quarta-feira, 13 de julho de 2016

Dez razões de lamentar Jean Giraud, aliás, Moebius



Dez razões de lamentar Jean Giraud, aliás, Mœbius

Por Baptiste Manzinali
Publicado em 28/10/2010 às 14:00 h, atualizado em 12/03/2012 às 14:43 h


Mœbius é morto esse sábado. Duas assinaturas (ao menos) para um mesmo autor, cuja influência tem largamente ultrapassado o universo da história em quadrinhos.
DR

Ele não retomará mais seus lápis. O desenhista e roteirista de história em quadrinhos Jean Giraud, aliás, Mœbius, é morto esse sábado, de manhã, em Paris. Ele morre após longos anos de doença, tem anunciado uma de suas colaboradoras próximas.

Jean Henri Gaston Giraud, seu verdadeiro nome, teria 74 anos em maio. Dez razões de lamentá-lo.


1. Ele tem começado na história em quadrinhos aos 17 anos.

Nascido em 8 de maio de 1938, em Nogent-Sur-Marne, França, no seio de uma família modesta sem sensibilidade particular pelas artes, Jean Giraud se tem apaixonado muito rápido pelos cowboys. “Aos 7 anos, eu rabiscava os colts nas margens de meus cadernos. Suas formas misteriosas, mutantes, me fascinaram”, ele explica em uma entrevista a “L’Express”. Aos 16 anos, ele começa uma formação em Arts Appliqués. Um ano mais tarde, ele cria sua primeira história em quadrinhos, Frank et Jérémie, publicada, em 1956, em sete números do mensal Far-West. Já, o adolescente imagina seu próprio universo, emprestando às lendas da História americana e às paisagens da América Central, que ele reutilizará para outras colaborações, notadamente com o desenhista Jijé na série Jerry Spring.


2. Ele é o autor da saga Blueberry.

Muito rápido, o jovem homem se faz um nome no meio da história em quadrinhos. No início dos anos 1960, a “Nona Arte” se emancipa. Em 1963, a revista Pilote, que procura uma série western, faz chamada a ele e publica o primeiro número da saga Blueberry, sob um roteiro de Jean-Michel Charlier. O álbum, Fort Navajo, sairá dois anos mais tarde, em 1965. Inspirado em Jean-Paul Belmondo, o personagem principal evolui sensivelmente após Maio de 1968. A censura aplicada, até ali, na literatura para a juventude freia menos os artistas, em cujos Jean Giraud, que muda seu herói de uma animosidade e de uma sexualidade ainda mais forte.


3. Ele tem colaborado em “Hara-Kiri”.

Desejando alargar seu horizonte, ele desenha a ficção científica em diversas revistas. E pega um pseudônimo para a ocasião, Mœbius, tomado emprestado de um matemático alemão, August Ferdinand Möbius, e do anel de mesmo nome. Essa assinatura apareceria pela primeira vez em L’Homme du XXIe siècle em Hara-Kiri, desde 1963. A revista “amalucada e maldosa” publicará uma dezena de suas histórias.


4. Jean Giraud, Mœbius, duas obras distintas.

“Eu tinha necessidade de uma senha para navegar de um mundo ao outro e poder retornar”, ele justifica em uma entrevista concedida aos Inrockuptibles. Jean Giraud, ou em menor medida Gir, seu terceiro pseudônimo, é o autor de western que aplica os códigos clássicos da HQ do início dos anos 1960. Mœbius é um visionário que escreve no futuro. De um lado Blueberry, do outro Arzach – cujas aventuras fazem a felicidade dos Humanoïdes Associés e de Métal Hurlant, a editora e o trimestral (depois mensal) “reservado aos adultos” que ele cria, em 1975, com Jean-Pierre Dionnet, Philippe Druillet e Bernard Farkas. Sem Dr. Jekyll e Mr. Hyde, sem esquizofrenia, mas duas obras distintas.


5. Ele tem transtornado os códigos e as formas da HQ.

Com o western, ele é realista ao extremo, mas também mestre do ritmo e do movimento. Com o chileno Alejandro Jodorowsky, de 1981 a 1989, sempre fluído e fácil, ele ultrapassa a ficção científica e se fricciona à metafísica na série L’Incal, em cuja alguns pretendem que os dois primeiros volumes sejam sua obra-prima. Entre os dois, seu estilo varia. A cada vez, ele faz mexer as linhas.


6. A maconha como experiência transcendental.

Maconha, cogumelos alucinógenos, xamanismo. Jean Giraud é um adepto das substâncias e das técnicas que fazem rir – e trabalhar o imaginário. Iniciado em maconha, no México, em 1956, ele se serve apenas para se transcender, nunca, ele diz, para um prazer improdutivo: “Ver os colegas acender os baseados de manhã, ao despertar, foi o sinal do desvio do rumo.”

N. C.: Em entrevista a Magali Aubert, Jean Giraud, em relação à maconha, disse o seguinte: (...) Em seguida, sobretudo com minha esposa, eu tenho tomado a decisão de parar de fumar baseados. (...) e como eu me aproximava dos sessenta, a maconha tirava minhas reservas de cálcio, de vitamina C. Moebius : une poignée de myrtilles, entrevista publicada na revista “Stardand Magazine” nº 22, janeiro de 2009, Paris, França; Moebius: um punhado de mirtilos – Entrevista, uma das postagens do blog Blueberry.


7. Ele tem colaborado muito com o cinema.

Desde 1975, ele é solicitado para trabalhar, já com Alejandro Jodorowsky, sobre a adaptação de Dune, de Franck Herbert. O projeto não verá nunca a luz – mas será em grande parte reciclado em L’Incal. Mœbius tem participado de numerosos filmes no universo gráfico impressionante: Alien, Abyss, Le Cinquième élement, Tron: l’original... A Fondation Cartier projeta seu primeiro curta-metragem pessoal.


8. A revolução Tron em 1982.

O universo do filme coimaginado por Mœbius é inteiramente informatizado. A produção também. Os dois primeiros e uma pequena revolução, que tem marcado a ficção científica até hoje. Em 2011, é lançada a sequência, na França, Tron l’héritage, cuja trilha sonora tem sido composta pelo grupo Daft Punk. Mœbius não figura ao genérico.


9. Ele tem reeditado Arzak: destination tassili.

Arzak (1976) é um álbum onírico, que tem revolucionado o gênero, por sua ausência de diálogos, e mesmo de roteiro, dizem seus detratores, seu ambiente muito sombrio, seu traço apurado. Um novo opus é publicado em 2009 e tem sido reeditado, em 2010, em grande formato e em cores, sob o título de L’Arpenteur.



10. Ele é reconhecido mundialmente.

Além de Hollywood, ele tem influenciado todos os novos comics americanos. Apoteose? Seu Surfer d’Argent, em 1988, escrito pelo lendário Stan Lee, pilar da Marvel. No Japão, terra do mangá, onde a história em quadrinhos europeia é ultraconfidencial, ele é uma referência para numerosos autores, como Miyazaki, Tanigushi ou Otomo. Ele tem exposto em Kyoto, em maio de 2009.

Fonte: L’Express, Paris, França.

Dix raisons de regretter Jean Giraud, alias Moebius © Baptiste Manzinali - L’Express 2010, 2012


Afrânio Braga




sexta-feira, 1 de julho de 2016

“La Jeunesse de Blueberry” nº 9 “Le Prix du sang”

Capa, edição de 1994. 


Prancha 1. 


Prancha 2. 


Prancha 3. 


Prancha 4. 


Prancha 5. 


Prancha 24. 


Prancha 25. 


Contracapa, edição de 1994.


Ficha técnica

“Le Prix du sang”
“O Preço do Sangue”
Roteiro: François Corteggiani
Desenhos e capa: Colin Wilson
Cores: Janet Gale
Volume: 9
Ano de publicação: 1994 (1); 2000 (1) (2); 2001 (1); 2005 (3) (4)
Número de pranchas: 46
Gênero: Western
Preço: 11.99 €
Formato: 22,5x29,5 cm
Público: Todos os públicos – Família
Dargaud Éditeur, Paris, França

Fonte: Dargaud Éditeur e Bedetheque.

N. C.: 1) Capa dupla – o desenho se estende da capa à contracapa. 2) Collection Les indispensables de la BD. 3) Contracapa: ilustração de Blueberry jovem por Jean Giraud. 4) As contracapas das quatro edições apresentam os títulos publicados de “Blueberry”, “Marshal Blueberry”, “La Jeunesse de Blueberry” e “Hors collections” até então.

Nos anos 1970, Charlier e Giraud tiveram a ideia de contar aquela que havia sido a juventude tumultuosa de Blueberry durante a Guerra de Secessão. Enquanto a saga de Blueberry aparecia em “Pilote”, essas narrativas de uma “vida anterior” apareciam nos “Super Pocket Pilote”, depois em álbuns.

Três títulos foram criados por Charlier e Giraud: “La Jeunesse de Blueberry”, “Un Yankee nommé Blueberry” e “Cavalier Bleu”. Em 1984 e em 1985, eles pediram ao desenhista Colin Wilson realizar os episódios seguintes. Em 1989, o grande Manitu tinha se lembrado de Charlier ao seu lado, François Corteggiani acaba o roteiro de “Le Raid infernal”. Hoje, após “La Poursuite impitoyable” e “Trois Hommes pour Atlanta”, a talentosa dupla assina “Le Prix du sang”.

Blueberry é encarregado de localizar os obstáculos suscetíveis de impedir o avanço das tropas nortistas. Com Grayson, Homer e um pequeno grupo de voluntários negros, ele adentra-se nas linhas sulistas e descobre a existência de um enorme entreposto de víveres. Decidido a utilizar uma plantação dos arredores como base de ação contra o entreposto, ele vai ter dois encontros: o sinistro Henry S. Bowman, assassino notório e canalha de primeira, e a jovem e enérgica Elisabeth Reynes, que dirige aquela estranha plantação povoada de mulheres. O enfrentamento com Bowman será sangrento, mas Blueberry levará com ele a lembrança de Elisabeth, tão frágil e bela como aquelas pequenas candeias que, às vezes, iluminam a noite mais escura. (1)

Essa aventura, cheia de barulho e de furor, marca o retorno de uma coleção tornada lendária no seio de Dargaud Éditeur, onde ela nasceu há vinte anos.

Fonte: Dargaud Éditeur.

N. C.: 1) “...Blueberry levará com ele a lembrança de Elisabeth, tão frágil e bela como aquelas pequenas candeias que, às vezes, iluminam a noite mais escura” - extraído da conversa entre Blueberry e Elisabeth, na despedida do tenente, prancha 46:
Blueberry: Eu não sei o quê dizer...
Elisabeth: Então não diga nada... Adeus, tenente...
B: Mike... Eu me chamo Mike...
(De surpresa, ele a beija nos lábios).
E: Mas o quê você fez?!
B: Eu queria deixar uma lembrança, senhorita...
B: Como uma daquelas pequenas candeias que iluminam, de tempos em tempos, a noite escura na qual se avança...


A contracapa, Dargaud, 2005.


Último álbum do ciclo Bowman com algumas boas ideias como aquela plantação gerida, cultivada e guardada pelas mulheres. Mas apesar de alguns bons aspectos, há muitas simplificações.

Para seu último álbum na série, Janet Gale, a esposa de Colin Wilson (se me lembro bem), nos oferece suas melhores cores até então.

Voltaire

Fonte: Bedetheque.

N. C.: Colin Wilson e Janet Gale, um casal neozelandês, vivem, atualmente, na Austrália.


A série “Blueberry” foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.

Fonte das imagens: Bedetheque: capa, pranchas 24 e 25, contracapa, 1994; contracapa, 2005. BDfugue: pranchas 1, 2, 3, 4 e 5.

La Jeunesse de Blueberry nº 9 Le prix du sang © François Corteggiani, Colin Wilson, Dargaud Éditeur 1994, 2000, 2001, 2005

Afrânio Braga