HERÓIS
DO OESTE
BLUEBERRY
Rui Cunha
Entre muita gente, boa e má, com quem Tex Willer
se cruza nas suas aventuras pelo Oeste fora, nunca aconteceu ter-se cruzado com
Mike S. Donovan, também conhecido como Mike Steve Blueberry, ou Mike Blueberry,
ou apenas Blueberry, outro cowboy que, tal como Tex, viveu imensas aventuras no
mítico velho Oeste.
A série, imaginada por Jean-Michel Charlier e
Jean Giraud, desenhada por Giraud, transporta-nos para o Oeste Selvagem, que se
estende desde as pradarias dos Estados Unidos até ao Novo México, tudo
admiravelmente recriado, com todos os pormenores e as suas referências, algumas
delas históricas, como a Guerra de Secessão ou a construção do Caminho de Ferro.
As origens de Blueberry podem ser encontradas em
“Frank et Jeremie”, os primeiros trabalhos sobre temas do Oeste, desenhados por
Giraud quando ele tinha apenas 18 anos, para a revista “Far West” e na sua
colaboração, em 1961, com Jijé em “Jerry Spring”, que apareceu na revista franco-belga
“Spirou”.
Por volta de 1961-62, Jean Giraud, admirador da
obra de Jean-Michel Charlier, convidou-o para escrever os argumentos de uma
nova série sobre o Oeste para a revista “Pilote”. Charlier recusou, já que nunca
sentira grande empatia com o género. Mas, quando em 1963, a revista enviou
Jean-Michel Charlier para fazer uma reportagem à Base Aérea de Edwards, situada
no deserto do Mojave, na Califórnia, ele aproveitou a oportunidade para
descobrir o Oeste Americano. Encantado com tudo aquilo que viu, Charlier
regressou a França com uma enorme vontade de escrever sobre o Oeste. Começou
por convidar Jijé para desenhar a série, mas este, querendo evitar um conflito
de interesses, já que era um colaborador regular da revista “Spirou”, que era
concorrente direta da “Pilote”, recusou, mas o desenhador indicou o seu protegido,
Jean Giraud, como desenhador.
A primeira aventura de “Blueberry”, apareceu no
número da revista “Pilote” que foi publicada no dia 31 de Outubro de 1963.
Intitulada “Fort Navajo”, a história tinha 46 páginas que foram publicadas nos números
seguintes da revista. Nesta aventura, Blueberry é apenas uma de muitas personagens
que vão surgindo e é-nos apresentado como sendo uma espécie de vagabundo do Oeste:
jogador, batoteiro, rufia, que gosta de beber o seu copo de vez em quando, mas
que, ao longo do livro, vai mostrando um outro carácter que lhe trará coisas
boas, mas também alguns amargos de boca.
A personagem, segundo Charlier, foi inspirada na
aparência física do actor francês Jean–Paul Belmondo, cujo nome, “Blueberry”,
nasceu quando da sua viagem americana, a qual, foi feita na companhia de um
outro jornalista que adorava doce de mirtilo, a quem, Charlier, alcunhou de “Blueberry”
e “quando comecei a delinear a série e as
coisas a comporem-se, eu decidi usar a alcunha do meu amigo porque gostei dela e achava que era um nome engraçado… só não imaginava que se iria tornar tão popular, que iria tornar-se sinónimo da série e que ficaríamos presos a esse nome para sempre”.
Entre 1963 e 1973, as histórias de Blueberry eram
inicialmente publicadas na revista “Pilote”, antes de serem publicadas em
álbum. Até 1990 (altura em que a morte de Charlier, ocorrida em 1989, pareceu
que a série iria terminar), a lenda de Blueberry foi aumentando, assim como os
volumes da série. Artisticamente, a série variou muito para melhor. Num mesmo
álbum, paisagens de cortar a respiração contrastavam com grandes momentos de
acção, muito graças ao perfeccionismo que Giraud punha no seu trabalho.
Assistimos também, neste período criativo de
ambos os autores, a uma evolução da personagem que passa a ser uma espécie atípica
do Oeste: ele não é aquele homem da lei que vagueia de terra em terra à procura
dos vilões e confrontá-los com a justiça; nem é aquela personagem simpática (o
vulgar bom da fita) que chega à cidade, resolve os problemas, torna-se o novo
xerife e casa com a professora da escola; não! Em qualquer situação, ele pensa
naquilo que deve ser feito e faz o que tem a fazer.
O sucesso da série, assim como a evolução da
narrativa onde as pontas deixadas, propositadamente soltas, permitiram o desenvolvimento
da acção e a criação de novos títulos. Surgiram assim novos ciclos dentro da
mesma série: “Blueberry” (que se dividirá em dois sub-ciclos), “A Juventude de Blueberry”, “Marshall Blueberry” e “Mister Blueberry”, cada um deles situado em determinado período de tempo.
“A
Juventude de Blueberry”, funciona como
uma espécie de prequela de toda a série (apesar de se ter iniciado a sua publicação
na década de 70), a acção passa-se entre 1861 e 1864, traça os primeiros anos
de Blueberry, enquanto filho de um rico plantador do sul e as razões que o
levaram, durante a Guerra de Secessão Americana, a trocar os estados sulistas
pelos do norte e a tornar-se corneteiro no exército “Yankee” e narra também as
suas aventuras posteriores. Os primeiros esboços desta série apareceram na
revista “Super Pocket Pilote”, no final da década de 60. Mais tarde foram redesenhados
e coloridos para poderem aparecer no formato álbum.
“La
Jeunesse de Blueberry” – “A Juventude de Blueberry”, a primeira aventura do jovem Michael Steven Donovan, é publicada em 1975,
sob um argumento de J.-M. Charlier e o desenho de Jean Giraud. Nela assistimos a como o
jovem escolhe o nome “Blueberry” a partir dum arbusto de mirtilo que vê quando
foge dos seus compatriotas. Mantendo duas séries em paralelo, ao longo das duas
décadas, “Blueberry” foi adquirindo o seu espaço dentro do universo da BD.
Tex também, em algumas das suas muitas aventuras,
se viu envolvido em acontecimentos que, directa ou indirectamente, se relacionavam
com a famigerada Guerra de Secessão que assolou os Estados Unidos entre 1861 e
1864, como por exemplo na história que começa com “Entre Duas Bandeiras” (revista nº53) e
termina com “A Batalha Sangrenta” (revista nº55).
A 10 de Junho de 1989, J.-M. Charlier morre,
deixando vários argumentos escritos para obras posteriores de Blueberry. O
último álbum da juventude que teve um argumento seu, apesar de parcialmente
completado por François Corteggiani, foi “Le Raid Infernal” – “O Raid Infernal” (1990).
Em termos de arte, Jean Giraud desenhou os três
primeiros álbuns da série da juventude. Alegando querer focar-se somente na
série principal e também explorar diferentes caminhos da BD através de Moebius,
o seu pseudônimo criado exclusivamente para isso, Giraud, a partir do quarto
álbum, “Les Démons du Missouri” –“Os Demónios do
Missouri” (1985), passa o pincel a Colin Wilson, desenhador
Neo-Zelandês, que além de outros trabalhos de BD, desenhou “O Último Rebelde”, uma
aventura de Tex, com argumento de Claudio Nizzi, em que o ranger, juntamente
com o seu inseparável companheiro, Kit Carson, vai tentar neutralizar um
exército de confederados que recusam aceitar o final da guerra. A dupla
François Corteggiani e Colin Wilson irá desenvolver o passado de Blueberry nos álbuns
seguintes. Em 1998, por querer dedicar-se a uma BD própria, porque Blueberry
não lhe dava espaço criativo suficiente, Colin Wilson sai da série e foi substituído
por Michel Blanc-Dumont, o criador da série “Jonathan Cartland”, passada no
Oeste americano, em “La Solution Pinkerton”, o décimo álbum da juventude e daqui para a frente tem desenhado as
aventuras todas, sempre com argumento de François Corteggiani.
A série principal de Blueberry, quase integralmente
feita pela dupla J.-M. Charlier e Jean Giraud, é a mais longa e compreende três
ciclos passados em distintos períodos da história: “Blueberry”, “Marshall Blueberry”
e “Mister Blueberry”. A série “Blueberry”, cuja acção se situa, num primeiro
momento entre 1867 e 1868 e num segundo momento, entre 1869 e 1881, compreende
dois ciclos e dois subciclos: Os ciclos são “Forte Navajo”, que começa no álbum
“Forte Navajo” (1963) e termina no álbum “La Piste des Navajos” – “Na Pista dos
Navajos” (1968), compreende os cinco primeiros álbuns publicados e nos quais
Blueberry, com a patente deTenente, é colocado no Forte Navajo, que fica no
limite do território de domínio branco. Com a ajuda de Jim McClure, um velho
mineiro bêbado, que se vai tornar num dos seus companheiros em futuras aventuras,
tenta impedir que aconteça uma guerra entre brancos e índios. Segue-se o
primeiro sub-ciclo, que se pode intitular “Xerife Blueberry”, que compreende
três álbuns. Começa com “L'Homme à l'étoile d'argent” – “O Homem da Estrela de
Prata”(1969), onde Blueberry é recrutado pela população da cidade de Silver
Creek para ocupar o lugar de Xerife, deixado vago pelo assassínio do anterior homem
da lei da cidade às mãos dum grupo de cowboys que querem dominar a cidade. É
uma das melhores aventuras de Blueberry, não só porque ficamos a conhecer uma
faceta ainda desconhecida do militar, como também, este álbum acaba por ser uma
grande e justa homenagem dos autores, principalmente de Charlier, a um dos
melhores westerns do cinema, “Rio Bravo” que Howard Hawks realizou em 1959, 10
anos antes da publicação desta história.
Também a Tex, a posição de homem da lei não é
estranha já que grande parte da sua vida aventurosa foi passada como Ranger do
Texas, a defender a lei e a Justiça tal como se vê na história “O Xerife Tex” (revista
“Tex Férias” nº11).
O sub-ciclo termina com “O Espectro das Balas de
Ouro” (1972) e não deixa de ser curioso que, tal como Howard Hawks fez uma
trilogia dedicada à figura do xerife, realizando “El Dorado”, em 1966 e “Rio Lobo”
em 1970, Charlier também o fez neste sub-ciclo de três álbuns, a que se junta “A
Mina do Alemão Perdido” (1972). Aqui também Tex andou metido em sarilhos parecidos
como se pode constatar em “A Mina do Fantasma” (revista nº394) e “As Montanhas
Malditas” (revista nº395).
Blueberry e Tex, desenhados por Colin
Wilson.
A
imagem em que se inspirou Giraud para o seu “Blueberry. L'Homme à
l'étoile
d'argent” – “O Homem da
Estrela de Prata” (1969), é um fotograma
de
“Night Moon” (“O
comboio apitou três vezes”) com Gay Cooper, que
Fred
Zinnerman realizou em 1952. Aurelio Galleppini utilizaria a imagem
(invertida)
do cartaz do filme “Hondo”,
de 1953, realizado por John Farrow,
com
John Wayne, como modelo para a capa de “Una Stella per Tex”
(“Tex
Gigante” 2ª serie nº 181, de 1975), que seria mais tarde motivo
para
um desenho de Claudio Villa, em homenagem a Galleppini.
Em 1866, depois da Guerra de Secessão
de má memória, uma epopeia fantástica anima os Estados Unidos: a construção do caminho-de-ferro
que irá ligar o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, através de todo o
continente. Duas companhias rivais são encarregadas de fazer a obra: a “Union Pacific”
que parte do Leste e a “Central Pacific” que parte da costa Oeste. As duas linhas
avançam uma em direcção à outra e as duas companhias rivais querem chegar
primeiro que a outra e não olham a meios para conseguir o seu objectivo. É esta
a ideia que predomina no segundo sub-ciclo de Blueberry, que se chama “Saga do Caminho-de-Ferro”.
São quatro álbuns que começam com “Le Cheval de Fer” – “O Cavalo de Ferro”
(1970) e termina com “Général Tête Jaune” – “O General Cabeça Amarela” (1971) e
é uma das aventuras mais emocionantes de toda a série, não só por ser baseada
em factos reais (a construção do caminho de ferro, as guerras com os índios),
com personagens reais (como o general Dodge), grande sentido de acção e
qualidade nas personagens secundárias (como Jethro “Steelfingers”), mas também
no modo como transforma o comboio e a linha em construção nas personagens
principais, relegando para segundo plano o ser humano. De salientar que é em “O
Cavalo de Ferro” que surge a personagem de “Red Neck Wooley”, o pisteiro que se
junta a Blueberry e a McClure e ainda participará noutras aventuras.
O segundo ciclo da série decorre
entre 1869 e 1881. Compreende onze álbuns que formam uma saga que a torna a
mais longa da série, à qual se pode chamar “Saga da Perseguição” e será
novamente dividida em dois sub-ciclos. O primeiro, intitulado “Caça ao tesouro
sulista” (título da minha responsabilidade), tem “Chihuahua Pearl” (1973) como
primeiro álbum e desenvolve-se ao longo de mais quatro álbuns terminando com
“Angel face” (1975). Ao longo deste sub-ciclo, Blueberry volta a reencontrar
velhos amigos, como Guffie Palmer, a dona dum bordel em “O Cavalo de Ferro” e
também o General Allister, um velho inimigo. Esta aventura começa com a
descoberta do cadáver de um homem que tem na sua posse uma carta dirigida ao presidente
dos Estados Unidos, Ulysses S. Grant e levará Blueberry e os seus companheiros
até ao México em busca de um antigo oficial sulista.
O oficial em questão é o único a
saber da localização dum tesouro confederado escondido, pelo presidente
Jefferson Davis, nos últimos dias da Guerra de Secessão, cujo valor ascende a
mais de 500.000 dólares. O problema é que o militar se encontra preso e doente
numa prisão mexicana e ninguém sabe quem ele é. Mas o enredo ainda se complica
mais quando, no regresso da sua missão, Blueberry se vê acusado de roubo e cai,
literalmente, no meio duma conspiração para assassinar o presidente Grant.
Os dois últimos álbuns deste
sub-ciclo , “Le Hors-la-loi” – “O Fora-da-Lei” e “Angel Face” ligam
directamente ao segundo subciclo desta série que se pode intitular “Blueberry
fugitivo” (uma vez mais, o título é da minha responsabilidade). O sub-ciclo,
composto por seis álbuns, começa com “Nez Cassé”- “Nariz Partido” (1980) e
termina com “Arizona Love” (1990) que foi também o último argumento escrito por
Charlier.
Blueberry é considerado um traidor e acusado
de tentar matar o presidente Grant. Para escapar aos militares e ao pelotão de
fuzilamento que certamente o aguarda, vê-se obrigado a fugir e encontrar refúgio
junto daqueles que já combateu no passado e que o consideram como um bravo: os
índios Apaches chefiados por Cochise, outra personagem verídica do Oeste que já
apareceu em outras aventuras, onde assume o nome de “Tsi-Na-Pah”, que quer
dizer “Nariz Partido”. Eventualmente, Blueberry acabará por se entregar às
autoridades em troca da vida de Chini, a filha de Cochise, que se encontra nas
mãos dos brancos. Sabe que será condenado, mas ainda não jogou a sua última
cartada, nem se livrou de alguns dos seus inimigos de outras aventuras.
Como sempre acontece, todo o bom
herói passa a vida metido em sarilhos e alguns deles bastante graves,
principalmente quando são os poderes instituídos que correm perigo. Assim, tal
como Blueberry se viu metido numa conspiração para assassinar o presidente
Grant, também Tex se vê metido numa alhada parecida que se estende por quatro
revistas e que começa em “O Grande Golpe” (nº107), continua em “Em Nome da Lei”
(nº108) e em “A Cela da Morte” (nº109) e só termina em “A Sombra do Patíbulo”
(nº110).
O chefe Cochise também surge em destaque
numa aventura de Tex, com o título de “Arizona em Chamas”, escrita por Claudio
Nizzi e desenhada por Victor De La Fuente. Nela, os nossos heróis vêem-se a
braços com um grupo de Voluntários do Arizona que querem expulsar os índios das
suas terras e para isso não hesitam em exterminar todos aqueles que encontram.
Curiosamente, tanto Blueberry, como
Tex, são amigos dos índios e defendem-nos quando é preciso. Tex, a dada altura
da sua vida aventurosa, refugia-se no meio dos índios Navajos, assume o nome da
“Águia da Noite”, casa com uma índia, filha do chefe da tribo, de nome
“Lilyth”, tem um filho, “Kit Willer” (cujo nome índio é Falcão Pequeno) e, além
de Kit Carson (nome inspirado no pioneiro do Oeste com o mesmo nome), tem
também como companheiro em inúmeras aventuras, “Jack Tigre”, um índio Navajo.
O Cochise de Giraud e o de
Lètteri.
No início da década de 90, a série
principal sofre uma interrupção que permitiu a Jean Giraud, agora também
argumentista, desenvolver outra variante
na personagem e criar um novo ciclo dentro da série que se chama “Marshall
Blueberry”, cuja acção se situa em 1868, pouco depois dos acontecimentos
narrados em “O General Cabeça Amarela”. Blueberry está novamente colocado no
Forte Navajo, onde os colonos das novas terras se refugiam
para fugir aos ataques e consequente extermínio levado a cabo por um bando de
Apaches, chefiados por Chato, é-lhe pedido que intervenha junto do velho chefe
para se livrar do índio renegado antes que comece nova guerra com os índios. Ao
mesmo tempo um enviado de Washington pede ao militar que,
agindo com plenos poderes autorizados, ponha fim ao tráfico de armas que acontece no território. Este ciclo compreende três álbuns escritos por Giraud e os dois primeiros desenhados por William
Vance, autor de diversas bandas desenhadas nas quais se incluem “Bruno Brazil”
ou “XIII”, entre outras e o terceiro desenhado por Michel Rouge.
A partir de 1995, já com Jean Giraud a desenhar e
a escrever os argumentos, inicia-se o último ciclo da saga principal da série.
“Mister Blueberry”, assim se chama o ciclo, cuja acção decorre em 1881. Blueberry,
livre de todas as acusações que pendiam sobre si, demitiu-se do exército e foi
viver para Tombstone onde se dedica aos seus vícios pessoais: o álcool, o jogo
e, ocasionalmente, mulheres. Campbell, um escritor de Boston, e Billy, o seu
adjunto, vão até à cidade para o entrevistar sobre os acontecimentos em que o
ex-militar esteve envolvido, nomeadamente o ter salvo a vida ao presidente
Grant. Mas ainda não será desta vez que Blueberry poderá desfrutar da sua
“reforma” antecipada, pois o passado volta a vir ao seu encontro e desta vez
trará consequências graves.
Este ciclo, composto por cinco álbuns começa com
“Mister Blueberry” – “Mister Blueberry” (1995) e termina com “Dust” – “Dust” (2005).
Algures no meio, enquanto Blueberry jaz em perigo de vida por ter sido baleado,
relembra (numa série de flashbacks) um episódio ocorrido quando ele ainda era
um jovem tenente e se encontra a primeira vez com Gerónimo, o Apache.
No quarto álbum da saga, “Ok Corral” (2003),
Giraud, agarra no seu herói, levanta-o da cama, onde jazia a recuperar de
ferimentos, e coloca-o na pista de Dorée Malone, uma cantora de cabaré que o
vela durante a sua recuperação, mas que se encontra desaparecida e quase que o envolve
no famoso duelo que dá título ao álbum e homenageia um dos mais famosos
episódios da história do Oeste: o “Duelo de OK Corral”. Depois do cinema e da
televisão, foi a vez da banda desenhada homenagear este episódio famoso na história
do velho Oeste ocorrido em Tombstone, em 1881, entre os irmãos Earp, homens da
lei, “Doc” Holliday, jogador e amigo da família Earp e o bando da família
Clanton que, com a ajuda do misterioso e frio pistoleiro Johnny Ringo (outra
personagem verídica), que pretendia dominar a cidade e impor a sua lei à base
de armas.
Tex, se não passou por este famoso episódio do
Oeste, andou lá perto, pois as aventuras “Os Justiceiros de Vegas” (revista
nº501) e “Duelo no Sunset Corral” (revista nº502) são disso exemplo, até a capa
do nº 502, desenhada por Claudio Villa, é uma homenagem descarada ao episódio,
mas também às cenas que filmes como “My Darling Clementine” – “Paixão dos
Fortes” (John Ford, 1946), “Gunfight at the OK Corral” – “Duelo de Fogo” (John Sturges,
1957), “Tombstone” – “Tombstone” (George Pan Cosmatos, 1993) ou “Wyatt Earp” –
“Wyatt Earp” (Lawrence Kasdan, 1994) tão bem souberam reproduzir.
Blueberry, Tex e Carson, acompanhados
por Jean Giraud (sentado) e François
Corteggiani (em pé), numa homenagem de
Emanuele Barison, autor que
recentemente terminou uma aventura de Tex e que vai
ser publicada em breve.
Tex Willer visto por Jean Giraud num desenho feito
para Fabio Civitelli.
O último álbum da série, “Apaches” (2007), relata
o primeiro encontro entre o jovem tenente Blueberry e o chefe índio Gerónimo,
descrito por Blueberry ao escrivão de Boston durante os “flashbacks” que aparecem
nos cinco álbuns de “Mister Blueberry” e, sendo um álbum sozinho, podemos
encará-lo como uma espécie de história que Campbell poderá ter escrito depois
de ter entrevistado Blueberry. Cronologicamente poderemos situar este álbum e
considerá-lo como uma espécie de ligação entre o final da Guerra de Secessão,
descrita nos álbuns da juventude e “Forte Navajo”, o primeiro álbum da série
principal.
Jean “Moebius” Giraud faleceu a 10 de Março de 2012.
Para terminar, devo dizer que tenho pena que nem
Tex Willer nem Mike “Blueberry”, sendo contemporâneos um do outro, viveram
alguns episódios reais do Oeste, conheceram algumas das mais famosas personagens
que povoaram o velho Oeste, viveram entre os índios, foram ambos homens da lei,
nunca se tenham cruzado em nenhuma aventura um do outro.
A banda desenhada tem destas coisas!
© 2015 Clube Tex Portugal
Agradecimentos ao Clube Tex Portugal e a Rui Cunha pela gentil permissão
para publicar o artigo "Heróis do Oeste. Blueberry" no blogue Blueberry.
Afrânio Braga
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