sábado, 12 de julho de 2014

"Blueberry" nº 20 “La Tribu fantôme”

Capa, uma das reedições.


Prancha 1.


Prancha 2.


Prancha 3.


Prancha 4.


Prancha 5.


Contracapa.


Ficha técnica

“La Tribu fantôme”
“A Tribo Fantasma”
Roteiro: Jean-Michel Charlier
Desenhos e capa: Jean Giraud
Cores: Jean Giraud – 1ª edição francesa da Hachette (1)
Cores: Quadricromia – 2ª edição francesa da Hachette, 1ª e 2ª edição belga da Novedi (2), 3ª edição belga da Dupuis (3), 1ª edição francesa da Dargaud
Volume: 20
Ano de publicação: 1ª e 2ª edição: 1982 – Hachette e Novedi; 3ª edição: 1992 – Collection Repérages, Dupuis
Data de publicação por Dargaud: 1º de abril de 2003
Número de pranchas: 46
Gênero: Western
Preço: 11.99 €
Formato: 22,6x29,8 cm
Público: Todos os públicos – Família
Hachette, Paris, França
Novedi, Bélgica
Dupuis, Charleroi, Bélgica
Dargaud Éditeur, Paris, França

N. C.:
1) A editora Hachette integra o Hachette Livre, um grupo editorial francês sediado em Paris. Criado em 1826, por Louis Hachette, ela faz parte do Groupe Lagardère desde 1981.
2) A Novedi foi uma editora belga de histórias em quadrinhos, hoje desaparecida. Era uma pequena editora que, nos anos 1980, tem publicado alguns álbuns de séries de grande sucesso, de cujas muitas roteirizadas por Jean-Michel Charlier, como “Barbe-Rouge”, “Buck Danny”, “Blueberry” e “Tanguy et Laverdure”. Enquanto a Novedi assegurava a difusão das edições originais belgas (em língua francesa) desses álbuns, a Hachette fazia o mesmo para as edições originais francesas. Após a cessação de atividade da primeira e o encerramento do polo de história em quadrinhos da segunda, essas séries têm reintegrado o catálogo de outras editoras – Dargaud e Le Lombard, que têm prosseguido sem reeditar os álbuns daquele período; Dupuis tem-nos reeditados.
3) A Dupuis é uma editora belga de histórias em quadrinhos. A gráfica fundada em 1898, pelo impressor Jean Dupuis, se torna editora em 1922. Em 1985, a sociedade foi vendida ao Groupe Bruxelles Lambert, à Hachette e às Éditions Mondiales, que retoma a imprensa, enquanto o Group Bruxelles Lambert e a Hachette retomam a publicação e o audiovisual. Desde 2004, a Dupuis faz parte do Groupe Dargaud controlado por Média Participations.

Fonte: Wikipédia.



A capa da 1ª e da 2ª edição de “La Tribu fantôme”, publicada por Hachette, em 1982, na França.



A prancha 1 da 1ª edição da Hachette, a qual foi colorida por Jean Giraud.



A contracapa da 1ª e da 2ª edição da Hachette. O Tenente Blueberry inspirado, por Jean Giraud, no ator Jean-Paul Belmondo.



A capa da 1ª e da 2ª edição de “La Tribu fantôme”, publicada por Novedi, em 1982, em francês, na Bélgica. O sol está bem maior do que no desenho original de Jean Giraud.



A contracapa da 1ª e da 2ª edição da Novedi.



A capa da 3ª edição de “La Tribu fantôme”, publicada por Dupuis, em 1992, em francês, na Bélgica.


Terceiro e último álbum do ciclo do Segundo Complô contra Grant – parte 1. O Crepúsculo da Nação Apache (álbuns 18 a 20) - Arizona e Novo México. Outono e Inverno, 1871-72. Acontecimento histórico: Evasão de 300 Apaches rumo ao México. A tribo Apache foge de sua reserva. Devido a não renovação de contrato entre os autores e a Dargaud Éditeur, a primeira edição de "La Tribu fantôme" foi publicada por Hachette, na França, e por Novedi, em francês, na Bélgica, e o restante do ciclo, parte 2, respectivamente por Hachette, um álbum, e Novedi, um álbum; atualmente a Dargaud é detentora dos direitos de publicação de todos os álbuns das três séries blueberryanas – “Blueberry”, “La Jeunesse de Blueberry” e “Marshal Blueberry”. A capa de “La Tribu fantôme” ("A Tribo Fantasma") é considerada uma das mais belas das séries, em cuja estão Vittorio, Chini e os guerreiros que iriam libertar o restante da tribo confinada em uma reserva inóspita.

A Reserva de San Carlos, nos confins do Arizona e do Novo México, é um deserto selvagem, cercado de montanhas, isolado de tudo, escaldante no verão, gélido no inverno; um lugar mortal para Cochise, as mulheres, as crianças e os velhos Navajos – como os Apaches Chiricahuas são chamados nas aventuras de Tsi-Na-Pah -, que perecem de fome e frio, sob a intensa vigilância de um pelotão do 2° Regimento de Cavalaria.

Em Tucson, Arizona, as tropas do Coronel Drake se preparam para perseguir Blueberry e os Apaches fugitivos. Tsi-Na-Pah (apelido dado pelos índios a Blueberry e cujo significado é “Nariz Partido”, por causa do seu nariz quebrado), Vittorio, Chini e os guerreiros observam, das montanhas, o forte da reserva; Vittorio decide atacar, mas "Nariz Partido" planeja infiltrar Chini na aldeia junto à guarnição militar – a filha de Cochise consegue fazer isso.


Quadrinho 4 da prancha 12.


É noite. Um denso nevoeiro cai sobre o local. Tsi-Na-Pah e os Navajos se dirigem para resgatar a tribo, entretanto o Comandante, Major Rudensky, envia seis homens para vigiar o acampamento – um deles dará um toque de corneta para informar o forte que está tudo em ordem. Chini sai às escondidas e encontra Blueberry que, juntamente com os guerreiros, derruba os seis soldados, atingindo-os com pedras amarradas em pontas de flechas.

Tsi-Na-Pah e Cochise se reencontram, o velho chefe o considera um filho. Mike toca a corneta, a cada meia-hora, ludibriando os homens do forte. Cochise, Chini, Vittorio e toda a tribo fogem em meio ao nevoeiro e à ventania que começara a soprar – Blueberry segue com dois guerreiros para dar cobertura e os índios comentam que era magia de Manitu para proteger a tribo.


Detalhe do quadrinho 1 da prancha 20.


O General Miller chega com reforços para San Carlos. Blueberry intercepta o mensageiro, Sargento Dougherty – o corneteiro na aldeia da reserva – que ia avisar a coluna de Miller; deixa o sargento sob a guarda de Natcho e Chuka. Desde o acampamento Navajo que Blueberry está trajado de "Faca Comprida" – outro termo pelo qual os índios denominam os soldados do exército americano, juntamente com “Casaca Azul” - e desse modo adentra em Globe, da qual passa um telegrama falso para o Coronel Drake, em Tucson; o velho telegrafista envia a mensagem, reconhece o ex-Tenente e é imobilizado por esse – Mike danifica o equipamento.

No deserto, batedores do Exército encontram uma boneca navajo. Cochise, Vittorio, Chini e a tribo estão escondidos no alto de uma montanha. Em Pima, Drake, e o seu comando, acredita na falsa mensagem de Blueberry e prepara a partida – Mike enviara telegramas para Drake e Miller; Chini jogara a boneca propositalmente semeando uma pista falsa na direção oposta à fuga da tribo. Tsi-Na-Pah retorna para junto do prisioneiro, impede que Chuka o mate e diz que os três rumariam para Benson – Dougherty ouve mais uma pista falsa.

O plano de Blueberry dá certo, os soldados partem de Pima rumo ao sul. Eggskull ressurge, encontra Dougherty, o liberta e parte, sozinho, atrás de Blueberry, com um novo cão, Baal, que não era tão bom quanto Gog e Magog e não consegue seguir os truques feitos por Blueberry e os dois Navajos.

Tsi-Na-Pah acende uma grande fogueira em uma montanha próxima à Pima, em cuja os habitantes veem o sinal, entre os quais Eggskull, que acabara de chegar à cidade; e mais duas pessoas notam o clarão: Jimmy Mac Clure e Red Neck, que na manhã seguinte saem de Pima com gado e uma carroça cheia de mantimentos. Eggskull vê a partida dos companheiros de Blueberry, tenta avisar o xerife, discute com esse e acaba preso.

Duke Stanton, noivo de Lily Calloway (Chihuahua Pearl), incumbira Wild Bill Hicock de organizar uma milícia para capturar Blueberry. Tsi-Na-Pah reencontra Chini, Cochise e a tribo faminta. Eggskull volta ao encalço dos fugitivos. O General Miller e o Coronel Drake descobrem que foram enganados, assim o exército desiste da perseguição.

Eggskull, escondido, vê Jimmy e Red Neck, que rumavam para Silver City; segue os dois e nota que entraram no banco – a dupla tinha ido vender prata e turquesas para gerar dinheiro para as provisões – todavia, um facínora também percebera a grande soma arrecadada. O bandido reúne quatro comparsas e, fora da cidade, assalta os dois parceiros – Jimmy sonhava, como sempre, com uísque, dessa vez era bebê com a sua mãe dando uma garrafa, ao invés da mamadeira – Red Neck joga o saco de dinheiro no chefe do bando fazendo o lenço cair e descobrir o rosto; devido a isso, os ladrões decidem matar os dois companheiros, mas Eggskull abate dois bandidos, deixando escapar, intencionalmente, aquele que estava com o dinheiro, para tirar os mantimentos de Blueberry e os Navajos.


Quadrinho 5 da prancha 39.


Red Neck e Jimmy terminam brigando – trocam socos e caem ao solo – depois seguem, revezando o cavalo, para o local combinado, Deer Creek, sendo seguidos por Eggskull e Baal, que encontram a Tribo Fantasma. Tsi-Na-Pah e os seus companheiros vão em direção à fronteira mexicana; Eggskull galopa rumo aos trilhos da Southern Pacific, porém é visto por Red Neck e Jimmy - chegando à ferrovia, Eggskull atira nos fios do telégrafo para atrair Hicock e o comboio, e consegue o desejado.

Jimmy retorna para avisar Mike, Red Neck presencia o reencontro de Eggskull e Hicock e percebe que não será possível os Navajos avançarem. Cochise passa o bastão de comando para Vittorio e parte com os velhos a cavalo, que batem com lanças nos trilhos causando a impressão que a tribo estava cruzando a linha férrea naquele trecho. Hicock, Eggskull e os homens se deslocam para o local. Cochise, na fuga da tribo, cai do cavalo; decide ficar sozinho para combater – os perseguidores o encontram morto, com um rifle entre os braços, encostado no tronco de uma árvore caída.

A Tribo Fantasma se aproxima das Montanhas Cedar, na fronteira com o México. Blueberry e os seus companheiros preparam uma cilada para Hicock, pois seriam alcançados por esse. Cavalos tropeçam nas cordas entendidas, explosões e ataque dos Navajos auxiliados pelos três companheiros fazem com quê a coluna de Hicock bata em retirada. Eggskull morre esmagado pelas montarias de seus comparsas; Jimmy mata o seu cão, Baal. Após cinco horas de cavalgada, através do Canyon Cobro, a tribo chega ao México.

Chini pede para Tsi-Na-Pah ficar, esse responde que precisa encontrar Vigo e deseja que ela seja feliz ao lado de Vittorio. Blueberry também adentra no México, em outra direção, e Jimmy e Red Neck, dessa vez, se negam a deixá-lo.

Fontes das imagens: Dargaud Éditeur: capa de uma das reedições, pranchas 1 a 5. Bedetheque: contracapa da edição da Dargaud, capa e contracapa da 1ª e da 2ª edição da Hachette, prancha 1 da 1ª edição da Hachette, capa e contracapa da 1ª e 2ª edição da Novedi, capa da 3ª edição da Dupuis. Mister Jacq: quadrinho 4 da prancha 12, quadrinho 5 da prancha 39, ilustração publicada na capa. Lesbddetito: detalhe do quadrinho 1 da prancha 20.

A série "Blueberry" foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.
Blueberry nº 20 La Tribu fantôme © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Hachette 1982
Blueberry nº 20 La Tribu fantôme © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Novedi 1982
Blueberry nº 20 La Tribu fantôme © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dupuis 1992
Blueberry nº 20 La Tribu fantôme © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud 2003
Blueberry © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur

Afrânio Braga

Edições do grupo Média-Participations na Livraria Amazon Brasil





Blueberry e Chini por Gir, 2005.
Publicado em "Jean Giraud Moebius", Millon & Associés, 2007.




quinta-feira, 3 de julho de 2014

Dois Homens e um Destino. Entrevista com François Corteggiani e Michel Blanc-Dumont

Parte da capa de Blanc-Dumont do 
álbum “Le Boucher de Cincinnati” 
de “La Jeunesse de Blueberry”.
Dos Hombres y un Destino. Entrevista a François Corteggiani y Michel Blanc-Dumont

Tebeosfera, Barcelona, Espanha, 9 de junho de 2014





Entrevista com François Corteggiani e Michel Blanc-Dumont realizada por Yexus, em 12 de abril de 2013, durante o 31 Salón Internacional del Cómic de Barcelona, Espanha.


DOIS HOMENS E UM DESTINO
ENTREVISTA COM FRANÇOIS CORTEGGIANI 
E MICHEL BLANC-DUMONT


 

Michel Blanc-Dumont (esquerda) e François Corteggiani (direita) durante a entrevista em Barcelona. Fotografias: Yexus.


Pelo quê você pensa que Jean Giraud o elegeu para desenhar “A Juventude de Blueberry”?

Blanc-Dumont.  Desafortunadamente, ele já não está aqui para contestar essa pergunta. Pessoalmente, o conhecia desde algum tempo e o lia desde que publicava em “Pilote”. Quando comecei meu western “Jonathan Cartland”, Giraud gostava muito dele e inclusive me disse “vou deixar de desenhar séries do Oeste, porque tu és muito bom”, o qual era excessivo, porque ademais eu era pouco mais que um debutante. E depois, fomos nos vendo ao longo dos anos...

Mas eu não sou um discípulo seu, não o copio, sempre busquei meu próprio estilo. Porque desenhar um western como o fez Giraud, que é tão importante, não tem sentido; eu tenho que encontrar meu próprio universo no mundo do Oeste. De fato, tive que interromper “Jonathan Cartland” por razões pessoais e, naquele momento, Corteggiani e Giraud me propuseram a série. Creio que esse era meu destino.

Corteggiani. De fato, Charlier me havia dito que se não tivesse conhecido Jean Giraud, Blanc-Dumont teria feito Blueberry.

B.-D. Dargaud editou, tempos atrás, um livro, “L’Univers de Blanc-Dumont”, em cujo haviam contribuído muitos autores, e Charlier incluiu essa frase sem que eu soubesse.




Senhor Corteggiani, o quê pensa que tem contribuído a esse personagem já clássico?

C. A princípio foi um pouco difícil pôr-se à altura de um personagem tão famoso. Primeiro, tentei ser como o roteirista anterior, mas, depois de oito álbuns, tenho começado a incluir minha própria contribuição pessoal, sobretudo nos diálogos e nas reflexões dos personagens. Porque o certo é que, nessa série, você é muito livre, porém, na realidade, tem um compromisso.


Em quê se diferencia de Charlier?

C. Baseamos-nos na mesma documentação; Charlier havia escrito uma falsa biografia de Blueberry, que posso seguir literalmente ou mudar até certo ponto, mas tenho que respeitar uma série de datas, no desenvolvimento de sua juventude, até que se converte em tenente.


Creio que aqui os argumentos estão muito relacionados com fatos e personagens históricos, não? Mais, inclusive, que na série principal.

C. É normal, porque, assim como na idade adulta do personagem, Charlier podia inventar muitas histórias, na época juvenil existe uma série de batalhas, durante a Guerra de Secessão, que devem ser respeitadas. E, inclusive, no meu último álbum, o Blueberry adulto rememora algumas de suas batalhas durante a guerra civil.


 


Até que ponto tem sido difícil manter seu próprio estilo e conservar a estética da série?

B.-D. Não tem sido difícil, é uma forma natural de desenhar, porque nunca tenho tentado copiar o estilo de Giraud, creio que, de fato, ele elegeu a mim porque eu não tinha feito um subproduto, porque nunca o tinha copiado. A primeira coisa que lhe disse, quando me ofereceu a série, foi: “De acordo, mas não vou desenhar como tu.”.

Por outra parte, tinha que ter em conta que Giraud, na realidade, desenhou pouco de “A Juventude de Blueberry”, com relação ao resto da série, e, além disso, o tinha feito com um desenho mais solto, menos trabalhado, todo o qual me favoreceu na hora de inventar visualmente o personagem, de criá-lo de uma maneira mais pessoal.

Tinha que ter em conta que Blueberry foi evolucionando graficamente com o passar do tempo. Giraud, a princípio, o queria desenhar com a cara de Jean-Paul Belmondo, mas não o conseguia, e seu rosto foi mudando ao longo dos anos, mas aqueles dos secundários não. Esses sim, que estão muito bem desenhados e muito definidos desde o princípio.


Não tem pensado em entrelaçar mais “A Juventude de Blueberry” com aquilo já narrado na série principal para reforçar a coerência do personagem?

C. Como essas aventuras estão integradas em um período muito determinado, é difícil. Mas eu, às vezes, me divirto recriando situações que são referências às suas aventuras de adulto. Por exemplo, se encontra com um sargento, esse lhe fala do apimentado das comidas mexicanas, e Blueberry diz: “A esse país eu não iria jamais”, quando sabemos que grande parte de suas aventuras de adulto vão transcorrer naquele lugar. É dizer, em ocasiões que evoco o futuro, mas o faço em tom de humor.


Falemos de “Jonathan Cartland”. Essa série contém ingredientes pouco habituais no western: o elemento sobrenatural ou onírico, a magia...

B.-D. Sim. Não era por ânsia de nos diferenciarmos, mas o certo é que contém esse tipo de elementos inusitados. O western clássico é muito cartesiano. Como sempre, tenho me interessado muito pela cultura indígena, se inicia a estudá-la, te dá conta que nela todo o mundo dos sonhos tem esse aspecto fantástico, e, por isso, a incluímos no relato.


 


Tampouco é demasiado épico, é bem mais lírico e melancólico...

B.-D. Muito. O roteirista, Laurence Harlé, que já morreu, tinha um temperamento melancólico, era uma pessoa angustiada. Por essa razão não era fácil conviver com ele, ainda que isso lhe contribuísse uma dimensão muito interessante. De fato, por causa desse aspecto tão problemático, foi pelo que terminamos nos separando: por esse caráter tão negativo.


Argumentalmente, a série participava da corrente renovadora do western cinematográfico dos anos setenta, não?

B.-D. Sim, naquela época estávamos muito influenciados por filmes como “Mais Forte que a Vingança”, “Um Homem Chamado Cavalo” e “Pequeno Grande Homem”, que se projetaram quase ao mesmo tempo. Era o fim da Guerra do Vietnam, entre a juventude se pousava uma crise de valores, e eu era jovem. Mas o western italiano, o cinema de Sergio Leone, em mudança, nunca me tem agradado, porque sempre se baseia no ódio e na vingança. Em minha opinião, o tema do Oeste tem que ser basicamente positivo, e creio que esses filmes que tenho citado eram uma reação aos valores negativos daquele cinema italiano.


Como roteirista, você mantém uma mudança de registro constante. Como pode compaginar temas e estilos tão diferentes?

C. Eu tenho só uma profissão, a de contar histórias. Mas trabalhar para a Disney ou no campo do humor ou no gênero realista é o quê me permite descansar umas das outras. Também o mestre Greg, por exemplo, tinha distintos registros. Dá-te a sensação de que tens diferentes vidas e também te permite introduzir o humor no realismo.


Mas, em geral, seus argumentos se desenrolam em séculos passados. É um preferência sua?

C. Sim. Não me agrada o contemporâneo. Estou preparando também uma história que se desenrola no futuro, mas a verdade é que o presente não me interessa.


No campo da história em quadrinhos, por que pensam que são melhores os westerns europeus que os norte-americanos?

C. Porque os americanos não sabem explicar sua própria história.

B.-D. Para eles, o western é uma obra de ficção e não uma obra histórica.

C. EC Comics publicou, em “Two Fisted Tales”, algumas histórias, durante os anos cinquenta, sobre a Guerra de Secessão, mas, em geral, não tem havido grandes séries. O quê se tem publicado são pequenos cadernos, de vinte páginas, sobre suas principais batalhas, mas com um tom muito didático. O cowboy mítico, os vaqueiros que descrevem em suas histórias em quadrinhos, são como dos anos cinquenta, muito de opereta. Também tem havido algo nas histórias em quadrinhos da Marvel, mas eram justiceiros mascarados ao estilo de “O Cavaleiro Solitário”, nunca eram de tipo realista. É a tradição do western americano, que, sobretudo, se publica na imprensa diária, enquanto que na Europa temos a tradição do álbum, que é como um livro, com o esquema de “esboço, nó e desenlace”.


Quais são seus projetos atuais?


C. O próximo álbum de Blueberry se intitulará “O Comboio dos Banidos”. Já tenho terminado o roteiro e Dumont o está desenhando. Os quatro álbuns seguintes tratarão sobre Blueberry, que volta à Louisiana, porque resultará que a mãe de Blueberry era uma mulata, filha do pirata Jean Lafitte.







As primeiras pranchas de “Le Convoi des bannis”, próximo álbum de “La Jeunesse de Blueberry”.


Citação desse documento: Yexus; Corteggiani; Blanc-Dumont (2014): “Dos Hombres y un Destino. Entrevista a François Corteggiani y Michel Blanc-Dumont” em Tebeosfera 2ª Epoca 12, Barcelona: Tebeosfera. Acessado no dia 08/06/2014, disponível na Internet em: http://www.tebeosfera.com/documentos/textos/
dos_hombres_y_un_destino_entrevista_a_francois_corteggiani_y_michel_blanc-dumont.html

© 2014 Yexus. Revisão de Alejandro Capelo, edição de Félix López. Imagens obtidas de francois-corteggiani.com, dargaud.com e bedetheque.com. Fotografias de Yexus.
© 2014 Os autores e editores das imagens expostas e seus herdeiros legais. Utilizam-se das imagens unicamente com interesse divulgativo e sem fins lucrativos. This is a website for the study of the comics. No infringement intented.


Eu agradeço a Manuel Barrero, Sevilha, Espanha, diretor de Tebeosfera e presidente da Asociación Cultural Tebeosfera – ACyT,  e a Yexus (Jesús García Sierra), Santander, Cantábria, Espanha, teórico da história em quadrinhos santanderina, colaborador de “El diario montañés”, coautor da revista anual “Viñetas de ayer y hoy” e autor de monografias, entrevistas e artigos, pela permissão de traduzir e publicar “Dos Hombres y un Destino. Entrevista a François Corteggiani y Michel Blanc-Dumont” no blog Blueberry, uma Lenda do Oeste.

Afrânio Braga
Manaus, Amazonas, Brasil
10 de junho de 2014