era excessivo, porque
ademais eu era pouco mais que um debutante. E depois, fomos nos vendo ao longo
dos anos...
Mas eu não sou um discípulo seu, não o copio,
sempre busquei meu próprio estilo. Porque desenhar um western como o fez
Giraud, que é tão importante, não tem sentido; eu tenho que encontrar meu
próprio universo no mundo do Oeste. De fato, tive que interromper “Jonathan
Cartland” por razões pessoais e, naquele momento, Corteggiani e Giraud me
propuseram a série. Creio que esse era meu destino.
Corteggiani. De
fato, Charlier me havia dito que se não tivesse conhecido Jean Giraud,
Blanc-Dumont teria feito Blueberry.
B.-D. Dargaud
editou, tempos atrás, um livro, “L’Univers de Blanc-Dumont”, em cujo haviam
contribuído muitos autores, e Charlier incluiu essa frase sem que eu soubesse.
Senhor
Corteggiani, o quê pensa que tem contribuído a esse personagem já clássico?
C. A
princípio foi um pouco difícil pôr-se à altura de um personagem tão famoso. Primeiro,
tentei ser como o roteirista anterior, mas, depois de oito álbuns, tenho
começado a incluir minha própria contribuição pessoal, sobretudo nos diálogos e
nas reflexões dos personagens. Porque o certo é que, nessa série, você é muito
livre, porém, na realidade, tem um compromisso.
Em quê
se diferencia de Charlier?
C. Baseamos-nos
na mesma documentação; Charlier havia escrito uma falsa biografia de Blueberry,
que posso seguir literalmente ou mudar até certo ponto, mas tenho que respeitar
uma série de datas, no desenvolvimento de sua juventude, até que se converte em
tenente.
Creio
que aqui os argumentos estão muito relacionados com fatos e personagens históricos,
não? Mais, inclusive, que na série principal.
C. É
normal, porque, assim como na idade adulta do personagem, Charlier podia
inventar muitas histórias, na época juvenil existe uma série de batalhas,
durante a Guerra de Secessão, que devem ser respeitadas. E, inclusive, no meu
último álbum, o Blueberry adulto rememora algumas de suas batalhas durante a
guerra civil.
Até que
ponto tem sido difícil manter seu próprio estilo e conservar a estética da
série?
B.-D. Não tem
sido difícil, é uma forma natural de desenhar, porque nunca tenho tentado copiar
o estilo de Giraud, creio que, de fato, ele elegeu a mim porque eu não tinha
feito um subproduto, porque nunca o tinha copiado. A primeira coisa que lhe
disse, quando me ofereceu a série, foi: “De acordo, mas não vou desenhar como
tu.”.
Por outra parte, tinha que ter em conta que Giraud,
na realidade, desenhou pouco de “A Juventude de Blueberry”, com relação ao
resto da série, e, além disso, o tinha feito com um desenho mais solto, menos
trabalhado, todo o qual me favoreceu na hora de inventar visualmente o
personagem, de criá-lo de uma maneira mais pessoal.
Tinha que ter em conta que Blueberry foi
evolucionando graficamente com o passar do tempo. Giraud, a princípio, o queria
desenhar com a cara de Jean-Paul Belmondo, mas não o conseguia, e seu rosto foi
mudando ao longo dos anos, mas aqueles dos secundários não. Esses sim, que
estão muito bem desenhados e muito definidos desde o princípio.
Não tem
pensado em entrelaçar mais “A Juventude de Blueberry” com aquilo já narrado na
série principal para reforçar a coerência do personagem?
C. Como
essas aventuras estão integradas em um período muito determinado, é difícil.
Mas eu, às vezes, me divirto recriando situações que são referências às suas
aventuras de adulto. Por exemplo, se encontra com um sargento, esse lhe fala do
apimentado das comidas mexicanas, e Blueberry diz: “A esse país eu não iria
jamais”, quando sabemos que grande parte de suas aventuras de adulto vão transcorrer
naquele lugar. É dizer, em ocasiões que evoco o futuro, mas o faço em tom de
humor.
Falemos
de “Jonathan Cartland”. Essa série contém ingredientes pouco habituais no
western: o elemento sobrenatural ou onírico, a magia...
B.-D. Sim. Não
era por ânsia de nos diferenciarmos, mas o certo é que contém esse tipo de
elementos inusitados. O western clássico é muito cartesiano. Como sempre, tenho
me interessado muito pela cultura indígena, se inicia a estudá-la, te dá conta
que nela todo o mundo dos sonhos tem esse aspecto fantástico, e, por isso, a
incluímos no relato.
Tampouco
é demasiado épico, é bem mais lírico e melancólico...
B.-D. Muito.
O roteirista, Laurence Harlé, que já morreu, tinha um temperamento melancólico,
era uma pessoa angustiada. Por essa razão não era fácil conviver com ele, ainda
que isso lhe contribuísse uma dimensão muito interessante. De fato, por causa
desse aspecto tão problemático, foi pelo que terminamos nos separando: por esse
caráter tão negativo.
Argumentalmente,
a série participava da corrente renovadora do western cinematográfico dos anos
setenta, não?
B.-D. Sim,
naquela época estávamos muito influenciados por filmes como “Mais Forte que a
Vingança”, “Um Homem Chamado Cavalo” e “Pequeno Grande Homem”, que se projetaram
quase ao mesmo tempo. Era o fim da Guerra do Vietnam, entre a juventude se
pousava uma crise de valores, e eu era jovem. Mas o western italiano, o cinema
de Sergio Leone, em mudança, nunca me tem agradado, porque sempre se baseia no
ódio e na vingança. Em minha opinião, o tema do Oeste tem que ser basicamente positivo,
e creio que esses filmes que tenho citado eram uma reação aos valores negativos
daquele cinema italiano.
Como
roteirista, você mantém uma mudança de registro constante. Como pode compaginar
temas e estilos tão diferentes?
C. Eu
tenho só uma profissão, a de contar histórias. Mas trabalhar para a Disney ou
no campo do humor ou no gênero realista é o quê me permite descansar umas das
outras. Também o mestre Greg, por exemplo, tinha distintos registros. Dá-te a
sensação de que tens diferentes vidas e também te permite introduzir o humor no
realismo.
Mas, em
geral, seus argumentos se desenrolam em séculos passados. É um preferência sua?
C. Sim.
Não me agrada o contemporâneo. Estou preparando também uma história que se
desenrola no futuro, mas a verdade é que o presente não me interessa.
No campo
da história em quadrinhos, por que pensam que são melhores os westerns europeus
que os norte-americanos?
C. Porque
os americanos não sabem explicar sua própria história.
B.-D. Para
eles, o western é uma obra de ficção e não uma obra histórica.
C. EC
Comics publicou, em “Two Fisted Tales”, algumas histórias, durante os anos
cinquenta, sobre a Guerra de Secessão, mas, em geral, não tem havido grandes
séries. O quê se tem publicado são pequenos cadernos, de vinte páginas, sobre
suas principais batalhas, mas com um tom muito didático. O cowboy mítico, os
vaqueiros que descrevem em suas histórias em quadrinhos, são como dos anos
cinquenta, muito de opereta. Também tem havido algo nas histórias em quadrinhos
da Marvel, mas eram justiceiros mascarados ao estilo de “O Cavaleiro
Solitário”, nunca eram de tipo realista. É a tradição do western americano, que,
sobretudo, se publica na imprensa diária, enquanto que na Europa temos a
tradição do álbum, que é como um livro, com o esquema de “esboço, nó e
desenlace”.
Quais
são seus projetos atuais?
C. O
próximo álbum de Blueberry se intitulará “O Comboio dos Banidos”. Já tenho
terminado o roteiro e Dumont o está desenhando. Os quatro álbuns seguintes tratarão
sobre Blueberry, que volta à Louisiana, porque resultará que a mãe de Blueberry
era uma mulata, filha do pirata Jean Lafitte.
As primeiras pranchas de “Le Convoi des bannis”, próximo álbum de “La
Jeunesse de Blueberry”.
Citação desse documento: Yexus; Corteggiani;
Blanc-Dumont (2014): “Dos Hombres y un Destino. Entrevista a François
Corteggiani y Michel Blanc-Dumont” em Tebeosfera 2ª Epoca 12, Barcelona:
Tebeosfera. Acessado no dia 08/06/2014, disponível na Internet em: http://www.tebeosfera.com/documentos/textos/
dos_hombres_y_un_destino_entrevista_a_francois_corteggiani_y_michel_blanc-dumont.html
© 2014 Yexus. Revisão de Alejandro Capelo, edição
de Félix López. Imagens obtidas de francois-corteggiani.com, dargaud.com e
bedetheque.com. Fotografias de Yexus.
© 2014 Os autores e editores das imagens expostas e
seus herdeiros legais. Utilizam-se das imagens unicamente com interesse
divulgativo e sem fins lucrativos. This is a website for the study of the
comics. No infringement intented.
Eu agradeço a Manuel
Barrero, Sevilha, Espanha, diretor de Tebeosfera e presidente da Asociación
Cultural Tebeosfera – ACyT, e a Yexus (Jesús García Sierra), Santander,
Cantábria, Espanha, teórico da história em quadrinhos santanderina, colaborador
de “El diario montañés”, coautor da revista anual “Viñetas de ayer y hoy” e
autor de monografias, entrevistas e artigos, pela permissão de traduzir e
publicar “Dos Hombres y un Destino. Entrevista a François Corteggiani y Michel
Blanc-Dumont” no blog Blueberry, uma Lenda do Oeste.
Afrânio Braga
Manaus, Amazonas, Brasil
10 de junho de 2014
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