Blueberry e o Ouro da Sierra
Com “La Mine
de l’Allemand perdue” (1972) (1) e “Le
Spectre aux balles d’or” (1972) (2) a saga de Blueberry faz um ulterior passo adiante. Nos dois episódios desse
breve ciclo em questão, Jean-Michel
Charlier narra sobre a mina do alemão (3), um mito entre os garimpeiros.
O nosso tenente, do 7º Regimento de Cavalaria, está,
por três meses, empacado na cidadezinha de Palomito a gerir, ainda uma vez, a
ordem como xerife por querer (vingança) do general Allister, que o distanciou
após os fatos descritos no ciclo sobre a ferrovia.
N. C.: 1) “La Mine de l’Allemand perdue” – “A Mina
do Alemão Perdido”. 2) “Le Spectre aux balles d’or” – “O Espectro das Balas de
Ouro”. 3) Também denominada A Mina do Holandês Perdido. Em uma das versões
dessa lenda, Jacob Waltz e Jacob Weiser, dois imigrantes alemães,
descobriram ouro nos Montes da Superstição, Arizona.
O
primeiro episódio é mais centrado sobre a figura de Jimmy Mac Clure (4), o beberrão amigo
dedicado de Mike Blueberry, que
recorda a figura de Doppio Rhum,
ombro do Capitan Miki da apreciada
assinatura EsseGEsse, ambos amantes
da bebida alcoólica, mas rápidos e precisos com a pistola. A propósito de Mac
Clure, o filho de Charlier, Philippe,
em entrevista no número 24 da revista “BoDoï”
(1999), centrada sobre a contraposição entre Giraud e herdeiros de Charlier,
afirmou que foi Giraud a querer
manter o velho beberrão no universo blueberryano, enquanto o seu pai o havia
considerado útil só para uma narrativa (5).
N.
C.: 4) Igualmente chamado de Jimmy McClure. 5) Jean-Michel Charlier afirmou
sobre o assunto: “(...) Giraud me
pergunta de prolongar um papel que eu concebi unicamente como
secundário. O caso mais característico é aquele de McClure que devia aparecer
durante quatro ou cinco pranchas, no máximo. Giraud encontrou nele um psíquico
todo feito em particular e me comunicou parte de seu aborrecimento de não
mais revê-lo. De golpe, McClure é presente em todos os episódios.”. Fonte: “Jean-Michel Charlier vous
raconte...”, Gilles Ratier, Le Castor Astral, 2013.
O eixo da história, porém é a figura, bem aprofundada por Charlier, do pretenso barão prussiano,
doutor em medicina e teologia, além de ex-aluno da guarda do Kaiser, Werner
Amadeus von Luckner, mais notório entre ladrões, prostitutas e mineradores com
o apelido de Prosit. Este homem, canalha e pérfido mentiroso sempre pronto a
trair sem nenhum remorso, é possuidor de um mapa indicante uma rica mina de
ouro e vive de expedientes, roubando e tapeando pobres ingênuos que acreditam
na existência da jazida aurífera.
A Blueberry e Mac Clure
cabe a tarefa de salvá-lo das garras de uma dupla de caçadores de recompensas,
o velho Wally e o seu jovem ajudante Crazy Cole, que queriam apossar-se do
mapa. Abandonado, sem água, no deserto, Mike
demonstra ainda uma vez uma excessiva sorte graças a um providencial (quanto
muito improvável) encontro com Guffie Palmer, introduzida no ciclo precedente,
que o salva de um terrível fim por sede.
O segundo episódio é centrado sobre a
descoberta da mina situada em uma antiga aldeia pueblo, construída em uma
concavidade da parede rochosa. O ritmo da narrativa é cerrado, as perseguições
dos apaches entre as rochas são emocionantes, parece quase de ver um clássico
filme hollywoodiano. E o quê dizer das rochas, material natural onipresente na
saga de Blueberry? Gir, mêmore talvez dos cenários
admirados durante a sua estadia no México, os repetem obsessivamente, antes se
pode dizer que não há cena ao aberto em cuja não aparecem as rochas. Em certo
sentido recorda a obsessão de Jacobs pelas cavernas presentes nas aventuras de
“Blake et Mortimer” (6).
6) “Blake e Mortimer” é uma série de álbuns de história em quadrinhos criada pelo belga Edgar
P. Jacobs. Apareceu pela primeira vez na revista “Le Journal de Tintin” em 26
de setembro de 1946. Após a morte de Jacobs, em 1987,
a aventura incompleta “As três formulas do professor Sato” foi desenhada, com roteiro de Jacobs,
por Bob de Moor. Depois, a série foi continuada por outros autores e
continua a ser publicada na atualidade. Fonte: Wikipédia.
Esse ciclo é considerado por Giraud como o momento da reviravolta na
própria arte, porque consegue libertar-se das influências dos seus
inspiradores. O autor alterna vinhetas horizontais a vinhetas verticais, de
modo a movimentar o sentido da leitura; não só, mas também o uso de um traço minucioso
nos rostos dos personagens em atitudes dramáticas determina um relevante efeito
de evidência que recorda aquele utilizado pelos autores estadunidenses de
horror da EC (7) dos anos 1950 (Jack
Davis, Will Elder, Johnny Craig, etc.).
7) A Entertaining Comics, a popular EC Comics, era uma editora
americana, de histórias em quadrinhos, mais identificada com os gêneros de
ficção criminal, ficção de horror, sátira, ficção militar e ficção científica. A EC Comics seguiu
nessa linha de 1940 a 1950, até que a censura do Comics Code Authority a fizesse abandonar a maior parte dos
títulos polêmicos e se concentrasse na revista semanal de humor e sátira
chamada “Mad”. Fonte: Wikipédia.
Algumas ideias e ambientações fazem vir à
mente os célebres episódios de “Pato
Donald” (“O Fantasma da Caverna”,
1947) e de “Tio Patinhas” (“As Cidades do Ouro”, 1954) desenhadas
pelo grande Carl Barks.
“Blueberry”
Textos de Jean-Michel Charlier e desenhos di Jean
Giraud
11 – “La Mine de l'Allemand
perdu”
“Pilote” do nº 497 de 15/05/1969 ao nº 519 de
16/10/1969
Álbum Dargaud em 1972
“La
miniera del tedesco” (perduto)
Volume 1,
Mondadori, 1978
“Skorpio” do nº 42
ao nº 45 de 1980, Eura Editoriale
“Collana Eldorado”
11, Nuova Frontiera, 1983
“Blueberry” 11,
Alessandro Editore, 2011
Álbum “Blueberry”
6, Editoriale Aurea, 2013
“Collana Western”
7, Gazzetta dello Sport, 2014
“Il
fantasma dai proiettili d'oro”
Volume 2, Mondadori, 1978
“Skorpio” do nº 46 ao nº 49 de 1980,
Eura Editoriale
“Collana Eldorado” 12, Nuova
Frontiera, 1983
“Blueberry” 12, Alessandro Editore,
2012
Álbum “Blueberry” 6, Editoriale Aurea,
2013
“Collana Western” 7, Gazzetta dello
Sport, 2014
Fonte:
Blog Zona BéDé, Itália.
Blueberry
e l’oro della Sierra © Zona BéDé 2014
A série
“Blueberry” foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.
Blueberry ©
Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur
Afrânio Braga
Edições
do grupo Média-Participations na Livraria Amazon Brasil