A série "Blueberry" foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud
domingo, 22 de maio de 2022
A casa da família Bates, de “Psicose”, em “Blueberry”
Para Moebius
10 de março de 2012
Notícias estão irrompendo através
da Internet que Jean Giraud Moebius, artista de histórias em quadrinhos, morreu
à idade de 73 anos. Aqui está um linkpara o obituário, em
língua francesa, de “Le Monde”. Eu queria ter encontrado Giraud, eu queria
dizer a ele o quê a sua bizarra, sexy, visceral e, enfim, curadora visão do (s)
mundo (s) tem significado para mim. Eu escrevi alguns artigos sobre Moebius
para “The Panelists”, e um está abaixo, sobre uma vinheta de “Blueberry” álbum
“The Outlaw”1 (1974). Esse artigo foi originalmente postado em 6 de
janeiro de 2011.
A Casa do Gênero
Originalmente de “Le Hors-la-loi”1 (“The Outlaw”,
Dargaud, 1974), escrito por Jean-Michel Charlier e desenhado por Jean “Moebius”
Giraud. A vinheta acima é da versão da Marvel/Epic de “The Outlaw” em
“Blueberry 2: Ballad for a Coffin” (1989).
…tempo de desenhar o próximo quadro. Nessa vinheta, Mike Blueberry
cavalga seu cavalo para a decadente casa de Guffie Palmer.
Você começa desenhando levemente Blueberry e a cabana abandonada em
primeiro plano e a casa de Guffie em segundo plano. Enquanto você aperta seu
lápis, você, divertidamente, decide desenhar a “espelunca” de Guffie similar à
mansão Bates em “Psicose”. Os fãs de cinema que leem “Blueberry” em busca de
alusões aos westerns de Ford, Peckinpah e Leone2 certamente perceberão esse aceno a Hitchcock. Uma
vez que os principais elementos da composição estão claramente definidos, você
faz a transição para a tinta, usando linhas de pincel para indicar as texturas
de diferentes superfícies: pense em plumagem nas rochas, e mais pesado, linhas
flexíveis na madeira dacerca e da viga.
Você move o seu pincel através da vinheta, adicionando pedaços de capim a
terra, e manchas pretas em Blueberry e seu cavalo, e o céu rasgado por um raio
atrás da casa. Detalhes se acumulam. Você conscientemente emula Hal Foster,
Burne Hogarth e outros artistas de história em quadrinhos de aventura em sua
tentativa de criar uma cena que é simultaneamente realista e dramática.
A cena é bela,
mas você está, curiosamente, insatisfeito por sua beleza. Quando você começou
“Blueberry”, dez anos atrás, você dedicou infindáveis horas para aprimorar seu
ofício, mesmo quando a trama de Charlier se tornou mais barroca, mais complexa.
Você escreveria mais tarde que “Eu penso
que eu estava no auge da minha forma, ao menos em termos de estímulo e
satisfação que eu obtive com as histórias anteriores, “The Lost Ducthman’s
Mine”3 e “The Ghost with the Golden Bullets”4. Agora eu me sentia como um vencedor de maratona
que acabou de cruzar a linha de chegada e que dizem que ele deve correr
novamente e novamente. Eu tive uma sensação de frustração, de estar preso.” Você
despejou o seu entusiasmo juvenil em uma série que você superou, a sua vocação
se tornou um trabalho e, às vezes, uma obrigação. Você fica irado e deprimido
quando você pensa sobre desenhar cowboys, cavalos, casas mal-assombradas,
alegorias do gênero e tramas de tabuleiro de xadrez para o resto de sua carreira.
Então você decide fugir para fora da caixa e reinventar a si mesmo com
um novo pseudônimo, “Moebius”. Você muda o seu estilo de arte e você escreve
roteiros confusos. Desviando de um enredo linear se torna um sintoma de
abençoada liberdade.
O seu coração
flui através de suas imagens outra vez. Você divide a sua carreira em duas: como
Moebius, você explora novos caminhos com novos colaboradores (particularmente
Alejandro Jodorowsky), mas você também continua o trabalho com Charlier, parcialmente
porque “Blueberry” é a fonte de rendimento que subsidia a rebelião de Moebius5. Mas depois
que Moebius se tornou mundialmente famoso, e mesmo depois da morte de Charlier
em 1989, você continua contando novas histórias sobre Mike Blueberry. Você
cavalga de volta para a casa mal-assombrada, a Casa do Gênero6, você se sente
tão compelido a escapar. Por quê? Você está levando às escondidas um pouco da
sensibilidade de “El Topo” para o mundo Ford/Peckinpah/Leone de “Blueberry”? Ou
os westerns - e os gêneros populares em geral - significam mais para você do
que você jamais imaginou?
1 “The Outlaw”. A
história “L’Outlaw” foi
pré-publicada em “Pilote” do nº 700, 5 de abril de 1973, ao nº 720, 23 de
agosto de 1973, e um anúncio no nº 699 da revista semanal, e lançada em álbum
com o título em francês “Le Hors-la-loi”, em 1974.
2Ford, Peckinpah e
Leone. John Ford, Sam Peckinpah e Sergio Leone, diretores de filmes western que
inspiraram Jean-Michel Charlier, criador literário de Blueberry, em muitos dos roteiros
da série “Blueberry”.
3 “The Lost Ducthman’s Mine”. Episódio
pré-publicado em “Pilote” do nº 497, 15 de maio de 1969, ao nº 519, 16 de outubro de 1969, mais
uma capa no nº 497; lançado em álbum, em 1972, com o título “La Mine de l’Allemandu perdu”(“A Mina do Alemão Perdido”).
4 “The Ghost with the
Golden Bullets”. Episódio pré-publicado em
“Pilote” do nº 532, 15 de janeiro de 1970, ao nº
557, 9 de julho de 1970, mais um anúncio no nº 531, 8 de janeiro de 1970, e
duas capas nos nº 532 e nº 555, 25 de junho de 1970; lançado em álbum, em 1972,
intitulado “Le Spectre aux balles d’or” (“O Espectro das Balas de Ouro”).
5Jean Giraud utilizou dois nomes artísticos: Gir, para as histórias em quadrinhos western, e Moebius para as histórias em quadrinhos de ficção científica, super-heróis e afins.
6 Casa do Gênero. A
decadente casa de Guffie Palmer é chamada de Casa dos Anjos e está localizada nos arredores de Santa Fé, Novo
México, Estados Unidos da América.
Agradecimento
a Craig Fisher.
A CASA DA FAMÍLIA BATES, DE
“PSICOSE”,
EM “BLUEBERRY”
A casa da família Bates no filme “Psycho”
(“Psicose”, título no Brasil).
A prancha 22 de “Le Hors-la-loi” (“O Fora-da-lei”),
volume 16 de “Blueberry”, em preto e branco.
A casa da família Bates em
“Psicose”.
A prancha 22 de “Le
Hors-la-loi” em cores.
A prancha 22A de “Le
Hors-la-loi” de uma edição holandesa.
House by the Railroad, Edward Hopper, 1925.
Lobby card de “Psycho”,
35x28 cm, Paramount, 1960.
A casa do filme foi
inspirada na casa da pintura de Hopper.
A série
“Blueberry” foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.
“Psicose”:
como Alfred Hitchcock quebrou as barreiras entre terror e suspense no clássico
de 1960?
O cineasta britânico "não apenas criou o horror moderno, como o
validou"
LORENA REIS PUBLICADO EM 01/06/2020, ÀS 07H00
Janet Leight em Psicose
(Fotografia: Reprodução via IMDB)
"Phoenix, Arizona. Sexta-feira, 11 de dezembro.
Duas e quarenta e três da tarde."
É assim que Alfred Hitchcockintroduziu o público ao que - mais tarde - se
tornaria um dos maiores clássicos do cinema: “Psicose”.
Por mais que você nunca tenha assistido à renomada obra de 1960, provavelmente
já leu ou entreouviu conversas que comprovassem sua importância para a sétima
arte.
Não há a menor dúvida de que Hitchcock foi
um dos pioneiros do cinema moderno. A partir de filmes que, na época,
manipulavam toda uma audiência, ele quebrou as barreiras entre terror e
suspense, desvendando, ainda, partes obscuras da psique humana.
De acordo com o website norte-americano Rotten Tomatoes, o cineasta
é “imortal”, pois contribuiu imensamente com o terror e seus subgêneros. “Hitchcock não apenas criou o horror moderno, ele o
validou”, consentiram os especialistas.
Enquanto o filme foi disponibilizado pela Netflix no final de
maio, a Rolling Stone Brasil listou os principais motivos
para você assistir (ou relembrar) “Psicose”.
Confira abaixo:
Grande obra de Alfred Hitchcock
Antes de falar sobre “Psicose”, precisamos, é claro,
falar sobre o homem que esteve por trás da obra: Alfred Hitchcock. Conhecido
como o “Mestre do Suspense”, ele comandou os maiores filmes de mistério da
história e, portanto, foi eleito o maior cineasta do mundo pela revista Entertainment Weeklyem 1996 e o maior cineasta da
Grã-Bretanha pelo jornal The Telegraphem 2007.
Do movimento calculado das câmeras às trilhas sonoras
assustadoras, Hitchcock revelou técnicas surpreendentes (muitas delas inéditas)
à Academia, que serviram e ainda servem de base para cineastas do mundo todo.
A genialidade do roteiro
A princípio, o roteiro de “Psicose” seria adaptado
pelo escritor da série “Alfred Hitchcock Presents” (1955-1965), James P. Cavanagh.
No entanto, Hitchcock não se impressionou com o rascunho de Cavanagh, que lhe
parecia “monótono” demais, como revelado a um assistente. Assim, após uma
conversa inspiradora, Hitchcock contratou o escritor Joseph Stefano, que era
novo no ramo, mas havia assinado o roteiro de “A Orquídea Negra”, em 1958.
Filme de baixo orçamento
Hitchcock produziu “Psicose” com um caixa de US$
800 mil (o equivalente a cerca de R$ 4 milhões). O valor era baixo para os
filmes de Hitchcock - e extremamente baixo em contraponto ao faturamento de US$
50 milhões (mais de R$ 260 milhões) que eleobteve.
Sem dinheiro, o cineasta contratou uma equipe reduzida de TV e assumiu as
filmagens em preto e branco, apenas para diminuir as despesas.
Elenco
A atriz Janet Leigh sempre foi a primeira escolha de
Hitchcock para o papel de Marion Crane, mas ela receberia um quarto do salário
ao qual estava habituada. Como plano b, c, d, nomes como Angie Dickinson,
Shirley Jones e Lana Turner foram considerados, mas, felizmente, Leigh embarcou
no projeto. Enquanto isso, Norman Bates, que, no livro, era um homem
obeso, foi vivido por Anthony Perkins, pois Hitchcock o queria mais bonito e
menos assustador. O olhar inocente do ator desmentia a natureza violenta do
personagem, levando o público a simpatizar com ele.
Vera Miles, John Gavin e Martin Balsam também fazem parte do
elenco.
Baseado em fatos reais
O filme “Psicose” é baseado no romance homônimo de
Robert Bloch, que acompanha uma história verídica. A trama de Norman Bates, na
verdade, foi baseada na vida de Ed Gein, um assassino em série responsável pelo
desaparecimento de vizinhos e mulheres inocentes na cidade rural de Plainfield.
Condenado pelo homicídio de duas pessoas, o tribunal o
considerava mentalmente incapaz. Em 1968, Gein foi transferido para um hospital
psiquiátrico em Wisconsin, onde faleceu em 1984, vítima de falha cardíaca e
respiratória.
Explora a mente humana
Norman Bates é considerado o segundo maior vilão do
cinema pelo Instituto Americano do Cinema (AFI) - atrás apenas de Hannibal
Lecter em “O Silêncio dos Inocentes”, que, curiosamente, também foi
inspirado em Ed Gein. Ele revela um grande desvio em seu desenvolvimento
psicossexual, desenvolvendo uma obsessão patológica pela figura materna.
Impossibilitado de tê-la como objeto de desejo, o gerente do hotel desenvolve
um transtorno mental aparentemente irreversível, passando a dividir a própria
personalidade com a de Norma Bates.
Inicialmente rejeitado pela
Paramount
O projeto de Hitchcock foi inicialmente rejeitado
pela Paramount Pictures, que se recusou a comprar os direitos do livro de
Bloch. Sentindo-se desprezado, o cineastaadquiriu
o material por US$ 9,5 mil e contratou Cavanagh para roteiriza-lo. Pouco tempo
depois, já com Stefano na equipe, Hitchcock se voltou à Paramount novamente,
aceitando produzir o filme por uma pequena fração de seu custo habitual. Mesmo
assim, o estúdio hesitou em atendê-lo. Ainda mais frustrado, ele fechou um
acordo com a Universal Pictures, enquanto sua própria empresa, Shamley
Productions, assumiu US$ 1 milhão do custo do filme.
Fotografia em preto e branco
Além de ser um recurso mais acessível, como mencionado
anteriormente, a fotografia em preto e branco certamente define a qualidade
visual de “Psicose”. Hitchcock também acreditava que algumas cenas teriam sido
violentas demais para o público caso fossem coloridas, como a famosa “cena do
chuveiro”, principalmente porque eram evocativas o suficiente para que muitas
pessoas preenchessem os detalhes do filme com a própria imaginação. É
considerada até hoje uma das cenas mais aterrorizantes do cinema, muito pela
sucessão de corte rápidos, trilha sonora e som da faca. O terror, aqui, está no
oculto, pois em nenhum momento vemos a faca tocar a vítima, mas temos a
sensação de que ela foi dilacerada.
The Shower - Psycho (5/12) Movie CLIP
(1960) HD
Trilha sonora de Bernard
Herrmann
É quase impossível lembrar de “Psicose” sem a icônica
trilha sonora de Bernard Herrmann. O AFI concorda, classificando-a como a
quarta das melhores trilhas já feitas - atrás de “Star Wars”, “E o Vento Levou”
e “Lawrence da Arábia”. A parceria foi perfeita. De acordo com Herrmann,
Hitchcock queria que a cena de Janet Leigh tomando banho - ou seja, o clímax da
história - fosse desenvolvida em som ambiente. O músico discordou e compôs o
segmento enquanto o cineasta estava na Europa. Hitchcock voltou para os Estados
Unidos e disse: “Bem, claro, você está certo!”.
Bernard Herrmann - Psycho (theme)
Campanha promocional
Desde o início, Alfred Hitchcock queria que as
reviravoltas de “Psicose” fossem mantidas em segredo. Por isso, ele pediu à sua
assistente, Peggy Robertson, que comprasse o máximo de cópias possível do
romance de Bloch - e ela o fez. No primeiro dia de filmagens, a equipe inteira
teve que fazer um juramento, no qual secomprometiam
a não comentar sobre o filme com ninguém que não fizesse parte da equipe e,
mesmo assim, o final do roteiro foi revelado somente no último segundo. O melhor
de tudo é que Hitchcock proibiu que qualquer pessoa entrasse nas salas de
cinema depois que o filme tivesse começado, pois a experiência deveria ser
vivida do início ao fim.
Psycho (1960) Theatrical Trailer -
Alfred Hitchcock Movie
Estreia e bilheteria
“Psicose” foi inicialmente subestimado pelos críticos,
que não pouparam as ofensas. Bosley Crowther, do “The New York Times”,
classificou o filme como "um trabalho obviamente sem verba", enquanto
outros veículos disseram que ele "manchava a carreira honrosa de
Hitchcock". Por outro lado, o público formava filas milimétricas para
vê-lo, fazendo de “Psicose” o filme, de longe, mais lucrativo da carreira do
cineasta.
Agradecimento
à Editora Perfil, do Grupo Perfil Brasil, pela gentil permissão de publicação do
artigo Psicose: como Alfred Hitchcock quebrou as barreiras entre terror e
suspense no clássico de 1960? da revista Rolling Stones Brasil no blogue
Blueberry.
Cartaz de divulgação do
filme “Psycho”.
Cartaz de divulgação do
filme “Psycho”.
Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos da América.
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