domingo, 20 de outubro de 2013

Aux sources de Blueberry... - As fontes de “Blueberry”...

Em comemoração aos 50 anos de vida editorial de “Blueberry”, série western criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, o blog Blueberry, uma Lenda do Oeste convidou Jean-Yves Brouard, desenhista, fotógrafo, piloto de avião, escritor, roteirista e editor de Bandes Dessinées, como “Les aventures d’Allan Mac Bride”, “Les aventures de Quentin Foloiseau” e “Missions Kimono”, especialista da carreira de Jean-Michel Charlier e criador e autor do site jmcharlier.com, que gentilmente presenteou o seu artigo Aux sources de Blueberry... – As fontes de “Blueberry”... -, publicado na revista “Casemate Hors série” nº 3, abril de 2012, consagrada a Jean Giraud, lançada após o seu falecimento, ocorrido em 10 de março de 2012, a esse acontecimento tão especial e importante da história em quadrinhos mundial. Um grande obrigado a Jean-Yves Brouard.

Afrânio Braga


As fontes
de ”BLUEBERRY”...

“Blueberry”, o primeiro western assinado por Charlier? Formalmente sim, mas um cata-piolho se divertiu encontrando partes inteiras das aventuras de Mike S. Blueberry nos trabalhos precedentes do mestre. Alguns dos quais desenhados pelo grande René Follet. Mergulho em águas profundas.


E
m suas entrevistas, Jean-Michel Charlier sempre disse que antes de “Blueberry” ele nunca havia pensado em escrever um western. Que isso não era seu estilo. Mas que uma viagem ao Oeste americano, no deserto do Arizona, em contato com as civilizações indígenas, o havia deslumbrado e estimulado a criar a série “Blueberry”, após seu encontro com Jean Giraud em 1963.

A publicação de “Fort Navajo”, primeiro episódio da série, dá a partida nas páginas da revista “Pilote”. A colaboração entre os dois autores mal tinha começado e Jean Giraud já desenhava a primeira prancha da HQ. Como isso é possível? Jean-Michel Charlier estava assoberbado de trabalho – ele estaria por toda a sua vida – e uma série como essa demanda, a priori, uma grande pesquisa documentária.

Há uma explicação: Jean-Michel Charlier apenas reescrevia, quase copiando, aquilo que ele já havia escrito em diversas histórias publicadas nos anos cinquenta. Em quase todos os casos, um herói americano, soldado ou batedor do exército, perdido no deserto do Novo México, tenta restabelecer, sozinho, a paz entre Casacas Azuis, cercados e longe de tudo, e os índios, revoltados após uma falsa acusação.


Um desenho, feito por Ref (René Follet), publicado na revista “Spirou”, em 1949, para 
primeira história western de Jean-Michel Charlier, “Fort Cheyenne”, que colocou em 
cena um herói que se chamava Jimmy Hurley, um cavaleiro do Exército americano, em 
um forte do deserto. Acima do desenho, no fim da história, a assinatura de J.-M. Charlier.


A história mais antiga que nós podemos encontrar é uma HQ curta publicada em outubro de 1949, na “Spirou”. O herói de “Fort Cheyenne”, jovem batedor, dos Casacas Azuis, de um forte, cercado por Índios, nos confins do Arizona, prefigura Blueberry. Seu nome: Jimmy Hurley. O mesmo nome de certo companheiro de Blueberry, o velho Mac Clure... «Um verdadeiro moleque!... Magro, nervoso, teimoso como uma mula mexicana, mas cheio de audácia e de energia» como o descreveu Jean-Michel Charlier, esse jovem scout era até mesmo desobediente. Mas foi por um bom motivo: graças à sua saída arriscada do forte, sem água e quase em munição, contrariando ordens formais do capitão, Jimmy vai salvar todo mundo. O retrato do futuro Blueberry... Quando ele escreveu sua história, Jean-Michel Charlier tinha apenas 24 anos. O desenhista assina Ref, pseudônimo artístico de René Follet à época. Seria ele o primeiro desenhista a esboçar Blueberry?


Desenho de Georges Bourdin, extraído de uma história em imagens, onde 
J.-M. Charlier conta a vida de Cochise, publicada na revista “Jeannot”, em 1957.


Um extrato de outra história de Jean-Michel Charlier, desenhada por Claude Pascal, publicada na revista "Pilote" nº 25, de 25 de abril de 1960, contando ainda a história de Cochise e do oficial Bascom. Mas o nome de J.-M. Charlier não aparece: é uma história no anonimato.


Em “Fort Navajo”, Cochise corta a tenda com uma maestria de quem denota um longo hábito. Normal, ele já se livrou com a mesma prática em outra HQ assinada Charlier e Bourdin.


O grande roteirista publica duas outras histórias distintas em 1957. Na revista mensal “Jeannot”, criada por ele e René Goscinny em fevereiro e financiada pela publicidade, nós encontramos histórias em cores compostas de oito quadrinhos com, sob cada um, um texto de uma dezena de linhas. Essas histórias reais em duas páginas, escritas por Jean-Michel Charlier, são intituladas: “Ils ont vécu une grand aventure” (“Eles viveram uma grande aventura”). Uma conta um episódio da vida do chefe apache Cochise; publicada em “Jeannot” em julho, ela é desenhada por Georges Bourdin, que se especializou em ilustrar romances policiais no início dos anos 1950. Nós notamos que a autêntica aventura do tenente de cavalaria, em confronto com tribos indígenas do Arizona e do Novo México, pouco após a Guerra de Secessão, será reaproveitada nas ficções de Jean-Michel Charlier, em todos os primeiros episódios de “Blueberry” (“Fort Navajo”). Georges Bourdin representará exatamente as mesmas cenas que desenhará Jean Giraud, em 1964, nas páginas de “Pilote”. O texto narra um acontecimento – e cita um nome conhecido dos leitores de “Blueberry”: o oficial Bascom – fielmente reprisado em “Fort Navajo”.


Ainda em 1957, Jean-Michel Charlier escreveu um romance ilustrado publicitário um pouco especial, com figurinhas que eram coladas nas páginas de um álbum, contando a história do cowboy Jim Flokers (tirado do nome da marca de produtos alimentícios Floker’s, o principal patrocinador). Os desenhos são de Albert Uderzo: as figurinhas precisavam ser recortadas das embalagens de cereais.


Tentativa de publicação, em história em quadrinhos, do romance ilustrado de Jim Flokers 
em “Le Supplément illustré”, projeto de Jean-Michel Charlier e René Goscinny, em 1957.


A primeira aventura de Jim Flokers tem por título “La Diligence de Santa Fé; uma sequência é anunciada, mas nunca verá a luz do dia. De modo que os leitores não souberam o final da aventura, cujo título, contudo, foi dado: “L’Énigme de la mine perdue” (“O Enigma da Mina Perdida”) Isso deve soar familiar aos fãs de “Blueberry”... Em “Le Supplemént illustré”, um projeto de revista montado pelo trio Charlier/Gosciny/Uderzo, esse romance deveria ser adaptado em HQ, com o mesmo desenhista. Infelizmente, esse projeto não veria a luz do dia. No entanto, no último diálogo da única meia página realizada como ensaio por Albert Uderzo, a referência aos Montes da Superstição salta aos olhos. Jean-Michel Charlier voltará a falar neles por duas vezes em “Blueberry”, em particular no famoso episódio “La Mine de l’Allemandu perdu” (“A Mina do Alemão Perdido”) e na sua continuação “Le Spectre aux balles d’or” (“O Espectro das Balas de Ouro”).


Steve Howard, Blueberry imaturo, é desenhado por Ref, em 1958. Ref é 
assinatura e o diminutivo de René Follet, ilustrador e desenhista belga.


A capa da revista “Pilote” nº 236, de 30 de abril de 1964, com uma ilustração de Jean Giraud e o 
anúncio do lançamento do segundo episódio de Blueberry – “O retorno do herói de Fort Navajo: Tonnerre sur l’Ouest” -, cujo título, em seguida, mudaria para “Tonnerre à l’Ouest”.


Em seguida vem, sobretudo, no ano seguinte, um romance seriado publicado no hebdomadário “Tintin”, de julho de 1958 a março de 1959. Seu título: “Tempête à l’ouest” (um álbum da série “Fort Navajo” terá por título “Tonnerre à l’ouest”...). A trama detalhada e certo número de peripécias são exatamente aqueles dos cinco primeiros episódios da série “Blueberry”, lançada em “Pilote”, cinco anos mais tarde, com o título de “Fort Navajo”. Aparecem personagens idênticos no romance e na série “Blueberry”. O roteiro, inspirado no fato real já contado por Charlier em “Jeannot”, em 1957, evoca o conflito entre os índios Navajos e os soldados da cavalaria americana, seguido ao rapto das crianças de um fazendeiro, do qual os índios são falsamente acusados. O herói, Steve Howard, tem o mesmo nome que Blueberry no início da série em quadrinhos. Somente no início, porque ao longo da história, Charlier atribuiu, por distração, ao personagem Blueberry o nome Mike, que ficará... René Follet é ainda o ilustrador dessas peripécias. Um capítulo do romance, na revista “Tintin”, se intitula “Coup d’audace”. Foi também o título de um álbum da série “Dan Cooper” escrito (anonimamente) por Jean-Michel Charlier dois anos mais tarde. Outro capítulo se intitula “Le Bout de la piste” (“Tintin”, de 19 de março de 1959). Estranhas coincidências: “Le Bout de la piste” (“O Fim da Pista”) é o título do último capítulo do romance e o título do último álbum do ciclo da série “Blueberry” iniciado com “Le Trésor des Confédérés” (“O Tesouro dos Confederados”), e foi, sobretudo, o último álbum de “Blueberry” escrito inteiramente por Jean-Michel Charlier, antes de seu falecimento.

















Jean-Yves Brouard
Site: www.jybaventures.net
Blog: http://jybaventures.blogspot.fr 


Fonte das imagens: Jean-Yves Brouard: Duas imagens exclusivas para o blog Blueberry, uma Lenda do Oeste: 1) Uma vinheta de “Fort Cheyenne”, a primeira história western de Jean-Michel Charlier; 3) Uma vinheta da história sobre Cochise e o oficial Bascom, escrita, no anonimato, por J.-M. Charlier. Imagens publicadas, na revista “Casemate Hors série” nº 3, abril de 2012, juntamente com o artigo Aux sources de Blueberry... : 2) O chefe Cochise na história publicada em “Jeannot”, em 1957; 3) As vinhetas de “Fort Navajo”, com Cochise cortando, novamente, uma tenda, extraídas da revista “Pilote” nº 230, de 19 de março de 1964; 4) A vinheta de “Les Aventures de Jim Flokers” para o projeto da revista “Le Supplément illustré”; 5) Uma vinheta do romance seriado “Tempête à l’ouest”, com Steve Howard, Blueberry imaturo, extraída da revista “Tintin” nº 527, de 27 de novembro de 1958. adesso.blogspace.fr: a capa da revista “Pilote” nº 236, de 30 de abril de 1964, anunciando o segundo episódio de Blueberry. bedetheque.com: a fotografia de JYB.

Tradução: Tradutor: Afrânio Braga. Revisor: Pedro Bouça.

A série “Blueberry” foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.

Blueberry © Jean-Michel Charlier, Jean Giraud, Dargaud Éditeur
Aux sources de Blueberry... © Jean-Yves Brouard
Casemate © Pommes Presse


terça-feira, 15 de outubro de 2013

50 anos de “Blueberry”

Mike Steve Blueberry, à esquerda, em trajes de tenente da Cavalaria americana e, à direita, em trajes civis. Desenhos de Jean Giraud.


Em 31 de outubro de 1963, no número 210 de “Pilote”, no quinto ano da revista semanal francesa, publicada pela editora Dargaud, foi lançada a história “Fort Navajo”, em capítulos, que originou a série “Fort Navajo, les aventures du Lieutenant Blueberry”, em seguida chamada de “Les aventures du Lieutenant Blueberry”, depois “Lieutenant Blueberry” e, enfim, “Blueberry”. Inicialmente, o personagem principal seria o próprio Forte Navajo, contudo, o Tenente Blueberry, no decorrer das narrativas, assumiu esse lugar.


O anúncio de lançamento do álbum "Fort Navajo" na revista "Pilote" nº 323, de 21 de outubro de 1965:
FORT NAVAJO Primeiro álbum da série das aventuras do célebre Tenente Blueberry, herói 
de "Pilote", ACABA DE SAIR Toda a história das guerras apaches O melhor "WESTERN" 
das publicações juvenis À venda em toda parte ao preço de 5,90 Francos


Dois Jean foram os criadores de Mike Steve Blueberry, personagem western da história em quadrinhos franco-belga, que ficou famoso no mundo inteiro: Jean-Michel Charlier, o Alexandre Dumas da Bande Dessinée, escritor belga, o maior roteirista de BD francófona, foi o criador literário, e Jean Giraud, também conhecido por Mœbius, o maior desenhista de HQ de todos os tempos, foi o criador gráfico.


Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, por Mœbius. © Aedena.


Michael Stephen Donovan, nome verdadeiro do Tenente mais amado do Oeste, foi inspirado, por Jean-Michel Charlier, durante uma viagem pelos locais das futuras aventuras blueberryanas, em oficiais que existiram no Exército americano, cujos, por causa das insubordinações a determinadas ordens dos seus superiores, eram transferidos a postos isolados na Fronteira para combater os peles-vermelhas e, se possível, encontrar a morte naquelas regiões remotas da Conquista do Oeste.


Blueberry, aliás, Tsi-Na-Pah, prestes a matar uma águia, levá-la à aldeia central
dos Apaches e entregá-la a Chini, sua pretendente a noiva, para que essa enfeite
o seu enxoval de casamento. Prancha 21 do álbum "Nez Cassé" ("Nariz Partido"),
de Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, publicado por Dargaud Éditeur em 1980.


Foi Jean Giraud, ao ler o sumário de um antigo volume da revista “National Geographic”, quem escolheu o nome Blueberry para o personagem, que é referência no gênero western e também conhecido por outro apelido, Tsi-Na-Pah (Nariz Partido), entre os índios, por causa do seu nariz quebrado, durante a Guerra de Secessão, pelo General Dodge, fato narrado na série “A Juventude de Blueberry”. O cabeçudo, tinhoso, teimoso, desobediente tenente tem um apelido insólito, Blueberry, dado por ele mesmo, no primeiro episódio de sua juventude, cujo se trata de uma fruta muita apreciada, a qual é chamada, em português, de mirtilo.


O chefe Vittorio, Chini, sua futura esposa, à frente dos Apaches, em fuga para o
México, na ilustração da capa do álbum "La Tribu fantôme" ("A Tribo Fantasma"),
de Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, publicado por Hachette em 1982.


Ladeado por valentes companheiros, como o garimpeiro Jimmy McClure e o guia Red Neck, e várias namoradas, entre as quais Harriet Tucker, Nugget Harrington, Soledad San Miguel, Tess Bonaventura, Chihuahua Pearl (Lily Calloway) e pretendentes, a exemplo de Katie Marsh e Chini, a filha do chefe Cochise, Blueberry vive as suas aventuras marcadas pela coragem, astúcia e, principalmente, amizade.


Blueberry e Chihuahua Pearl em uma noite romântica, passada em uma gruta. 
Prancha 14 do álbum "Arizona Love" ("Arizona Love"), de Jean-Michel 
Charlier Jean Giraud, publicado por Alpen Publishers em 1990.


No tempo em que era tenente, Blueberry foi xerife, em duas ocasiões, na série “Blueberry”, e delegado federal, na série “Marshal Blueberry”. Após dar baixa do exército, ele passou a viver na célebre Tombstone, no Arizona, fazendo, no seu retorno à vida civil, aquilo que mais gostava: jogar pôquer, beber uísque, fumar charutos e namorar uma bela mulher, dessa vez Dorée Malone, morena de olhos verdes e cantora de saloon, um dos lugares preferidos de Mike.


Blueberry, em uma mesa de pôquer, com Jimmy McClure à sua esquerda, por Giraud.


O universo de Blueberry evoluiu conjuntamente com a arte dos seus criadores. Os roteiros de Jean-Michel Charlier se desenvolveram com mais suspense e reviravoltas e os desenhos de Jean Giraud, que assinava Gir nas histórias em quadrinhos western e Mœbius naquelas de ficção científica, apresentaram pranchas com quadrinhos distribuídos de forma inédita, para a época, e um enquadramento cinematográfico, que fizeram escola a nível mundial.


O quadrinho 6 da prancha 29 do álbum "Mister Blueberry" ("Mister Blueberry"),
 de Jean Giraud, roteiro e desenhos, publicado por Dargaud Éditeur em 1995.


Em 2013, a série “Blueberry” completa 50 anos de vida editorial. A saga do Tenente Blueberry é e/ou foi publicada em diversos países como Alemanha, Brasil, Bélgica, Bulgária, Croácia, Espanha, Estados Unidos da América, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Itália, Índia, Inglaterra, Iugoslávia, Japão, Noruega, Polônia, Portugal, Sérvia, Sri Lanka, Suécia, e distribuída em vários outros como Canadá, Liechtenstein, Luxemburgo, Mônaco, San Marino e Suíça.


Mike Steve Blueberry, por Jean Giraud.


Enquanto Jean-Michel Charlier e Jean Giraud cavalgam nas pradarias celestiais, em meio a índios, soldados, cowboys, donzelas, garimpeiros, Blueberry continua a fascinar milhões de leitores em toda a Terra.

Afrânio Braga


Fonte das imagens: theairtightgarage: o Tenente Blueberry, ao lado de um escudo indígena e uma cabeça de búfalo; a página 21 do álbum “Nez Cassé”; a página 14 do álbum “Arizona Love”; Blueberry, jogando pôquer, e Jimmy McClure; o quadrinho 6 da página 29 do álbum “Mister Blueberry”; Orano Factory: Blueberry sentado, com um rifle; jmcharlier.com: o anúncio, na revista “Pilote”, da estreia do álbum “Fort Navajo”; comic-historiestas: os retratos de Charlier e de Giraud por Mœbius; “Blueberry”, apontando um revólver, em trajes civis; artcurial: a ilustração da capa do álbum “La Tribu fantôme”.

As datas de publicações dos álbuns referem-se ao ano de lançamento na França.

Blueberry © Jean-Michel Charlier, Jean Giraud, Dargaud Éditeur


sábado, 12 de outubro de 2013

"Blueberry" nº 3 “L’Aigle solitaire”

“Blueberry”

Roteirista: Jean-Michel Charlier
Desenhista: Jean Giraud

Em matéria de western, Blueberry constitui a referência absoluta. Foi em 1963, que é criado esse personagem, para “Pilote”, por Charlier e Giraud. Eles estabelecem de saída um sólido soldado que surge como o sósia de Belmondo. A semelhança se esfumaça ao longo dos episódios.

Blueberry é um cabeçudo: tinhoso, nem sempre respeitador do rigor militar, indisciplinado, ele não hesita, às vezes, em desertar para melhor completar suas missões. O roteiro utiliza todos os lugares comuns do western americano, com tudo quilo que ele precisa de reviravoltas e personagens pitorescos (Mc Clure, Angel Face, Red Neck, Chihuahua Pearl, etc. - sem contar os índios que são reabilitados pelos autores, ponto de vista adotado também em “Cartland”).

Paralelamente ao ciclo clássico da saga de “Blueberry”, Giraud desenha, entre 1968 e 1970, a juventude do futuro tenente. Essa “série” retoma seu curso, em 1985, sob o lápis de Colin Wilson, muito respeitador do estilo imposto por Giraud. Os álbuns, sucessivamente, têm sido editados por Dargaud (22 títulos, o essencial da base), em seguida por Fleurus/Hachette, depois por Novédi e, enfim, por Alpen para a novidade desenhada por Vance. A Dargaud inicia a reedição dos álbuns “Blueberry” como novas maquetes e novas cores.

Fonte: Dargaud Éditeur.



Capa de "L'Aigle solitaire", uma das reedições.


Prancha 1.


Prancha 2.


Prancha 3.


Prancha 4.


Prancha 5.


Ficha técnica

“L’Aigle solitaire”
“Águia Solitária”
Roteiro: Jean-Michel Charlier
Desenhos e capa: Jean Giraud
Cores: Claude Poppé
Volume: 3
Ano de publicação da primeira edição: 1967
Número de pranchas: 46
Gênero: Western
Preço: 11.99 €
Formato: 22,5x29,8 cm
Público: Todos os públicos – Família
Dargaud Éditeur, Paris, França

N. C.: 1) A notar que o título do álbum não deveria ser “L’Aigle solitaire”, mas “Aigle Solitaire” somente, sem artigo, porque o título do álbum reproduz o nome do índio, o qual não tem o artigo. Jean-Yves Brouard. 2) Recolorização: Claudine Blanc-Dumont.

Fonte das imagens: Dargaud Éditeur.



A capa da 1ª edição.



A prancha 1 da 1ª edição.



A contracapa da 1ª edição.

Fonte das imagens: Bedetheque.


L'AIGLE SOLITAIRE
Terceiro episódio

Esse episódio foi publicado em “Pilote” entre 22 de outubro de 1964 e 8 de abril de 1965.

Jean-Michel Charlier, que muito rápido quebrou, com Blueberry, os códigos narrativos do western clássico, declara à época: “O personagem do “herói” foi imposto a nós como anti-herói no sentido westerniano do termo. O cinema nos habituou a esses folgados, esses desajustados simpáticos que viviam as aventuras heroicas, apesar, um pouco, de si mesmos. Na história em quadrinhos, era diferente: esse arquétipo não existia ainda, nós não víamos os reparadores de injustiças – “solitário e longe de sua casa” ou não -, que manejava o colt para defender a ordem, a viúva, o órfão e a Paz americana... Como eu não desejava reanimar esse gênero de personagem, eu me lembrei daqueles tipos dos quais alguém me falou nos Estados Unidos, aqueles autênticos cabeças-quente, aqueles “soldados malvados”, cujos o exército se desembaraçava os enviando aos confins dos lugares perdidos do Oeste, com a missão oficial de “anular o Índio” e a secreta esperança que eles se fizessem matar.”.

Fonte: Blueberry L’Intégrale / 1. Anthology – Les classiques de la bande dessinée. Charlier – Giraud. Éditions Niffle, Bélgica, 2002.


Após ter salvado o jovem Stanton das garras dos Mescaleros (ver “Tonerre à l’Ouest”), Blueberry está cansado e se encontra adormecido, em um bosque, na companhia do rapaz. Ele é descoberto por uma patrulha, que o leva diretamente ao forte. Ali, recuperado de sua fadiga, o coronel nomeia Blueberry como escolta para transportar um comboio protegendo as munições para Forte Bowie. Lá, ele vai ter muito o quê fazer, pois os índios rodeiam e fazem algumas emboscadas. De mais, no interior do comboio, um homem coloca paus nas rodas para retardá-los...
Esse terceiro volume das aventuras do tenente Blueberry é rico em ação e permite perceber que o tenente é um ardiloso estrategista, mas longe das convenções habituais. Há, por sinal, grandes momentos de ação, notadamente durante a passagem do rio e quando eles chegam perto do Forte Bowie. Além disso, é muito espetacular.
Há também bons personagens como Quanah, que não tem um olho, o scout do comboio e O’Reilly, que traz o humor, pois é o bêbado de plantão. O antecessor de Jimmy McClure? E se revê Graig, o tenente rigoroso, em Forte Navajo.
Conclusão: é um excelente álbum, rico em ação, que faz igualmente avançar a história, pois, no fim da aventura, Blueberry tem conseguido ajustar, com seu superior, uma negociação com Cochise.
Para ler sem falta!!!
Laurente V


"L'Aigle solitaire" - "Águia Solitária"

Essa aventura foi publicada na revista "Pilote" entre 22 de outubro de 1964 e 8 de abril de 1965, e lançada em álbum em 1967, sendo o terceiro volume do ciclo Forte Navajo. As Primeiras Guerras Indígenas (álbuns 1 a 5) - Arizona, Novo México e Texas. Junho de 1867 a Maio de 1868. Acontecimentos históricos: Negócio Bascom, As Guerras Indígenas e A Construção do Caminho de Ferro. A reedição, de maio de 2003, traz a ex-colorista da série paralela "A Juventude de Blueberry", Claudine Blanc-Dumont, como autora das cores.

Na revista “Pilote” Nº 285, de 8 de abril de 1965, o final de “L’Aigle solitaire” (“Águia Solitária”) anunciou erradamente que o episódio seguinte seria “La Piste des Apaches” e não o correto “Le Cavalier perdu” (“O Cavaleiro Perdido”); as primeiras edições, em álbum, mantiveram o erro, que foi corrigido, também erradamente, para "La Piste des Navajos", episódio seguinte a "Le Cavalier perdu", até, finalmente, ter esta última história, a correta, anunciada - "Le Cavalier perdu".

“La Pista des Apaches” (“A Pista dos Apaches”) é uma história inexistente na série “Blueberry”, há “A Pista dos Navajos” e “A Pista dos Sioux”, ambas publicadas, pela Editora Abril, no Brasil. No último quadrinho de “L’Aigle solitaire”, vemos o Tenente Graig a cavalo, rumo ao nascente, cena inspirada, por Jean Giraud, no tradicional final de “Lucky Luke”, “poor lonesome cowboy” criado por Morris, cavalgando em direção ao poente.

O guia índio de Blueberry, Quanah-de-um-olho-só, ou simplesmente Quanah, é caolho, utiliza um tapa-olho esquerdo, pode ser visto na capa e é um espião dos Apaches infiltrado na Cavalaria. O título do álbum é o seu nome de chefe de guerra, Águia Solitária. Um guia do Exército é chamado, em inglês, de "scout", que também significa "batedor", "explorador".

"Blueberry" foi uma publicação mensal da Editora Abril, cuja divisão infanto-juvenil e de histórias em quadrinhos era chamada de Editora Abril Jovem, ou era uma editora à parte daquela principal. "Águia Solitária" foi lançado em novembro de 1990, em cores, sendo o número 2 da série brasileira, enquanto na original francesa era o terceiro. O formato dos álbuns era um pouco menor do que aqueles da Dargaud Éditeur, porém as tiras eram do mesmo tamanho.

A Editora Vecchi ainda chegou a anunciar, no final de "Tempestade no Oeste", o terceiro episódio da série: "A Águia Solitária"; infelizmente, Blueberry teve apenas dois volumes pela extinta editora.

A série “Blueberry” foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.
Blueberry nº 3 L'Aigle solitaire © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur 1967
Blueberry © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur

Afrânio Braga

Edições do grupo Média-Participations na Livraria Amazon Brasil

Editora Mythos

Editora Pipoca e Nanquim

Editora Trem Fantasma


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

“Blueberry” nº 2 “Tonnerre à l’Ouest”

Capa de "Tonnerre à l'Ouest", uma das reedições


“Tonnerre à l’Ouest”

Os Apaches reuniram todas suas tribos para decidir se entram ou não em guerra com os caras-pálidas. Enquanto isso, Forte Navajo, cercado por muitos desses índios, está isolado do mundo. A angústia reina no interior do forte, no qual vários grandes chefes apaches são mantidos prisioneiros.

Após uma traição do Tenente Crowe, que parece condenar o forte, Blueberry decide partir para buscar, em Tucson, reforços e medicamentos para tratar o agonizante Coronel Dickson. Ele vai sobreviver a essa travessia do deserto e retornará a tempo? Os Apaches, que estão associados a mexicanos aproveitadores de guerra, parecem ter feito a população abandonar toda a região...  

O tenente Blueberry mais jovem do que nunca! Trinta anos após sua criação, aqui está suas primeiras aventura com novas cores. Jean Giraud, achando que seus álbuns tinham necessidade de uma reforma, desejava concretizar esse projeto após muito tempo. Claudine Blanc-Dumont está atrelada à tarefa sob o olho vigilante do mestre.

Álbuns destinados aos fãs incondicionais de “Fort Navajo”, mas também a toda uma nova geração que descobriu essa série de Jean-Michel Charlier e Jean Giraud, que faz doravante parte dos grandes clássicos do gênero.

Toda a coleção dos “Blueberry” lançados pela Dargaud se beneficiará pouco a pouco desse renascimento.

Fonte: Dargaud Éditeur.


Prancha 1.


Prancha 2.


Prancha 3.


Prancha 4.


Prancha 5.


Ficha técnica

“Tonnerre à l’Ouest”
“Tempestade no Oeste”
Roteiro: Jean-Michel Charlier
Desenhos: Jean Giraud e Jijé
Capa: Jean Giraud
Cores: Claude Poppé
Volume: 2
Ano de publicação da primeira edição: 1966
Número de pranchas: 46
Gênero: Western
Preço: 11.99 €
Formato: 22,5x29,8 cm
Público: Todos os públicos – Família
Dargaud Éditeur, Paris, França

N. C.: Recolorização: Claudine Blanc-Dumont

Fonte das imagens: Dargaud Éditeur.



A capa da 1ª edição.



A prancha 1 da 1ª edição.



A contracapa da 1ª edição. O volume 1, “Fort Navajo”, foi
publicado em La Collection Piloteo segundo volume saiu na
série Fort Navajo une Avventure du Lieutenant Blueberry,
que mudou de título algumas vezes até a atual Blueberry.

Fonte das imagens: Bedetheque.


TONNERRE À L'OUEST
Segundo episódio

Esse episódio foi publicado em “Pilote” entre 30 de abril e 1º de outubro de 1964.
O rosto de Blueberry evoluiu fortemente ao passar dos anos, mas nós encontramos, ainda nessa história, quaisquer traços das origens gráficas do personagem desenhado por Giraud: “Na estreia, com Charlier, nós quisemos tomar Belmondo como modelo. À época, ele era uma espécie de símbolo para os rapazes de minha geração. Mas eu fiz mal em manter a semelhança. Um dia, eu tive o bastante e eu fiz, pouco a pouco, alguma coisa que terminasse por parecer simplesmente Blueberry, nariz partido, o rosto sempre mais ou menos barbado, sujo; quanto aos cabelos, eles são mais ou menos longos. Mas, para mim, que saía da guerra da Argélia com um imenso desejo de recuperar o tempo perdido, minha grande ambição era de chegar a fazer uma história em quadrinhos aceitável pelo roteirista, o editor e o público.".

Fonte: Blueberry L’Intégrale / 1. Anthology – Les classiques de la bande dessinée. Charlier – Giraud. Éditions Niffle, Bélgica, 2002.


Forte Navajo está tenso, porque a guerra tem explodido e mais índios são prisioneiros no forte devido a uma armadilha estendida por Bascom, o novo comandante do forte, pois o General está morrendo por causa de uma picada de serpente. Blueberry organiza uma saída para ir a Tucson comprar um medicamento para curar o General...
Esse segundo volume é intensamente movimentado. Há uma evasão indígena, Blueberry está ocupado com os mexicanos, há, igualmente, um grande trecho de bravura em Tucson.
E dado que é de Charlier, há reviravoltas em abundância, notadamente no fim com a dupla improvável Crowe e Blueberry.
Conclusão: é uma segunda aventura bem sucedida.
Laurente V


"Tonnerre à l'Ouest" - "Tempestade no Oeste"

As aventuras de Blueberry foram publicadas em "Pilote" (1963 a 1973), "Tintin" (1975), "Super As" (1979 a 1980), "L’Echo des Savanes (1981) e "Libération" (1986); e em álbuns das editoras Dargaud, Fleurus, Hachette, Novedi e Alpen Publishers.

Gir, um dos pseudônimos de Jean Giraud, o outro é Mœbius, com o qual é igualmente famoso, ou até mais, foi auxiliado por seu antigo mestre, agora parceiro, Jijé. Essa história foi publicada em "Pilote" entre 30 de abril e 1º de outubro de 1964, e lançada em álbum em 1966, é a segunda do ciclo Forte Navajo. As Primeiras Guerras Indígenas (álbuns 1 a 5) - Arizona, Novo México e Texas. Junho de 1867 a Maio de 1868. Acontecimentos históricos: Negócio Bascom, As Guerras Indígenas e A Construção do Caminho de Ferro.

Não chove uma gota nessa história: o cavalo "Gringo", de Blueberry, morre de sede no deserto e o Tenente escapa tomando água de cacto. O título "Tempestade no Oeste" faz alusão ao conflito entre os brancos, civis e militares (casacos azuis), e os índios (peles-vermelhas) liderados por Cochise, chefe de todas as tribos Apaches - Acomas, Mescaleros, Navajos, Tontos e Zunis participam dos combates.

"Forte Navajo, uma Aventura do Tenente Blueberry", ou apenas "Forte Navajo", foi uma edição especial de "Eureka", da extinta Editora Vecchi, assim como o volume anterior. No expediente da revista a periodicidade consta como mensal, porém o segundo número é de março de 1980, dois meses após o lançamento da série, que durou somente esses dois álbuns em preto e branco: 1. Forte Navajo e 2. Tempestade no Oeste.

A Editora Abril lançou a série "Blueberry", em cores, em outubro de 1990, um mês após a Graphic Novel 21 "Forte Apache". Como o primeiro número foi utilizado em outra série, "Tempestade no Oeste", o número 2 da série original, passou a ser o número 1; além disso, a editora optou por apresentar, na capa, Jean Giraud com o seu pseudônimo de Moebius, ao lado de Charlier.

A série “Blueberry” foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.
Blueberry nº 2 Tonnerre à l'Ouest © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur 1966
Blueberry © Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur

Afrânio Braga

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