domingo, 19 de outubro de 2025

“Undertaker”: 10 anos de uma série fenômeno

 “Undertaker”: 10 anos
de uma série fenômeno


Em somente oito álbuns, Xavier Dorison, Ralph Meyer e Caroline Delabie impuseram “Undertaker” como um clássico incontornável da história em quadrinhos!


Pela equipe Dargaud
Em 19 de setembro de 2025




É mais que do western

Os personagens fortes e complexos, de grandes questões existenciais - o poder, a ética, a identidade, o fanatismo religioso... E em cada díptico, uma problemática política que ressoa fortemente com o nosso mundo contemporâneo.

Cada ciclo esconde uma verdadeira tragédia grega, um conto filosófico onde as batalhas de valores da época refletem as problemáticas bem atuais.


Undertaker - Les 10 ans de la série phénomène


O ciclo do devorador de ouro

Um coveiro, uma governante inglesa, uma empregada doméstica chinesa... Eis os protagonistas do 1º ciclo da série “Undertaker”. Três dias, um carro funerário e um tesouro escondido, 50 milhas (1) a percorrer e uma cidade inteira de garimpeiros agitadíssimos em seus calcanhares, eis o desafio deles! Um confronto entre a justiça e a moral.

N. C.: 1) 50 milhas = 80,47 quilômetros.  



O Ciclo do Ogro

Jonas Crow face a um inimigo diabólico: um monstruoso cirurgião que transforma cada paciente em cúmplice mortal contra o Undertaker... Empenha-se em uma caçada humana ofegante... Põe-se aqui a questão do utilitarismo social: Pode alguém salvar 9 pessoas em 10 e reivindicar de poder matar a última?



O Ciclo do Índio Branco

Um morto a encontrar em território inimigo... Desde que é questão de cadáver, é Jonas Crow que se chama! Ação, vingança e segredos no programa desse ciclo. O dilema de Jonas reflete aqui aquele dos índios: renegar-se para se adaptar à sociedade e sobreviver ou ser fiel a si mesmo... e morrer.



O Ciclo de Sister Oz

Entre traições, acertos de contas e lutas de poder, um ciclo explosivo que aborda uma temática forte e da atualidade, o fanatismo religioso. Duas visões do mundo se confrontam: a piedade mística e a defesa feroz da liberdade e a tolerância.




Entrevista com os autores

As primeiras páginas desse álbum (volume 8 “Le Monde selon Oz” (2)) nos mergulha na Guerra de Secessão, vários anos antes da intriga principal do díptico. Por que foi importante para vocês fazer esse salto ao passado?

N. C.: 2) “Le Monde selon Oz”: “O Mundo Segundo Oz”.


Xavier Dorison
: Esse ciclo se passa em uma pequena cidade do Texas, um Estado do Sul que saiu derrotado e humilhado da guerra. O tema central é o modo em cujo se pode desviar o ódio e a humilhação das pessoas, que têm, às vezes, um desejo de vingança, prometendo a elas de restituir o seu orgulho. É nisso que se vê hoje com Trump que se pega à Universidade, às mídias... É a “vingança dos últimos da classe”. A Guerra de Secessão é, portanto, realmente o pano de fundo que explica bastante de reações e de comportamentos dos personagens...




Ralph Meyer: E em particular de Sister Oz, que é a personagem central desse ciclo e que dá o seu nome a esse álbum. A cena introdutiva, repleta de fumaça e de violência, não conta uma batalha precisa, historicamente situada, mas um momento fundador na vida dessa jovem mulher.













Caroline Delabie:
Nós quisemos começar esse segundo volume clareando um pouco a sua personalidade, para permitir aos leitores de compreender como ela caiu em uma concepção fanática da religião. Não para desculpar o seu extremismo, que a corta de toda forma de empatia, mas para dar a ela ainda uma forma de compaixão.









Para o seu herói Jonas, o passado também é importante. Mas vocês não levantam completamente o véu sobre aquilo que ele vivenciou.

Ralph Meyer: O mistério faz parte do seu personagem. A nós de livrar, cada vez, de pequenos elementos do seu passado, mas sem revelar tudo de um bloco, isso seria, na realidade, assaz frustrante.

Caroline Delabie: Sem detalhar o seu passado, se conhece ele cada vez melhor ao longo dos álbuns, e se compreende as suas reações. Por exemplo, no início dessa história, quando ele encontra aquela mulher que quer abortar lutando com as pessoas que querem impedi-la, ele não está muito preocupado. Ele nunca colocou esse tipo de questão. E pouco a pouco, ele se deixa tocar, até se implicar realmente. 



Xavier Dorison: Jonas é, fundamentalmente, um idealista decepcionado. Ele faz parte dessas pessoas que esperaram bastante da humanidade, mas que, de desilusão em desilusão, se tornaram quase misantropas. Há nele uma forma de ódio. E se ele se ocupa dos mortos, é de alguma parte que ele os prefira aos vivos. Mas ele não se refaz, e Jonas retorna à sua verdadeira natureza. Atrás da sua aparência áspera, ele esconde um coração sensível. Ele tem um valor cardinal: a liberdade. Com o reverso da medalha desse valor: a falta de afeição, a dificuldade de atar as relações.  


O quê o western representa para você?

Xavier Dorison: Isso que me apaixona no western: é uma forma de exercício de pensamento, muito restringido, que consiste em colocar um pequeno número de pessoas em uma situação que elas devem resolver sozinhas, sem suporte exterior. A pequena cidade, sobre a qual reina em geral uma injustiça, é como uma cena de teatro. Os humanos estão face a eles mesmos, sem saídas, sem artifícios, obrigados a se confrontar as grandes questões existenciais. É fascinante e inesgotável. Há, além disso, muito subgêneros. Nesse álbum, o espírito é aquele de “Rio Bravo” (3), de Howard Hawks, ou de “3 h 10 pour Yuma” (4), de Delmer Daves. Os mocinhos detêm o malvado e estão sitiados. Eles vão aguentar? Quanto tempo?


N. C.: 3) “Rio Bravo” (título original): “Onde Começa o Inferno” (título no Brasil). 4) “3:10 to Yuma” (título original): “Galante e Sanguinário” (título no Brasil).




Daí o ritmo particular desse álbum no qual se alternam as cenas assaz imóveis, onde a tensão sobe, e de outras onde a violência se desencadeia...

Ralph Meyer: Sim e é muito interessante do ponto de vista do desenho porque se tem que saber dosar os seus efeitos. Quando se sai de um isolamento irrespirável, com uma discussão pesada, uma ameaça onipresente, mas de personagens que permanecem estáticos, uma cena de ação onde a violência se desencadeia é tanto mais espetacular! Pode se soltar, ir ao excesso. É um prazer para o leitor, como também para o desenhista.

Caroline Delabie: As cores estão lá para sustentar esses contrastes e reforçar os efeitos narrativos. Sai-se, às vezes, de uma forma de realismo para ir às tonalidades mais expressivas ou simbólicas, com um crescente na violência.

Xavier Dorison: As cores representam, em efeito, um verdadeiro papel narrativo. E eu devo dizer que, com Ralph e Caroline, eu agrado plenamente os olhos cada vez que eu descubro as novas páginas. Os enquadramentos e as encenações são sempre inventivos e cheios de vida e magnificência toda aquela iconografia que se adora todos os três: o saloon, o winchester, os cavalos e os grandes espaços...


“Le Monde selon Oz”

A terrível Sister Oz está disposta a tudo para impedir Eleanor de abortar. Por exemplo: de assassinar o doutor Randolph Prairie, que se preparava para praticar a operação, como ela já assassinará friamente o xerife de Eaden. Nessa pequena cidade do Texas, saído arruinado e humilhado da Guerra de Secessão, ela tem o seu manejo sobre o ressentimento e o espírito de vingança para reunir a população em seu delírio funesto. Jonas Crow, que foi ali para reencontrar a sua querida Rose, se encontra não obstante implicado nesse negócio. Mas, atualmente, ele está decidido a fazer de tudo para defender a liberdade e a tolerância. Para que não triunfe certa visão do mundo: o mundo segundo Oz.




Após “Mister Prairie”, esse oitavo volume de “Undertaker” assinala o fim de um díptico crepuscular, sombrio e opressor. Porque sob o rosto de anjo e a aparente candura da Sister Oz se esconde uma das adversárias mais terríveis que teve de cruzar com o Undertaker. E se o véu levantado sobre os episódios dramáticos do seu passado permite compreendê-la, nada poderia desculpar o cinismo e a crueldade de suas ações que ela aureola de uma piedade mística. Entre cenas de ações memoráveis e momentos de pura emoção, com um desenho magistral e mais sensível que nunca, o trio Dorison, Meyer e Delabie, ao ápice de sua arte, assina um álbum de tirar o fôlego.

Decididamente, “Undertaker” está a enfileirar entre as maiores séries da história em quadrinhos.



LE MONDE SELON OZ

AUTOR: XAVIER DORISON, RALPH MEYER, CAROLINE DELABIE
DESENHISTA: RALPH MEYER
ROTEIRISTA: XAVIER DORISON
COLORISTA: RALPH MEYER, CAROLINE DELABIE

Boa leitura!

Fonte: Dargaud Éditeur, Paris, França.

Undertaker © Xavier Dorison / Ralph Meyer / Caroline Delabie – Dargaud Éditeur
Undertaker : les dix ans d'une série phénomène © 2025 Dargaud Éditeur

Afrânio Braga

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