“Undertaker”: 10 anos
de uma série fenômeno
Em somente oito
álbuns, Xavier Dorison, Ralph Meyer e Caroline Delabie impuseram “Undertaker”
como um clássico incontornável da história em quadrinhos!
Pela equipe
Dargaud
Em 19 de setembro de
2025
É mais que do western
Os personagens fortes
e complexos, de grandes questões existenciais - o poder, a ética, a identidade,
o fanatismo religioso... E em cada díptico, uma problemática política que
ressoa fortemente com o nosso mundo contemporâneo.
Cada ciclo esconde
uma verdadeira tragédia grega, um conto filosófico onde as batalhas de valores
da época refletem as problemáticas bem atuais.
Undertaker
- Les 10 ans de la série phénomène
O ciclo do devorador de ouro
Um coveiro, uma
governante inglesa, uma empregada doméstica chinesa... Eis os protagonistas do
1º ciclo da série “Undertaker”. Três dias, um carro funerário e um tesouro
escondido, 50 milhas (1)
a percorrer e uma
cidade inteira de garimpeiros agitadíssimos em seus calcanhares, eis o desafio
deles! Um confronto entre a justiça e a moral.
N. C.: 1) 50 milhas =
80,47 quilômetros.
O Ciclo do Ogro
Jonas Crow face a um
inimigo diabólico: um monstruoso cirurgião que transforma cada paciente em
cúmplice mortal contra o Undertaker... Empenha-se em uma caçada humana
ofegante... Põe-se aqui a questão do utilitarismo social: Pode alguém salvar
9 pessoas em 10 e reivindicar de poder matar a última?
O Ciclo do Índio Branco
Um morto a encontrar
em território inimigo... Desde que é questão de cadáver, é Jonas Crow que se
chama! Ação, vingança e segredos no programa desse ciclo. O dilema de Jonas
reflete aqui aquele dos índios: renegar-se para se adaptar à sociedade e
sobreviver ou ser fiel a si mesmo... e morrer.
O Ciclo de Sister
Oz
Entre traições,
acertos de contas e lutas de poder, um ciclo explosivo que aborda uma temática
forte e da atualidade, o fanatismo religioso. Duas visões do mundo se
confrontam: a piedade mística e a defesa feroz da liberdade e a tolerância.
Entrevista com os
autores
As primeiras
páginas desse álbum (volume 8 “Le Monde selon Oz” (2)) nos mergulha na Guerra de Secessão, vários anos
antes da intriga principal do díptico. Por que foi importante para vocês fazer
esse salto ao passado?
N. C.: 2)
“Le Monde selon Oz”: “O Mundo Segundo Oz”.
Xavier Dorison: Esse ciclo se passa em uma pequena cidade do
Texas, um Estado do Sul que saiu derrotado e humilhado da guerra. O tema
central é o modo em cujo se pode desviar o ódio e a humilhação das pessoas, que
têm, às vezes, um desejo de vingança, prometendo a elas de restituir o seu
orgulho. É nisso que se vê hoje com Trump que se pega à Universidade, às
mídias... É a “vingança dos últimos da classe”. A Guerra de Secessão é,
portanto, realmente o pano de fundo que explica bastante de reações e de
comportamentos dos personagens...
Caroline Delabie: Nós quisemos começar esse segundo volume
clareando um pouco a sua personalidade, para permitir aos leitores de compreender
como ela caiu em uma concepção fanática da religião.
Não para desculpar o seu extremismo, que a corta de toda forma de
empatia, mas para dar a ela ainda uma forma de compaixão.
Para o seu herói Jonas, o passado também é importante. Mas vocês não
levantam completamente o véu sobre aquilo que ele vivenciou.
Ralph Meyer: O mistério faz parte do seu personagem. A
nós de livrar, cada vez, de pequenos elementos do seu passado, mas sem revelar
tudo de um bloco, isso seria, na realidade, assaz frustrante.
Caroline Delabie: Sem detalhar o seu passado, se conhece ele
cada vez melhor ao longo dos álbuns, e se compreende as suas reações. Por
exemplo, no início dessa história, quando ele encontra aquela mulher que quer
abortar lutando com as pessoas que querem impedi-la, ele não está muito
preocupado. Ele nunca colocou esse tipo de questão. E pouco a pouco, ele se
deixa tocar, até se implicar realmente.
Xavier Dorison: Jonas é, fundamentalmente, um idealista
decepcionado. Ele faz parte dessas pessoas que esperaram bastante da
humanidade, mas que, de desilusão em desilusão, se tornaram quase misantropas.
Há nele uma forma de ódio. E se ele se ocupa dos mortos, é de alguma parte que
ele os prefira aos vivos. Mas ele não se refaz, e Jonas retorna à sua
verdadeira natureza. Atrás da sua aparência áspera, ele esconde um coração
sensível. Ele tem um valor cardinal: a liberdade. Com o reverso da medalha
desse valor: a falta de afeição, a dificuldade de atar as relações.
O quê o western
representa para você?
Xavier Dorison: Isso que me apaixona no western: é uma forma de
exercício de pensamento, muito restringido, que consiste em colocar um pequeno
número de pessoas em uma situação que elas devem resolver sozinhas, sem suporte
exterior. A pequena cidade, sobre a qual reina em geral uma injustiça, é como
uma cena de teatro. Os humanos estão face a eles mesmos, sem saídas, sem
artifícios, obrigados a se confrontar as grandes questões existenciais. É
fascinante e inesgotável. Há, além disso, muito subgêneros. Nesse álbum, o
espírito é aquele de “Rio Bravo” (3), de
Howard Hawks, ou de “3 h 10 pour Yuma” (4), de
Delmer Daves. Os mocinhos detêm o malvado e estão sitiados. Eles vão aguentar?
Quanto tempo?
N. C.: 3)
“Rio Bravo” (título original): “Onde Começa o Inferno” (título no Brasil). 4)
“3:10 to Yuma” (título original): “Galante e Sanguinário” (título no Brasil).
Daí o ritmo particular desse álbum no qual se alternam as cenas assaz
imóveis, onde a tensão sobe, e de outras onde a violência se desencadeia...
Ralph Meyer: Sim e é muito interessante do ponto de vista do
desenho porque se tem que saber dosar os seus efeitos. Quando se sai de um
isolamento irrespirável, com uma discussão pesada, uma ameaça onipresente, mas
de personagens que permanecem estáticos, uma cena de ação onde a violência se
desencadeia é tanto mais espetacular! Pode se soltar, ir ao excesso. É um
prazer para o leitor, como também para o desenhista.
Caroline Delabie: As cores estão lá para sustentar esses
contrastes e reforçar os efeitos narrativos. Sai-se, às vezes, de uma forma de
realismo para ir às tonalidades mais expressivas ou simbólicas, com um
crescente na violência.
Xavier Dorison: As cores representam, em efeito, um verdadeiro
papel narrativo. E eu devo dizer que, com Ralph e Caroline, eu agrado
plenamente os olhos cada vez que eu descubro as novas páginas. Os
enquadramentos e as encenações são sempre inventivos e cheios de vida e
magnificência toda aquela iconografia que se adora todos os três: o saloon, o
winchester, os cavalos e os grandes espaços...
“Le Monde selon Oz”
A terrível Sister Oz está disposta a tudo para impedir Eleanor de
abortar. Por exemplo: de assassinar o doutor Randolph Prairie, que se preparava
para praticar a operação, como ela já assassinará friamente o xerife de Eaden.
Nessa pequena cidade do Texas, saído arruinado e humilhado da Guerra de
Secessão, ela tem o seu manejo sobre o ressentimento e o espírito de vingança
para reunir a população em seu delírio funesto. Jonas Crow, que foi ali
para reencontrar a sua querida Rose, se encontra não obstante implicado nesse
negócio. Mas, atualmente, ele está decidido a fazer de tudo para defender a
liberdade e a tolerância. Para que não triunfe certa visão do mundo: o mundo
segundo Oz.
Após “Mister Prairie”, esse oitavo volume de “Undertaker” assinala o
fim de um díptico crepuscular, sombrio e opressor. Porque sob o rosto de
anjo e a aparente candura da Sister Oz se esconde uma das adversárias mais
terríveis que teve de cruzar com o Undertaker. E se o véu levantado sobre os
episódios dramáticos do seu passado permite compreendê-la, nada poderia
desculpar o cinismo e a crueldade de suas ações que ela aureola de uma piedade
mística. Entre cenas de ações memoráveis e momentos de pura emoção, com um
desenho magistral e mais sensível que nunca, o trio Dorison, Meyer e Delabie,
ao ápice de sua arte, assina um álbum de tirar o fôlego.
Decididamente, “Undertaker” está a enfileirar entre as maiores séries da
história em quadrinhos.
LE MONDE SELON OZ
AUTOR: XAVIER
DORISON, RALPH MEYER, CAROLINE DELABIE
DESENHISTA: RALPH
MEYER
ROTEIRISTA: XAVIER
DORISON
COLORISTA: RALPH
MEYER, CAROLINE DELABIE
Boa leitura!
Fonte:
Dargaud Éditeur, Paris, França.
Undertaker
© Xavier Dorison / Ralph Meyer / Caroline Delabie – Dargaud Éditeur
Undertaker :
les dix ans d'une série phénomène © 2025 Dargaud Éditeur
Afrânio Braga
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