A Biografia
de Blueberry
Um nome
bizarro, que tinha, certamente, melhor conveniência a uma moça (1) que a esse soldado por acaso, surgido
súbito de nenhuma parte, nesse 8 de julho de 1867, na pista ligando Forte
Defiance a Forte Navajo, Arizona, em pleno território apache, em uma época onde
isso “trovava” duro, com Cochise e seus diabos vermelhos!
Portanto,
ele não tinha nada de uma moça, esse robusto, astuto, cabeludo, sujo, barbado,
a pele curtida pelo sol e o vento do deserto! A dizer verdade, com seu uniforme
imundo, fedendo a suor e à poeira, ele não tinha grande coisa a mais de um
militar, apesar das pontas de galões foscos que se desfiavam sobre seus ombros,
e o grande sabre na bainha amassada, que batia a garupa do seu cavalo.
Onde ele
tinha apanhado seus galões de tenente? Seguramente não em West Point (2)! Nem soprando na
corneta maltratada, que ele arrastava, como uma veia porta (3)! Isso era tudo que
alguém podia saber, naquele tempo, em Forte Navajo, que ele vinha de uma
guarnição no Tennessee. Isso, salvo quando ele ia beber um gole, ele guardava
fechado consigo! (...) nos dados, como no pôquer, era uma verdadeira
autoridade! Em algumas noites memoráveis, ele ganha seis meses de soldo dos
velhos suboficiais da guarnição, portanto, de temíveis expertos! (...)
Blueberry discutia com os punhos duros como martelos e, sobretudo, ele sacava seu
“seis tiros” e alojava as seis balas nos centros de moedas de 25 centavos, em
menos da metade do tempo que ele precisava para enviar um trago de
esquenta-tripas, mesmo o mais forte, ao fundo da garganta – isso não era pouco
a dizer! Com isso, ele era capaz de aguentar vinte horas, perfilado, plantado
sobre um cavalo, sem colocar pé em terra, nem secar somente uma bolha nas
nádegas!
Apesar de
sua popularidade entre os soldados e de extraordinários talentos de batedor de
pistas, ele falhou bastante em reconhecer que seu senso muito pessoal de
disciplina, sua incorrigível propensão a reclamar e a discutir, seu hábito de
sempre fazer pela sua cabeça – e, de preferência, ao avesso das regras dos
manuais militares – não o fizeram ser tão apreciado por seus superiores. Mas,
ali onde ele perdeu toda esperança de promoção, foi quando ele se põe a ter, um
pouco demais abertamente, uma cálida simpatia pelos índios, que o Governo
pagava – mal, isso é verdade – para combater. Foi de uma indecente
incongruência, nessa época, em cuja todos os coronéis, das guarnições do Oeste,
sonhavam em ganhar sua primeira estrela “anulando o pele-vermelha” e, em cuja,
um senador de Washington ousou dizer, no Congresso, que “os únicos índios bons
eram os índios mortos” (4).
(...) Blueberry,
ou, ao menos, aquele que todo o Oeste conhecia por esse nome, morreu em
Chicago, nonagenário, em 5 de dezembro de 1933, na mesma tarde em cuja o
Presidente Franklin Delano Roosevelt assinou o Ato de Abolição da Proibição (5).
O único retrato
de Blueberry, cuja autenticidade seja segura, figura sobre esse quadro,
executado por um pintor americano, durante a Guerra de Secessão (provavelmente
em 1863). Blueberry está ao centro, de chapéu.
Sua vida
começa, em 30 de outubro de 1843, em Red Wood Grove, uma grande e bela mansão
colonial, situada próximo de Augusta, Geórgia, no coração do “Deep South” (6), em uma terrível noite
de tempestade, em cuja uivava o vento e as trombas d’água despencavam do céu,
riscada por grandes relâmpagos claros.
O nascimento
do futuro Blueberry foi saudado pelos tiros de canhão, ensurdecendo os raios, e
pelos gritos de desespero das matronas negras, devido, dando luz a um bebê de
oito libras (7),
robusto e já cabeludo, sua mãe, Cynthia Donovan, veio a morrer! Era uma dessas
frágeis e indolentes mulatas, metade fogo, metade gelo, que são as mais
encantadoras lembranças que os Franceses deixaram na Louisiana, após dois
séculos de colonização!
Slim Phips
Donovan, um irlandês irrequieto, grande e vermelho, de 20 anos mais velho, mas
que possuía uma das mais belas plantações de algodão de toda a Dixieland, ficou
loucamente apaixonado e se casou, seis anos antes do nascimento de Mike, em
Nova Orleans, onde ele foi para comprar um lote de escravos, com Cynthia, filha
de um rico armador, que tinha 18 anos e as pessoas cochichavam que ela era, de
fato, a filha do famoso pirata Jean Laffitte, para quem, antes do seu pai, a
sua mãe tinha feito favores.
Órfão desde
o seu nascimento, o pequeno Mike Steve Donovan – era assim que ele havia sido
batizado - foi confiado a Mammie Deborah, uma opulenta e faladora babá negra,
espessa como um touro, e que as suas quatro anáguas, imaculadas e farfalhantes,
a deixavam ainda mais imponente. Ela o cria com a ciumeira inquieta de uma
tigresa. O bebê cresce, embalado pelos cânticos tristes e ritmados, que
cantavam, em coro, os negros que colhiam o algodão.
Aos quatro
anos, Mike era um menino obstinado e vigoroso, sempre tentando lutar, seminu,
em meio à poeira, com os negrinhos da plantação, e que tremia, com eles, ao
ouvir as histórias das terríveis aparições do Barão Samedi, que eram contadas
por um velho escravo antilhano, grande sacerdote do culto vudu.
Desde que
ele foi capaz de agarrar-se firmemente na crina de um cavalo, seu pai, que
tinhas as ideias bem fechadas sobre a educação que ele devia inculcar a um
futuro cavalheiro do Sul, coloca seu filho escanchado sobre um cavalo seis
vezes maior para ele e o treina em uma desenfreada galopada, apesar dos gritos
aterrorizados de Mammie Deborah. O jovem Mike sobrevive extasiado, mas coberto
de hematomas, porquanto ele tinha sido despejado da sela várias vezes. Desde
então, ele passa a maior parte de sua vida a cavalo, galopando, até perder
fôlego, através das florestas de eucaliptos; cavaleiro e montaria encapotam-se
de teias de aranhas e vegetais, que os fazem parecer fantasmas. Verão como
inverno, ele nadava nas águas claras de Savannah, e caçava como um louco,
devido a seu pai, sempre fiel a seus princípios de educação, ele havia
aprendido o manejo do Colt e da Spencer, bem antes da Bíblia ou de uma
gramática. Breve, aos doze anos, Mike era um perfeito selvagem, imundo,
grosseiro, analfabeto, blasfemando com um pagão, porém mais hábil ao tiro e no
rastreamento que qualquer frequentador de albufeiras (8) e capaz de julgar a qualidade de um
negro somente pela cor de suas gengivas.
O RECLUSO DE
NOVA ORLEANS
Massa (9) Donovan, com os olhos cerrados pelas
mesmas queixas de todos os vizinhos, em cujas terras Mike, furtivamente,
caçava, pilhava as armadilhas e soltava os negrinhos, acaba por se dar conta
que seu único rebento tinha mais as maneiras de um delinquente que aquelas de
um cavalheiro do Sul. Radical, como era seu hábito, ele fez ensaboar Mike, por
Deborah, no grande caldeirão de cobre, que servia para cozinhar o melaço; o
fardo de um redingote (10) e de calças à francesa, que o faziam
parecer um símio vestido, e o leva consigo a Nova Orleans, onde ele o
matriculou como internato no melhor colégio da cidade, uma verdadeira prisão,
mantido pelos Jesuítas e situado na Bourbon Street, no bairro do Vieux Carré.
Todas as grandes famílias da Louisiana internavam ali seus herdeiros na
esperança que os padres inculcariam neles o francês, alguns rudimentos de latim
e de boas maneiras.
Nos
primeiros meses, o jovem Mike se comporta como um animal colocado em jaula. No
início, ele foi a gargalhada de todos os seus colegas em colarinho de renda, e
também pálidos, como as roupas brancas deles, pela falta das febres que traz o
ar úmido do delta do Mississipi. Isso não dura muito tempo. Sozinho contra
todos – mas, isso não ia lhe fazer medo! -, Mike empreende de espancá-los, um a
um, aquilo que ele valia, certamente, de intermináveis semanas de calabouço e
de pão seco, mas também uma paz de reinado e um respeito terrificante.
UM
VERDADEIRO CAVALHEIRO DO SUL
À força, de
ter as nádegas curtidas pelas chibatas dos bons padres, o jovem enraivecido
termina por se acalmar e por adquirir um semblante de elegância: ele aprendeu a
comer com higiene, a cantar os salmos, a beijar as mãos das damas, e mesmo a
dançar. O êxito foi nitidamente menos brilhante do lado do latim e da
matemática, mas se bem que Mike termina por saber ler, escrever e contar
corretamente. Ele adquiriu igualmente importantes rudimentos de história,
geografia, ciências, francês e espanhol. Nas grandes férias, ele se apressava,
fora de seu colégio, como um animal selvagem fugitivo, e reencontrava Red Wood
Glove. A cada outono, seu pai devia realizar organizar uma verdadeira caçada
para recuperá-lo e o reconduzir, à força, a Nova Orleans.
Aos dezesseis
anos, Mike começou a pular o muro todas as noites. Ávido e extasiado, ele
descobriu o paraíso proibido das ruas úmidas, odorantes e calorentas de Nova
Orleans, cheias de jocosos cavalheiros portando bigodes afilados e abotoaduras
“à imperial”. A multidão das carruagens barulhentas, de belas damas lânguidas,
que os negros agaloados, em peruca de neve e roupas à francesa, conduziam com
grandes estrondos sobre os pequenos paralelepípedos sonoros e brancos de lua.
As velhas casas floridas, com varandas e com balaustradas de ferro, também
finamente forjadas como adorno, se impregnavam de capitosas fragrâncias de
canela, de mint-julep (11),
de tabaco da Virgínia, misturadas às rajadas de banjos (12), de risos e de tinidos
de cravo (13). No caís
de madeira, que batia a onda amarela e possante do velho Mississipi, entre as
pirâmides de bolas de algodão, ele aprendeu a jogar o cutelo, em todos esses
dias, que o diabo inventa para a alegria dos marinheiros e o proveito dos
trapaceiros profissionais dos show-boats (14),
cintilantes de luz e cuspidores de orgulhosos penachos de fumaça preta pelas
suas altas chaminés gêmeas.
Pela manhã,
na qual, após uma noite em claro, passada gratuitamente, e às ocultas, nos
braços de uma bela mulata, joia da acolhedora casa de uma das “madames” do
bairro francês, ele se esquece de acordar, e foi vergonhosamente e solenemente
expulso do colégio, sob as vaias hipócritas, mas invejosas de seus colegas, não
irritados – aliás, como os bons padres – de se livrar dessa praguejada cabeça de
porco da Geórgia.
Massa
Donovan, indo buscar seu filho malandro, se mostra muito digno. Ele o reconduz
a Red Wood Glove, depois, frente a frente, o fez despir na casa onde ele
prendia os escravos fugitivos, depois prosseguiu, empunhou muito calmamente o
chicote de couro de serpente, que servia para corrigi-los, e infligiu, a seu
rebento, uma surra, que força o jovem Mike a ficar de cama, uma semana, e o
impele a se sentar, de lado, um mês. Após isso, o pai decidiu que ele estava em
idade de se iniciar nos trabalhos da plantação, ele o embruteceu de trabalho,
com uma função, sob condição climática tal, que a única vontade, cuja o
demasiado ardente jovem ainda sonhava, após dez horas passadas a cavalgar sob o
sol tórrido e a poeira, era de se abater sobre sua cama, todo vestido, e de
dormir, como um bicho, até a primeira batida de sino que, ao amanhecer,
reenviava os negros ao trabalho. Homem sábio, sabendo que o sol do Sul fazia
ferver o sangue dos jovens homens, Massa Donovan fez tudo na prática, que nas festas
cristãs, o jovem Mike, como bom cavalheiro, podia acabar por se incitar, em
companhia de jovens mulatos, com um oitavo de sangre negro, da plantação, que
ele escolhia e fazia desemporcalhar minuciosamente, ele mesmo, os vendendo em
seguida, cada vez, para evitar toda tola afeição da parte do seu desmiolado
filho.
Dois anos
passam assim, cortados somente pelas festas da Independência, do Dia de Ação de
Graças, ou do fim da colheita, que, de cem milhas (15) em volta, faziam convergir, logo rumo
a uma, logo rumo à outra plantação, as filas de elegantes carruagens, repletas
de damas imponentes, cujas sombrinhas minúsculas protegiam as bochechas,
manchadas de ponche, e os enxames das jovens donzelas, aveludadas como os
pêssegos, que suas crinolinas (16),
estalantes de goma, as faziam parecer grandes flores de cores suaves, e os
enxames de cavalheiros brincalhões, com panamá (17) e redingote branco, suas botas
brilhando como sóis, as acompanhavam galantemente. Eles faziam piquenique
embaixo dos grandes cedros. Sob o olhar atento e esperançoso de suas mães,
combinando os casamentos do próximo inverno, os jovens herdeiros se estafavam
em inocentes jogos da sociedade, enquanto que os homens disputavam os bajulados
créditos de melhor cavalheiro viajante, e, entre duas narrativas de suas
recentes vantajosas fortunas, em Savannah, Memphis ou Nova Orleans, arriscavam,
despreocupadamente, apostas enormes nas brigas de galo ou nos negros, que eles
se divertiam fazendo boxear. À noite, eles dançavam a perder o fôlego, sob as
árvores iluminadas por lampiões, ou nos amplos salões brilhantes de cristais,
todas as janelas abertas sobre a noite cravejada de estrelas e odorante da
fragrância adoçada das magnólias. As recepções duravam dias, durante os quais
todo esse belo mundo devorava as montanhas de provisões: presuntos da Virgínia,
perus, caças d’água, tartarugas e bois inteiros, que os escravos assavam em
grande fogo sobre os gramados. Eles represavam oceanos de ponche, de chá
gelado, de rum nativo e de vinhos finos, importados da França, com grande
frescor.
Caçando,
bebendo, batendo, comendo, sempre por montes e vales, com todas o cortejador do
condado (17). Mike S.
Donovan foi a coqueluche dessas reuniões. As belas e lânguidas herdeiras
enrubesciam à sua aproximação e suas mães detalhavam complacentemente o número
de escravos e os milhares de hectares (19) de boa terra em algodão, que, um dia,
ele veria sua.
“LONG SAM”
1861 chega.
Há muito tempo não havia dúvida, nas reuniões domingueiras, da patifaria dos
Yankees (20), que,
encorajando os negros a fugir, organizando as fileiras de evasão rumo ao norte,
e de um grande diabo de advogado barbudo, faminto e desalinhado, de nome
Lincoln, cujos discursos, pacifistas, mas provocantes, inflamavam o zelo dos
pastores e das velhotas solteironas fanáticas de Boston e de Nova York. Mike S.
Donovan estava bem longe de todo esse estrondo inquietante. Entre duas farras
com os janotas da vizinhança, ele frequentava, cada vez mais assiduamente,
White Lodge, uma plantação próxima daquela de seu pai. Ali, vivia Harriet
Tucker, uma encantadora moça de 18 anos, cujo coração batia mais rápido, a cada
vez que o passo do cavalo de Mike soava sobre os cascalhos da grande alameda.
Massa Tucker, um viúvo irascível, que tinha ouvido das noitadas tumultuosas e
mais e mais frequentes de Mike, em Nova Orleans, não contemplava aquilo com
bons olhos.
Além do
mais, Massa Tucker, que enxergava longe, sabia bem que Abraham Lincoln tinha
razão e que nada mais já não poderia impedir o desmoronamento da fabulosa e
doce prosperidade do Sul, construída sobre o algodão e os escravos. Em segredo,
ele sonhava em ver as coisas se arranjarem pacificamente e se irritava com as
fanfarronadas vaidosas e provocantes de Mike Donovan e de todos os jovens
sulistas imponentes de sua laia. Ele também preferiria que sua filha esposasse
seu primo Ronnie, que vivia com eles. Dois anos de idade a mais do que ela,
Ronnie, ambicioso, amadurece por sua pobreza, seria feito um marido ideal e um
sucessor, em todos os pontos, capaz de retomar, um dia, a direção da imensa
propriedade, cuja Harriet herdaria. Mas, era em vão fazer entender a razão a
uma jovem desmiolada, como todas as moças da Geórgia.
O som de
trovão, que iria decidir a existência de Mike Donovan, e fazer desse jovem e
rico herdeiro do Sul um decadente e obscuro tenente da cavalaria yankee,
explodida por uma tépida noite de 1861, e foi por obra diabólica de Ronnie,
secretamente roído de ciúme e doente de ódio, com pensamento de ele ver escapar
o coração de sua demais bela prima e os milhões do velho Tucker.
Nessa noite,
Mike S. Donovan, enlameado, exausto, chega a White Lodge, e lá pede a
hospitalidade para a noite. Sua montaria, branca de espuma e suor, tremia de
fadiga sobre suas patas e não o teria carregado mais longe. No final de um
laço, atado ao pomo de sua sela, o cavaleiro levava Long Sam, um gigante negro
que fugiu de Red Grove House, dez noites antes, e que seu jovem dono tinha
acabado de recuperar, e forçar à viagem, como um animal, ao curso de uma
exaustiva e terrível perseguição.
No Sul,
nessa época, um viajante era sagrado. Apesar de sua antipatia, Massa Tucker fez
então enclausurar sob seu teto e convida Mike. À mesa, eles se põem a falar da
possível explosão da União e a iminência da guerra civil, que ameaçava. A
conversa bifurca sobre o escravo fugitivo, de cujo foi a terceira evasão, e que
Mike jurou açoitar publicamente e de marcar com ferro em brasa, após seus
retorno a Red Wood Grove, para dar um exemplo em frente aos outros escravos. O
velho Tucker explode. Uma tal barbárie, afirmava ele, que poderia contribuir
com os argumentos dos abolicionistas yankees. Ele ofereceu a Mike, para ele
resgatar Long Sam, o dobro de seu preço. Apesar dos prantos e das súplicas da
espantada Harriet, a disputa torna-se violenta, que, sem esperar de ser ver
lançado fora, Mike decide partir imediatamente, não obstante a noite e seu
cavalo o arrebentar na estrada.
Mas, quando
ele quis recuperar Long Sam, ele encontra a cela vazia e a porta escancarada:
alguém tinha libertado o escravo! Ninguém – e, sobretudo, Mike! – não duvida
que fora um golpe de Ronnie, que, surpreendendo a discussão deles, e, na
esperança de terminar de confundir a morte dos dois homens, tinha feito fugir
Long Sam. Seu plano maquiavélico saiu-se bem totalmente! Em vão, o velho
plantador protestou veementemente não ter nada com a evasão, e ele passou até a
oferecer, como compensação a Mike, uma lembrança, que, após cem anos,
constituía um áspero motivo de discórdia entre as suas duas famílias: uma
espada de honra outrora ganhada por um Tucker, na batalha de Yorktown, mas que
um Donovan avaliava ter mais merecimento; Mike, louco de raiva, exigia seu
cavalo e sair, para aguardá-lo.
Diante de
sua filha, em lágrimas, e sua criadagem, que acudiu aos gritos, Massa Tucker,
ferido, mas que, com verdadeiro cavalheiro, estimava dever indenização ao seu
jovem hóspede, pelo prejuízo inesperado, que foi involuntário de sua parte a
ele, ordena a Ronnie colocar, cuidadosamente, o estojo, contendo a espada de
honra, na sela de Mike, mas sem ele saber disso. Fazendo isso, o velho homem
forneceu, sem suspeitar de seu sobrinho, a ocasião aguardada de se assegurar definitivamente
a mão de Harriet e White Lodge. A ocasião também de esquivar-se da verificação
de contas da plantação, que Ronnie falsificava fazia vários meses, para quitar
suas dívidas de jogo. O perverso guarda a espada, que ele esconde, e coloca o
estojo vazio na sela da montaria de seu rival.
TRAGÉDIA EM
WHITE LODGE
Quando ele
volta a trazer o cavalo, ao jovem Donovan, uma nova discussão estoura entre ele
e o seu hóspede, na varanda, para ele significava de não mais recolocar os pés
em White Lodge e de renunciar a tudo mais, a Harriet. Perdendo todo controle,
Mike berrava ao velho plantador, que ele se vingaria dessa afronta sangrenta, e
tomaria sua filha, de bom-grado ou à força, para esposá-la. Enquanto Harriet
desmaiava e Massa Tucker, louco de cólera, corria para buscar um fuzil, Mike
pulou na sela e disparou a galope.
Duas horas
mais tarde, revistando sua sela, para procurar o quê friccionava seu cavalo,
que mancava, o jovem imponente encontra ali o estojo da espada... Ele rápido
enrubesce! Passado um segundo, ele não duvida que essa caixa vazia fora,
maquiavelicamente, escondida ali, sob ordem do velho plantador, para acusá-lo
de roubo e o desacreditar aos olhos de Harriet. Embriagado de cólera, ele fez
meia-volta.
Passava da
meia-noite, quando ele, o estojo vazio sob o braço, penetra de novo nas terras
de White Lodge. O céu avermelha-se sinistramente. Esquecendo logo a sua ira, o
cavaleiro, o coração corroído de angústia, esporeia sua montaria.
A grande
mansão dos Tucker não era mais que uma enorme fogueira em redor da qual se
agitavam, ironicamente, todos os negros da plantação e os plantadores vizinhos,
acudindo com seus próprios escravos, ao apelo do toque do sino da propriedade.
Mike nem teve mesmo tempo de colocar pé em terra. Sangrando, despenteada, meia
louca, Harriet, o rosto preto de fuligem, seu belo vestido chamuscado e
rasgado, se arremessa sobre ele, todas as garras de fora, berrando
histericamente: “Assassino! Assassino!”.
Apontando
rumo a ele um dedo acusador, Ronnie, que dirigia a luta contra o incêndio, se
coloca também a berrar:
- “Foi ele
quem colocou fogo em White Lodge, para eliminar os traços de sua infame
vingança... Quando a fumaça nos revelou, nós descobrimos meu tio, o coração
atravessado pela espada, que ele tinha ordenado, diante de todos, de repor a
espada a esse patife! Esse crápula teve a audácia de retornar, para
assegurar-se que nada pudesse o acusar!”.
PROCURADO
POR HOMICÍDIO
Ninguém
tinha dúvida: o assassinato do velho Tucker e o incêndio da mansão foram, de
fato, obra de Ronnie.
Todo mundo
em White Lodge acreditava na espada em posse de Mike. Após a partida dele,
Ronnie, à noite, foi servir-se da arma, para matar seu tio, depois, para melhor
dar crédito à ideia de uma vingança de seu rival, tinha colocado fogo na mansão
e foi se deitar, fingindo um repentino despertar, quando os criados tinham dado
o alerta.
Tudo acusava
Mike Donovan: sua disputa com Massa Tucker, suas ameaças, a espada, de cuja ele
detinha o estojo vazio, a impossibilidade de provar onde ele estava, se
efetivamente distante de White Lodge! A malta berrante, de todos aqueles que
estavam lá, se lança rumo a ele para linchá-lo. Enlouquecido, incapaz de se fazer
entender, ele volta seu cavalo e inicia a fuga a galope. Para Harriet, para
todo mundo, foi uma confissão de culpa.
Atrás do
fugitivo, a perseguição se organiza, conduzida por Ronnie. Outros cavaleiros
dão o alarme em toda parte. Mike nem tenta mesmo retornar para a casa dele, em
Red Wood Grove. Alguém já devia o esperar ali. De imediato, sua única chance de
salvação consistia em pôr as fronteiras de dois ou três Estados entre e a malta
que o caçava. Durante cinco dias, esfomeado, rastreado como um animal selvagem,
ele galopa rumo ao Norte, sobre um cavalo esgotado.
“EU ME CHAMO
BLUEBERRY!”
Na última
noite, no coração de uma floresta, ele percebe um fogo. Meio morto de fome, ele
se aproxima. Ninguém. Nada além de uma galinha, em vias de assar. Esquecendo
toda prudência, Mike se lança sobre a comida. Dez segundos mais tarde, o cano
de um revólver se cola em sua nuca. Braços levantados, o jovem homem se vira,
solta um grito de estupor e de desespero: Long Sam o tinha face a face, também
estupefato como ele. Mas o fugitivo não era o fim de suas surpresas.
Triunfante, o negro informa a ele que a guerra acaba de explodir entre o Sul e
o Norte e que ele esperava, desde o amanhecer, encontrar os postos avançados
nortistas, todos próximos.
- “Tu estás
salvo, hein, negro?” Zomba amargamente o jovem Donovan. “Vai, vinga-te!
Mata-me! Os Yankees te felicitarão, e, mesmo aqui, tu terás direito a uma
recompensa! Minha cabeça foi colocada a prêmio! Para todo mundo, eu sou o
assassino de Massa Tucker!”.
Long Sam
sacode gravemente a sua cabeça:
- “Inútil
usar de ardis comigo, mestre! Eu sei bem que foi Massa Ronnie quem matou o velho
senhor!”.
Os olhos de
Mike se arregalam.
- “Eu vi!”
Continua Long Sam. “Massa Ronnie me libertou e deu esse revólver, me dizendo
para correr. Mas eu retornei, à noite, a White Lodge. Eu queria penetrar na
mansão e vos matar. Foi então que, por uma janela, eu vi Massa Ronnie entrar na
casa de Massa Tucker, o matar com uma espada, e colocar fogo com uma vela. O
alerta foi dado e o despertou. Eu fugi. Eu sei bem que o senhor não é o
assassino!”.
Mike Donovan
fica um longo minuto, sem voz, como fulminado. O mistério foi esclarecido. E
existia uma testemunha, capaz de provar sua inocência, de livrá-lo aos olhos de
Harriet, de desmascarar o verdadeiro culpado!
As lágrimas
nos olhos, o orgulhoso herdeiro de Red Wood Grove hesitava em se humilhar
diante do escravo, a implorar para ele testemunhar em favor de sua inocência e
de sua honra. “Para quê?”, ele pensava. “Esse negro imundo não renunciará
também a uma maravilhosa desforra.”.
Foi então,
que Long Sam dá uma lição nele, cuja lembrança não deveria jamais deixar a
memória do jovem Sulista e que, nessa noite, desordena tudo aquilo que tinha
sido sua convicção profunda até então. Desistindo da oportunidade de liberdade
que o aguardava ao amanhecer, Long Sam oferece, espontaneamente, a seu mestre,
voltar e o ajudar a inocentar, devendo ele perder a sua liberdade!
Transtornado
de gratidão e emoção, Mike não teve tempo de aceitar. Berros estouram. Uma
malta de cavaleiros, trazidos por Ronnie, desce dos matos. Long Sam se atira
diante deles:
- “Não atirem!”,
ele grita... “Massa Donovan é ino...”.
Ele não pôde
terminar e desaba, morto, impassivelmente, por Ronnie, pálido de medo. Mike
Donovan já havia sacado, com um grito de desespero. Seu colt dispara, lançando
o assassino ao solo.
Ele causa
uma ligeira indecisão entre os cavaleiros. Mike aproveita para pegar, em um
voo, a montaria de Ronnie, que, desmontada, passava perto dele, estribos ao
vento. Sob uma saraiva de balas, encalçado pela malta, o fugitivo fustiga,
direto diante dele. Uma só ideia badalava a sua cabeça, como um sino: Long Sam,
morto, Ronnie, morto, mais a menor esperança doravante de jamais provar sua
inocência!
O pior! Aos
olhos da Justiça, ele era culpado de um segundo homicídio!
Seu cavalo
espumante seria abatido, e já seus perseguidores o alcançariam, quando uma
chama de salvação parte de um bosque, que ele esforçava-se em cortar ao meio.
Os sobreviventes esvoaçaram, se dispersando como um voo de pardais. Atônito,
não ousando crer nesse socorro inesperado, Mike S. Donovan imobiliza seu
animal. Um punhado de soldados azuis, que jorrava dos arbustos, o cerca. Sua
esperteza se põe a funcionar a toda velocidade. Confessar a verdade seria a
forca. Uma oportunidade louca, providencial se oferece a ele. O oficial, que o
socorre, logo o interrogava, ele entendia em respondia, como em um sonho:
- “Aqueles
sujeitos queriam me linchar. Eu ajudei um escravo fugitivo a alcançar seus
postos avançados, mas eles o mataram! Vocês encontrarão seu cadáver a uma milha
daqui!”.
- “Então,
você é um dos nossos?” – questiona o oficial, sem investigar antes.
- “... Eu...
Eu queria me juntar ao Norte!”.
- “Para se
alistar? Boa ideia, meu rapaz! Não procure mais longe! Alguém vai lhe dar um
uniforme e um fuzil regulamentar! Seu nome?”.
Um nome?
Os olhos de
Mike S. Donovan vacilam, buscam, tolamente, um socorro em tudo ao redor dele. O
amanhecer iluminava a clareira. Na erva espessa, pequenos cachos azuis
brilhavam, perolados de orvalho. Os mirtilos...
- “Seu
nome?”, repete o oficial, impaciente.
Em um tom,
que ele se esforçou em firmar, o jovem homem, então, balbucia:
- “Blueberry (1)... Mike Steve
Blueberry!”.
Assim, nesse dia, entra na História o soldado Blueberry que, doravante, não dava jamais seu verdadeiro nome!
Assim, nesse dia, entra na História o soldado Blueberry que, doravante, não dava jamais seu verdadeiro nome!
Fonte: Trechos da biografia de Mike Steve Blueberry, escrita
por Jean-Michel Charlier, o seu criador literário, publicada pela Dargaud
Éditeur, Paris, França, no álbum “Ballade pour un cercueil” (“Balada para um
Caixão”), desenhos de Jean Giraud, em 1974.
“Com
essa biografia, nós colocamos o dedo em uma engrenagem louca. Nós temos aberto
essa possibilidade de tratar Blueberry de maneira panorâmica, fazer lançar, em
simultâneo aos álbuns, onde ele é jovem, menos jovem e porque não, um dia,
velho? Nós poderíamos mesmo contar a história da sua morte sem, para tanto, que
a série acabe. Blueberry é um companheiro de vida extremamente familiar. Ele é
uma parte de mim mesmo, então eu tomei cuidado de não cair no fetichismo. Foi
por isso que eu fiz os esforços para deixá-lo escapar, o confiando a outros. No
fundo, Blueberry conhecia a angústia de estar condenado a viver por seu
criador.
A escolha
do nome foi minha. Eu amei o som, a fonética de Blueberry, e isso,
imediatamente, satisfez Jean-Michel. Pode ser por isso que ele tenha dado a
ideia de fazer um Sulista que passa ao Norte. Quanto à escolha de Belmondo (21), para os traços, isso
traiu bem uma vontade. Alguém não imaginou então, que Bébel (21) iria se tornar em tal ícone popular. Para
nós, foi justo uma figura da Nouvelle Vague (22) com um ar profano, um físico atípico com
respeito aos primeiros jovens em voga. Ele tinha um aspecto de rapazinho.
Assim, eu introduzi no universo da BD (23) da época, principalmente adolescente, uma
referência a uma outra cultura, mais de vanguarda.
Jean-Michel
tinha compreendido, imediatamente, que esse desvio, dos cânones da BD
tradicional, constituía um formidável trunfo. Um público novo, que emergia, não
se encontrava no ultraconservadorismo de uma série como, por exemplo, “Tanguy
et Laverdure”. Charlier tinha captado, perfeitamente, essa escorregadela.
Até ali,
foi verdade que a BD era com assaz assepsia. Não se fazia mais do que se livrar
dos sinais da aflição dos seres, de suas patologias; da morte, em suma.”
Jean
Giraud em “Hors Collection Blueberry Les Monts de la Superstition”. Charlier,
Giraud. Paris, França. Dargaud Éditeur, 2003.
Jean-Michel
Charlier utilizou parte da biografia de Blueberry, de “Long Sam” a “Eu me chamo
Blueberry!”, no roteiro integral de “Le secret de Blueberry” (“O Segredo de
Blueberry”), o primeiro de três episódios publicados em “A Juventude de
Blueberry”, volume inicial, lançado em 1975, com título homônimo ao da série,
em cuja Jean Giraud utilizou um traço rascunhado, distinto daquele de
“Blueberry”, com menos quadrinhos por página, pois a série, da juventude do
Tenente, foi usada como uma nova experiência gráfica do artista e também
publicada, os álbuns desenhados por ele, em formato bolso na coleção
“Super-Pocket Pilote”.
O texto
da primeira página da história “Le secret de Blueberry”
“O
Segredo de Blueberry”, por Gir e Charlier.
1861. A
escravidão sempre maltrata no Sul dos Estados Unidos, onde os negros são a
riqueza dos plantadores de algodão. Mas a eleição de Lincoln à Presidência
ameaça a sua potência.
À
tardinha, em White Lodge, uma das maiores plantações da Geórgia.
- “Oh,
papai! Olhe. É maravilhoso! Mike Donovan nos faz uma visita!”.
- “Calma,
filhinha! Tu sabes que eu não gosto nem um pouco de te ver andar ao redor desse
jovem imponente! Um cabeça oca. Sempre a circular com os piores libertinos!”.
-
“Mas papai! É um excelente partido. Ele herdará, um dia, a plantação de Red
Wood! É o mais fino cavaleiro e o melhor dançador de todo o condado!”.
-
“Interessa-te antes por teu primo! Ronnie te ama! É um excelente administrador
e eu tenho uma confiança total nele!”.
As cinco
primeiras cinco páginas de “Le secret de Blueberry”
Glossário do blogue
(1) Blueberry, em inglês, mirtilo, em português: é um arbusto que pertence à família das Ericáceas (família da azálea). As plantas são arbustos de pequeno porte nativos da Eurásia e que também crescem em sub-bosques das florestas temperadas na Europa. Existe também o mirtilo americano, uma espécie nativa da América do Norte. Em 1983, a Embrapa introduziu o mirtilo no sul do Brasil; trata-se de algumas variedades cultivadas na Europa em regiões nas quais o inverno é bastante rigoroso.
(2) A Academia Militar dos Estados Unidos da América, em inglês, United States Military Academy at West Point, conhecida também como Academia de West Point, West Point, Army, The Academy, The Point ou simplesmente pela sua sigla em inglês, USMA, é uma escola militar e forte do Exército dos Estados Unidos. Criada em 1802, é a escola de armas mais antiga do país. Os estudantes ingressam como cadetes do exército. Os cadetes também são chamados de "Longa Linha Cinza" por causa da cor de seus uniformes. A academia fica em West Point, Nova York, às margens do rio Hudson, cerca de 80 km ao Norte da cidade de Nova York. Ocupando uma área de 65 km², tem um dos maiores campus escolares do mundo e uma combinação única de equipamentos incluindo pista de esqui, um reator nuclear escolar, um campo de instrução para o treinamento escolar dos cadetes, contando ainda com toda uma estrutura de prédios e equipamentos esportivos típicos de um campus universitário americano. O local foi ocupado inicialmente em 1778, sendo assim a mais antiga área militar dos Estado Unidos da América.
(3) Veia porta: a veia porta hepática (às vezes chamada simplesmente de veia porta) é uma veia porta no corpo humano que drena sangue do sistema digestivo e de suas glândulas associadas. É um dos principais componentes do sistema venoso porta hepático.
(4) A frase “Os únicos índios bons que já vi estavam mortos” foi dita, pela primeira vez, por Philip Henry Sheridan (1831-1888), General do Exército norte-americano, que participou da Guerra Civil (ou Guerra de Secessão) e das Guerras Indígenas.
(5) Ato de Abolição da Proibição: Revogação da Lei Seca.
(6) Deep South: Dá-se o nome Deep South (que se poderia traduzir como Extremo Sul ou Sul Profundo) à região cultural e geográfica dos Estados Unidos da América composta por Estados no sudeste do país. Há, contudo, várias definições, entre as quais:
• Carolina do Sul, Mississippi, Flórida, Alabama, Geórgia e Louisiana (seis dos fundadores dos Estados Confederados da América);
• Geórgia, Flórida, Alabama, Mississippi e Louisiana (segundo o Dictionary of Cultural Literacy);
• Os sete Estados que separaram dos Estados Unidos antes do conflito de Fort Sumter e do início da Guerra Civil Americana, e originalmente formaram os Estados Confederados da América: Carolina do Sul, Mississippi, Flórida, Alabama, Geórgia, Louisiana e Texas;
• Alabama, Arkansas, Louisiana e Mississippi;
• Grande parte do original "Cotton Belt" (“Cinturão de Algodão”), que se estende da Carolina do Norte e Carolina do Sul até aos Estados com costa no Golfo do México, incluindo assim o Texas Oriental, partes do Tennessee e Arkansas.
O Deep South costuma-se definir por oposição ao Old South, o Velho Sul, que inclui a Carolina do Sul, a Carolina do Norte, a Virgínia e a Geórgia. Assim também é diferenciado dos Estados interiores de Kentucky, Tennessee, Virgínia Ocidental e Arkansas, bem como dos periféricos Flórida e Texas.
(7) Oito libras: 3,6 quilos.
(8) Albufeira: do inglês, dos Estados Unidos, “bayou”, pode se referir a lago pantanoso formado pelas águas do mar, ou a riacho salobro, ou a córrego ou rio que corre extremamente lento. As albufeiras são comumente encontradas na Costa do Golfo, na Região Sul estadunidense, notadamente no Rio Mississippi, tornando a Louisiana famosa; foi nesse Estado que o termo “bayou” foi usado pela primeira vez, originado da palavra “bayuk”, que significa “pequeno riacho” na língua dos nativos Choctaw. A Costa do Golfo, nos Estados Unidos, por vezes referida como Golfo do Sul, Costa Sul, ou Costa, compreende o litoral dos Estados americanos que estão no Golfo do México, que inclui Texas, Louisiana, Mississippi, Alabama e Flórida e são conhecidos com os Estados do Golfo. A Costa do Golfo é composta de muitas enseadas, baías e lagoas. A costa também é cortada por vários rios, dos quais o maior é o Mississippi. Grande parte da terra ao longo da Costa do Golfo é, ou era, pântano. A área da Costa do Golfo é vulnerável a furacões, bem como inundações e fortes tempestades.
(9) Massa: nome dado, às vezes, pelos escravos afro-americanos aos seus senhores sulistas. No Brasil, nhonhô era o tratamento que os escravos davam aos seus senhores.
(10) Redingote: casaco largo e comprido.
(11) Mint-julep, em inglês, julepo de hortelã, em português: é uma bebida alcoólica típica do Sul dos Estados Unidos e, tradicionalmente, feita com quatro ingredientes: hortelã, uísque, açúcar e água.
(12) Banjo: é um instrumento de corda da família do alaúde, de corpo redondo, com uma abertura circular na parte posterior. Consta de uma armação circular, atualmente produzida em PVC, sobre a qual se retesa uma pele (antigamente pregada, hoje presa por um mecanismo de cola sintética), um braço longo e fino, com trastes e cordas metálicas ou de tripa retorcida. Baseado em vários instrumentos africanos, foi desenvolvido nos Estados Unidos pelos escravos negros, no século XVII, e adotado por grupos ambulantes de músicos brancos, no século XIX. É muito usado na música folk estadunidense e pelos grupos de bluegrass. Posteriormente, teve grande importância na música jazz.
(13) Cravo: é a designação dada a qualquer dos membros de uma família europeia de instrumentos musicais de tecla, incluindo os grandes instrumentos, comumente chamados de cravo, mas também os menores: virginal, o virginal muselar e a espineta. Todos esses instrumentos pertencem ao grupo das cordas beliscadas, ou seja, geram o som tangendo ou beliscando uma corda ao invés de percuti-la como no piano ou no clavicórdio. Acredita-se que a família de instrumentos desse tipo se originou quando um teclado foi anexado a um saltério, fornecendo um meio mecânico para tanger as cordas. O tipo de instrumento, que em português é chamado de cravo, é geralmente chamado de clavicembalo, ou simplesmente cembalo em italiano, e esta última palavra também é, geralmente, utilizada em alemão. A palavra francesa, tipicamente usada, é clavecin. Confusamente, a palavra mais utilizada na Espanha, para o cravo, é clavicordio, gerando confusão com o clavicórdio. Por essa razão, nos círculos musicais espanhóis, os locutores utilizam a palavra italiana ou, mais comumente, a palavra francesa. Um cravista é um músico que toca o cravo.
(14) Show-boat: barco a vapor fluvial em que se davam espetáculos.
(15) Cem milhas: 160,93 quilômetros.
(16) Crinolinas: eram armações usadas sob as saias para lhes conferir volume, sem a necessidade do uso de inúmeras anáguas.
(17) Panamá: chapéu feito de tiras de folhas de palmeira. O chapéu-panamá (também grafado sem o hífen) é um chapéu que, apesar do nome, é fabricado no Equador (onde é chamado de El Fino), especialmente em Cuenca e Montecristi. Possui cor clara e pode ter vários formatos. É fabricado com a palha da planta Carludovica palmata, encontrada no Equador e em países vizinhos, e tecida em trama fechada. Já foi dito que recebeu este nome porque o presidente estadunidense Theodore Roosevelt usou-o durante uma visita ao canal do Panamá, em 1906. Em razão disso, chapéu tornou-se moda, principalmente para homens, até a Segunda Guerra Mundial. Contudo, o Dicionário Oxford registra que esse termo é usado desde pelo menos 1834. Inicialmente era um produto exclusivamente masculino. Ainda hoje o chapéu é utilizado no verão, tanto por homens como por mulheres. Por vezes simboliza o ambiente praieiro tropical.
(18) Condado: cada um dos Estados, nos Estados Unidos da América, está subdividido, administrativamente, em territórios chamados condados (country, em inglês); com exceção do Alasca, onde tais divisões são chamadas de distritos (boroughs, em inglês), e da Louisiana, onde são chamadas de paróquias (parishes, em inglês).
(19) Hectare: é um unidade de medida de área equivalente a cem ares ou a dez mil metros quadrados e cujo símbolo é ha.
(20) Yankee: a palavra yankee, em português ianque, está relacionada com os Estados Unidos da América. Era originalmente remetida aos habitantes da Nova Inglaterra, localizada ao nordeste do país. O termo teve origem em meados do século XVII devido a grande presença de holandeses na Nova Inglaterra, onde muitos dos quais se chamavam "Jan" (em português João, pronunciado yan) e assim, do apelido “Janke” ("Joãozinho"), originou-se o termo em inglês Yankee. Durante a chamada Guerra de Secessão (1861-1865), o vocábulo popularizou-se na antiga colônia britânica. Para os confederados, os “Yankees” eram os soldados e, em geral, os habitantes dos Estados do norte. Uma vez que os Estados Unidos carecem de um verdadeiro gentílico, pois o termo “estadunidense” pode perfeitamente ser aplicado aos mexicanos (já que o nome oficial do México é Estados Unidos Mexicanos) assim como o termo norte-americano pode ser aplicado também a mexicanos e canadenses, a palavra “Yankee” em muitos países e dos mais variados idiomas é adotada para se referir ao cidadão oriundo daquele país. No Reino Unido essa termologia é muito usada, assim como "Yank" forma abreviada, e nos países lusófonos pode-se encontrar a forma aportuguesada “ianque”. O gentílico ianque é muito popular na América, exceto no Canadá. Em inglês o primeiro registro da palavra 'Yankee' está na música Yankee Doodle, que os ingleses cantavam para ridicularizar os colonos da Nova Inglaterra. Durante a revolução de 1776 os militantes contra a metrópole britânica cantavam esta música como se tratasse de hino, com o qual se identificavam. Na MLB jogam os New York Yankees, e graças a eles esse termo se popularizou em todo o mundo.
(21) Belmondo, Bébel: Jean-Paul Belmondo (Neuilly-sur-Seine, 9 de Abril de 1933) é um ator francês, filho do famoso escultor parisiense Paul Belmondo (1898-1982) e da dançarina Madeleine Belmondo. É também conhecido como Bébel. Na juventude, não foi muito bem nos estudos, mas desenvolveu uma grande paixão pelo boxe e pelo futebol. Pensou em se tornar boxeador profissional, mas desistiu após duas lutas. Começou a atuar aos 17 anos de idade. Em 1954, conseguiu o ingresso no Conservatório de Paris e iniciou sua carreira no cinema em 1955, com diversos papéis secundários. Sua primeira grande performance foi em "À bout de souffle" ("O Acossado"), de Jean-Luc Godard, em 1960, que o tornou um dos grandes atores da Nouvelle Vague. Em 1964, esteve no Brasil para filmar "O Homem do Rio", em cenas coloridas no qual aparece a recém-fundada Brasília, uma relíquia histórica da nova capital. Em 2001, foi internado por duas semanas, devido a um acidente vascular cerebral, mas se recuperou de forma excelente.
(22) Nouvelle Vague: A Nouvelle Vague (Nova Onda) foi um movimento artístico do cinema francês que se insere no movimento contestatório próprio dos anos 1960. No entanto, a expressão foi lançada por Françoise Giroud, em 1958, na revista "L’Express" ao fazer referência a novos cineastas franceses. Sem grande apoio financeiro, os primeiros filmes conotados com esta expressão eram caracterizados pela juventude dos seus autores, unidos por uma vontade comum de transgredir as regras normalmente aceitas para o cinema mais comercial.
(23) BD: Bande Dessinéé, na França, Banda desenhada, BD, história aos quadradinhos, em Portugal, história em quadrinhos, quadrinhos, gibi, HQ, revistinha, no Brasil, é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais variados gêneros e estilos. São, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras publicadas em revistas e jornais. Também é conhecida por arte sequencial e narrativa figurada. A história em quadrinhos é chamada de "Nona Arte" dando sequência à classificação de Ricciotto Canudo. O termo "arte sequencial" (traduzido do original "sequential art"), criado pelo desenhista Will Eisner com o fim de definir "o arranjo de fotografias, ou imagens, e palavras para narrar uma história ou dramatizar uma ideia", é comummente utilizado para definir a linguagem usada nesta forma de representação, sendo, no entanto, um termo mais abrangente já que uma fotonovela e um infográfico jornalístico também podem ser considerados formas de arte sequencial.
O retrato do Tenente Blueberry, em pé, entre dois colegas de farda, foi pintado por Peter Glay, que trabalhou na revista “Pilote”, de 1968 a 1984 e, como Pierre Tabary, o seu verdadeiro nome, de 1962 a 1964; e, após criar e desenhar diversos personagens, ele faleceu em 18 de outubro de 2011.
A biografia de Michael Stephen Donovan, o nome verdadeiro de Mike Steve Donovan, uma lenda do Oeste, que se autoapelidou de Blueberry e era chamado, pelos índios Apaches, deTsi-Na-Pah (Nariz Partido), por causa do nariz quebrado, na juventude, pelo General Dodge.
A série "Blueberry" foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.
Ballade pour un cercueil ©
Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur 1974
La Jeunesse de Blueberry ©
Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur 1975
Blueberry ©
Jean-Michel Charlier / Jean Giraud - Dargaud Éditeur
Afrânio Braga
Edições
do grupo Média-Participations na Livraria Amazon Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário