CATALOGUE DE L'EXPOSITION
Blueberry
by
Gir
LA
MAISON
DE LA
BANDE
DESSINÉE
Exposition
Blueberry
by Gir
De 15
de janeiro a 14 de junho de 2009
Nós
desejamos agradecer a Isabelle e Jean Giraud
pela
sua preciosa colaboração.
Todas
as obras expostas provêm de coleções privadas.
Nós
agradecemos calorosamente a todas as pessoas
que
contribuíram para essa exposição.
A
série “Blueberry” foi criada por Jean-Michel Charlier e Jean Giraud.
Todas
as imagens extraídas dos álbuns “Blueberry” são
©
Dargaud, Giraud, Charlier.
Esboço
da capa por Christophe Fumeux.
É um cowboy
solitário longe de seu lar. No mítico far-west, entre os casacas azuis e os
peles-vermelhas, os bêbados pés-inchados e as moças de vida ruim, ele passeia
seu ideal nos saloons mal-afamados e nas grandes planícies desérticas, estando
ele, hostil a toda forma de autoridade estabelecida e de violência gratuita, a
serviço da viúva e do órfão. Bloody Hell! Seria ele Lucky Luke? Demais polido.
John Wayne? Demais real! Mais irreverente e menos tridimensional, está bem
próximo do famoso tenente Mike “Blueberry” Donovan, o herói do western criado
por Jean-Michel Charlier (1924-1989) e desenhado por Jean Giraud. Referência do
gênero após mais de 45 anos, essa figura doravante incontornável dos clássicos
das histórias em quadrinhos franco-belga conhece uma aventura editorial
exemplar. Gira sobre uma série que viceja bem o cavalo e a poeira...
BLUEBERRY
BY GIR
O
western como uma manifestação
Os dois homens têm
vários pontos comuns, como suas viagens ao Oeste americano, sua fascinação pelo
gênero western, um desenho muito detalhado... ...e mesmo suas iniciais que
impedirá Giraud de utilizar as suas, daí o pseudônimo “Gir”. Ele admira o
estilo e a obra do mestre, mas o desejo de voar com suas próprias asas acabará
por levá-lo.
Era um jovem homem de
apenas 25 anos que entrou para a revista francesa “Pilote”, em 1963. Ele foi
solicitado pelo genial roteirista Jean-Michel Charlier, então diretor da
revista, para um projeto de western. Deve ser dito que o pequeno Jean foi
alimentado toda sua vida. As grandiosas paisagens do Oeste americano atingem
sua imaginação, e o cinema da época fez o resto. Embora... ...um certo Joseph
Gillain, dito Jijé, teve igualmente forte influência sobre sua obra. Durante um
ano, Giraud trabalhou em seu estúdio, o auxiliando em uma série que foi a
precursora do westen moderno, “Jerry Spring”.
Era então a idade de
ouro dos grandes westerns hollywoodianos sobre a grande tela. O tema se impõe
como uma manifestação. Ele veiculou toda uma imagem clássica com os cavalos, o
confronto entre os índios e os brancos, os colonos e os militares, os jogadores
de pôquer, as mulheres fáceis, os foras da lei, o herói estereotipado,
cavalheiresco, mas também a nostalgia de uma sociedade e de uma civilização
desaparecidas, a beleza de uma vida selvagem em grandes espaços. “Blueberry” é
uma história em quadrinhos que se endereça aos jovens (e aos menos jovens!),
amantes de perseguições infernais, de tiroteios desencadeados e de “happy end”
moralizadores, tudo sobre o fundo do deserto plantado de cactos sob um sol
ardente. O sucesso aconteceu rapidamente.
Portanto, o tema não era
novo, e conhecera uma pletora de novos personagens nessa época. Já, “Jerry
Spring” e “Blueberry” não eram mais os solitários cowboys de papel da
publicação franco-belga. Citações, entre outros, “Lucky Luke” de Morris (1946)
e “Chick Bill” de Tibet (1953). Mas, eles vão gerar seguidores e logo estarão
reunidos a “Les Tuniques Bleues” de Cauvin e Salvérius (1968), “Comanche” de
Hermann e Greg (1969), “Buddy Longway” de Derib (1972), “Jonathan Cartland” de
Blanc-Dumont e Harlé (1974), “Durango” de Swolfs (1981)... O western, em cinema
como em histórias em quadrinhos, nunca foi tão bem sucedido quanto nos anos
50-70. Não se admira que Blueberry tivesse tomado traços de um ator francês
então muito em voga, Jean-Paul Belmondo.
Um
cowboy fora da estrada
A escolha do western
impôs automaticamente os clichês, um enquadramento pré-definido. Foi um mito
que não sofreu de ser mal conduzido em seu contexto histórico e seu ambiente
natural. Desse ponto de vista, se pode dizer que efetivamente, ao Oeste, nada
de novo. Os índios lutam para conservar o seu modo de vida, enquanto que os
brancos colonizadores tentam impor o seu. A cavalaria chega sempre a tempo, e o
herói tem sempre a última palavra. Mas Jijé, com seu “Jerry Spring”, irá
introduzir um vento de liberdade. Seu herói procurará compreender os índios ao
invés de aniquilá-los, e seu queixo não está sempre impecavelmente barbeado.
Foi o suficiente! O novo western era nascido. E “Blueberry” se beneficiará ao
fundo.
Giraud vai assim sair dos caminhos
batidos fazendo evoluir o gênero. Graças ao roteiro de Jean-Michel Charlier, seu herói não terá a aparência polida de Lucky
Luke ou de Jerry Spring: “O personagem do “herói” foi imposto a mim, a
nós, como anti-herói no sentido western do termo. O cinema nos habitou a
esses libertinos, esses perdidos simpáticos que vivem as aventuras heróicas um
pouco a despeito de si mesmos. Nas histórias em quadrinhos, foi diferente: esse
tipo de personagem não existia ainda, alguém que fosse reparador de injustiças
se divertindo com o colt para defender a ordem... como eu não sabia reanimar
esse gênero de personagem, eu me lembrei desses tipos que haviam me falado nos
Estados Unidos da América, esses autênticos cabeças quentes, esses “inúteis
soldados” que o Exército se desembaraçava os enviando à última fronteira dos
vilarejos perdidos do Oeste...”.
Visando um realismo
puro, Gir mostrará as qualidades e os defeitos de todos em um. Blueberry jogará
(trapaceando!), embebedar-se-á, mentirá, jurará, seduzirá! Ele se tornará
imundo, desertor e arruína as faces em rixas sórdidas... ...mas, pela boa
causa, evidentemente! Foi um soco no mundo então politicamente correto das
histórias em quadrinhos. Os “Caramba!” “Bando de condenados ao álcool!”
“Fígado amarelo!” chovem em cada página. Ele atua do gentil ao bruto.
Os personagens tornam-se humanos, críveis, seus caracteres evoluem, eles não
são mais unicamente bons ou unicamente maus. Os métodos do tenente
assemelham-se àqueles de seus adversários, mas, sua vulnerabilidade, seu humor
e seu cinismo fazem-no simpático ao leitor.
“Isso que nós temos
levado ao ícone do cowboy da HQ, foi a humanidade de Blueberry. Eu não queria
um herói sem medo e sem censura, ele devia ter as suas falhas, suas hesitações
e seus sofrimentos... e a barba por fazer!”. (Giraud)
Mister
Mœbius
Jean Giraud tenta
esquivar-se a seu destino inventando um duplo eu: Mœbius. Alimentando duas
paixões, o western e a ficção científica, cativado, na ocasião, pela 9ª arte,
mas também pela pintura, ele leva experiências gráficas e narrativas que lhe
permite – financeiramente falando – o sucesso de Blueberry: “Blueberry
sempre será o patrocinador de minhas obras.”.
Muito eclético em seu
desenho e seu propósito, o Mœbius de “Arzach”, “L’Incal” (roteiro de
Jodorowsky) ou “Le Monde d’Edena”, se aventura nos caminhos da ficção
científica, enquanto que o Giraud de “Blueberry” acompanha seu cow-boy a um
ritmo regular: do total, 32 álbuns lançados em 45 anos!
|
Arrebentadas as
etiquetas! A HQ entra na vida real e isso longe de ser simples. Cada um com uma
boa razão para conduzir o seu combate. Ao leitor de tomar partido. Ele é
distante, a história em quadrinhos tradicional ou o bom partido se imporia por
ele mesmo.
O estilo do novo western
não procura destruir um estereótipo, mas, a reatualizá-lo. Blueberry é um herói
da sua época. Ele se emancipa, mas, prudentemente. Se ele tenta dialogar com os
índios, isso para fazer-lhes aceitar, de maneira honrosa, a cultura dos
brancos. Salvo exceção, as mulheres são as mais frequentemente relegadas a um
papel menor e decorativo. Blueberry não coloca em questão a sociedade na qual
ele evolui. A série faz, portanto, os esforços, ela evolui, se moderniza, mas,
os autores devem se curvar a certas restrições: o western permanece o western!
O
estilo Gir
“A realização de um
“Blueberry” é uma verdadeira ascese, uma disciplina. É um trabalho terrível que
demanda uma exigência máxima. Para cada quadrinho, ele fez refinar a
composição, a luz, a anatomia...”.
E para refinar, ele
refina! Sente-se bastante toda a influência de Jijé por trás desse traço
exigente, porquanto realista. Numerosos são aqueles que reconhecem em Giraud o
principal herdeiro de Jijé. Longe do pincel redondo e paródico de Morris,
Giraud coloca um ponto de honra em ser crível a fim de dar vida a um mundo
desaparecido: um álbum de Blueberry representa um ano de trabalho! Assim como
Jijé, Giraud trabalha muito sobre documentação: “À estréia de Blueberry, eu
experimentei de ter frequentemente um cavalo feito sobre documentação por
página.”.
Charlier teria tido
dificuldade na estréia pela semelhança demais latente de seu traço com aquele
de Jijé. De fato, quando Giraud parte para os Estados Unidos em 1964, depois em
1965, Jijé o substitui em várias páginas de “Tonnerre à l’Ouest” (pranchas 28 a
36) e de “Cavalier Perdu” (pranchas de 17 a 38): é difícil para um não iniciado
perceber a passagem de mãos. Mas, Giraud terminará por matar o pai: “Eu
queria romper o sistema Joseph (Gillain). Eu incluía em meu trabalho aquilo que
ele havia me inculcado, mas eu não apreciava isso, eu me arriscava a apoiar
meus defeitos. No fundo da caixa. Da simplicidade à riqueza no
detalhe, a sobre-informação gráfica. Uma verdadeira provocação. Isso nunca foi
dirigido contra ele, mas contra o aspecto demais polido de seu desenho que não
podia alcançar.”.
Giraud depressa encontra
seu próprio estilo, como demonstra a utilização de hachuras e de pontos a fim
de dar mais profundidade e relevo a seus rostos e seus cenários. A utilização
do pincel é uma herança de Jijé, mas Giraud se ajunta à pena para dar uma
terceira dimensão ao seu desenho. Giraud exacerba o realismo jijéano a um ponto
tal que os próprios estadunidenses o reconhecem como o melhor desenhista de
western do mundo! Mas, o preço a pagar é uma disciplina de ferro que ele fez
manter em cada quadrinho.
Essa disciplina,
Charlier a segue escrupulosamente para o roteiro. O desenho e a escritura se
conciliam perfeitamente sobre esse ponto. “Ah! Mas assim era Charlier: ele
construía as vidas, ele reconstituía minuciosamente o universo de Blueberry,
seu passado, seu porvir, ele organizava as existências, ele dirigia a seu
gosto... ele era Deus!”. Mas Giraud ousa regularmente se
envolver nas histórias do pai criador para operar algumas mudanças!
As estreias de Giraud
Jean Giraud nasceu na
França a 8 de maio de 1938 em Fontenay-sous-Bois. Ele fez cursos de desenhos
por correspondência antes de entrar na Arts Appliqués onde ele rodeou
Jean-Claude Mézières e Pat Mallet. Ele passou também certo tempo nas salas de
cinema: “Quando eu era jovem, eu amava o western mais que tudo. Ele causava
sobre mim uma atmosfera poderosa e mágica. Quando eu comecei a desenhar
Blueberry, meu desejo foi de restituir a emoção que me abraçava diante das
imagens dos grandes filmes de western.” E foi um cowboy solitário
longe de seu lar que cunhou sua imaginação em “bande dessinée” e a
influenciará: “Morris encarnou durante alguns anos, com Lucky Luke e
sua desenho insensato, minha vanguarda pessoal, tanto no plano gráfico quanto
roteirístico. Eu fui realmente subjugado pela nervosidade de seu traço e por
sua profunda originalidade.”.
Em 1956, ele começa a
colaborar para “Far-West”, “Fripounet et Marisette”, “Âmes Vaillantes” e “Cœurs
Vaillants”, onde ele desenha as histórias completas no gênero western e as
histórias em sequência. Em 1958, por intermédio de Jean-Claude Mézières, ele
tomou conhecimento de seu “mestre” Joseph Gillain (1914-1980) que lhe confiará,
mais tarde, a arte-final de um episódio de “Jerry Spring” (“La Route de
Coronado”) publicado em “Spirou” em 1961. “Jerry Spring” era então a referência
em matéria de western realista. “Blueberry” nasceu do encontro entre dois
apaixonados pelo Far West. Após um período de formação, Giraud entalha sua
carreira em “Pilote” em 1963 sob o pseudônimo “Gir” desenhando “Fort Navajo”.
Foi um galope de ensaio, mas, sobretudo, o primeiro episódio daquilo que iria
se tornar a série “Blueberry”.
As
estreias de Blueberry
Faltava a Jean Giraud um
roteirista experiente. Que outro então senão Jean-Michel Charlier? “Meu
primeiro encontro com Jean Giraud remonta à estréia de ‘Pilote’. Ele veio me
propor uma série western, me pedindo para escrever o roteiro. Eu nunca me
conduzi demais sobre o western; e então eu fiquei incomodado pela semelhança de
seu desenho com aquele de Jijé.”. Charlier terminará por tornar
a chamar Giraud, após uma viagem reveladora aos Estados Unidos e sobre o
conselho de Jijé. Começa enfim uma saga que hoje e sempre não recebe fim... ...nem
uma ruga!
Uma ótima harmonia se
instala entre os dois homens, se bem que muito diferentes por suas
personalidade e idade. “Charlier queria contar a história de um militar em
uma América triunfante, tudo aquilo que minha geração tinha horror!”.
Filmografia seletiva de
Jean-Paul Belmondo
na primeira metade
dos
anos 60:
- A bout de souffle (1960)
- Un singe en hiver (1962)
- Le Doulos (1962)
- L’homme de Rio (1964)
- 100.000$ au soleil (1964).
O apelido Blueberry, achado por acaso, corresponderia a um desejo bem preciso de Giraud: “Eu desejei,
eu, qualquer coisa suave que seria um cara turbulento e nojento.”. Sua
face, ele encontra evidentemente no cinema, baseado no ator Jean-Paul Belmondo:
“Ele foi uma espécie de símbolo para os rapazes de minha idade (...) Foi uma
maneira de ancorar a HQ em sua época, da saída do gueto cultural da literatura
para adolescentes. Belmondo não era ainda uma star, mas ele tinha
verdadeiramente um sorriso. Era um pouco nosso James Dean francês. Mais tarde,
Blueberry emprestou seus traços bastante de outros atores, como Charles
Bronson. Nós poderíamos também acrescentar Charlton Heston, Georges Clooney...
tanto dizer que seu rosto continua a evoluir e que ele me escapa ainda.”.
As semelhanças se desvanecem à proporção e à medida, e Blueberry acabará por
assemelhar-se a Blueberry!
Os álbuns vão se
encadear a um ritmo anual desenfreado, até ao falecimento de Charlier em 1989.
Giraud torna-se então um cowboy solitário ao desaparecimento de seu amigo e
roteirista: “Eu fiquei chocado. Durante mais de cinco anos, eu fiquei
completamente impedido de trabalhar em ‘Blueberry’, como se eu necessitasse de
um período de luto. Eu considerava esse personagem como uma criança que tinha
perdido seu papai e de cujo eu teria sido a mamãe. Eu tinha a guarda do pequeno.”,
Sagrada família aquela de Mike Blueberry, desde o avô Jijé ao papai Charlier!
Mas, Giraud não está em
pane de idéias para seu cowboy (“Blueberry jamais esgotou minha inspiração”),
mesmo se ele lamenta os roteiros sempre surpreendentes de Charlier. Ele se
adapta em se concentrar diante da personalidade do seu herói. “Eu tinha a
idéia de retomar a tradição narrativa de ‘Blueberry’ em tudo evitando plagiar
aquilo que fez Jean-Michel Charlier. Eu considerei a sua morte como um limite
roteirístico na história de Blueberry. Totalmente no restante da ficção,
eu me concentrei sobre o personagem. A história começou a se mover em tempos
presentes e passados. Um passado que chamava de volta a época onde Charlier
ainda vivia.”. Giraud assim, sozinho, retoma a série, sobre uma sinopse
deixando por Charlier (“Arizona Love”). O desejo era muito presente, mas a
confiança não era ainda total. Ele criou entrementes “Marshal Blueberry” para
provar a si que podia escrever um bom roteiro. Essa primeira série paralela,
desenhada por Vance (depois Rouge), se revelará finalmente decepcionante e se
resumirá a uma trilogia.
A série foi, contudo,
desenvolvida com sucesso graças a outras aventuras paralelas prosseguidas por
diferentes desenhistas e roteiristas: “La Jeunesse de Blueberry” (N. C.: “A
Juventude de Blueberry”) narra o passado do esperto tenente, enquanto que em “Marshal
Blueberry”, o rebelde porta a estrela de xerife. Giraud começa em 1995 um novo
ciclo, “Mister Blueberry”, no qual o herói recebe algumas rugas e dois ou três
cabelos brancos. Um outro projeto de série paralela, “Blueberry 1900”, devia
colocar em cena um Blueberry ainda mais idoso. Elaborada em colaboração com
François Boucq (de cujo Giraud admira “Bouncer”), essa série finalmente não viu
a luz.
Era
uma vez no Oeste...
Na segunda metade do
século XIX começam, no Oeste norte-americano, as primeiras guerras indígenas. O
tenente yankee Blueberry tenta negocias a paz com os chefes índios. Mas, ele se
rebela contra a autoridade tinhosa e estúpida de seus superiores, os quais
gostam de enviá-lo para cumprir as missões mais perigosas.
Preso entre os casacas
azuis caçadores de índios e os índios caçadores de caras-pálidas, ele vagueia
de vilarejo em vilarejo, encontrando personagens nem sempre recomendáveis,
todavia, cujos ele faz aliados. Ele cruza igualmente o caminho de homens
ilustres tais quais o chefe apache Cochise (1812-1874), o general Ulysses Grant
(1822-1885), o sulista Quantrill (1837-1865), o general George Custer
(1839-1876), o impiedoso marshal Wyatt Earp (1848-1929)... Ele atravessa
grandes acontecimentos como o início da Guerra de Secessão (1861), o
assassinato do presidente Lincoln (1865), a construção do caminho de ferro
(1863-1869); ele passa em lugares míticos como Tombstone, OK Corral (1881), a
fronteira mexicana... Certas aventuras de Mike Blueberry são inspiradas em
fatos e personagens reais: os cinco pontos do caminho de ferro destruídos no
Leste do Tennesse no inverno de 1861, a lenda do ouro dos confederados no verão
de 1869, a fuga de 300 apaches rumo ao México durante o outuno-inverno de
1871/72, a tomada de poder por Diaz no México na primavera de 1872... A ficção
rodeia uma documentação muito pesquisada.
Giraud gosta de
introduzir uma dose de fantasia em sua obra. Isso porque sua história em
quadrinhos faz, frequentemente, fronteira com o místico. O tenente encontra os
xamãs que lhe fazem compartilhar de experiências perturbadoras. Sem dúvida que
o passado do jovem Jean Giraud ressurge igualmente por reminiscência. Quando da
sua segunda viagem ao México, à idade de 22 ou 23 anos, Giraud teve de fato uma
experiência determinante: “Eu queria viver alguma coisa... Eu aspirei
cogumelos que me deram uma visão, que em seguida me deixou um pouco perturbado,
dirão alguns. Eu diria mais que eles: colocou-me em algo particular, que tem
determinado bastante as opções na sequência de minha carreira.".
Giraud conta que o consumo de alucinógenos influenciou sua obra em geral: “A
maconha tem condicionado em parte a minha atividade criativa em transtornando
minha percepção do mundo.”
O resultado do filme
“Blueberry, l’expérience secrete”, adaptação cinematográfica de Jan Kounen em
2004, portanto, não foi surpreendente. Muito criticado à sua estreia por seu
não respeito à história em quadrinhos e seu demais cheio de místico, o
longa-metragem foi, porém, apreciado por Jean Giraud pelo seu aspecto ousado e
deslocado.
O novo
“nouveau western”
Após Jean Giraud, outros
autores experimentam o western realista: Hermann (“Comanche”), Derib (“Buddy
Longway”), Blanc-Dumont (“Jonathan Cartland”), e Swolfs (com um “Durango” que
se assemelha muito a Clint Eastwood).
Nos anos 90, Jean Giraud
retoma o roteiro da série “Jim Cutlass”, iniciada em 1979 com J. M. Charlier,
deixando o pincel a Christian Rossi. Se for certo que hoje, o western está em
perda de velocidade, tanto no cinema quanto em história de quadrinhos, ele
ainda tem belos dias pela frente. E a marca de Giraud se encontra
frequentemente. Nós podem citar “Chinaman” (TaDuc e Le Tendre, éd. Dupuis),
“Ethan Ringler” (Mezzomo e Filippi, éd. Dupuis), “Gibier de Potence” (Capuron,
Duval e Jarzag, éd. Delcourt), “Trent” (Léo e Rodolphe, éd. Dargaud),
“W.E.S.T.” (Rossi, Dorison e Nury, éd. Dargaud), “L’Etoile du désert” (Marini e
Desberg, éd. Dargaud)... A lista não é exaustiva, mas prova que aquilo que
estimulou Jijé e Giraud à época, estimula sempre o mundo da história em
quadrinhos.
Mais próximo de Giraud,
François Boucq parece ser um digno herdeiro do western realista com seu
“Bouncer” (éd. Humanoïdes Associés). Para Giraud, é um caso a parte! “Eu era
muito ciumento. Eu tinha mesmo projetado de assassiná-lo, mas como eu queria
saber a sequência, eu o salvei.”.
Mesmo em jovens autores
cuja obra não se assemelha forçadamente àquela de Giraud, a influência é
reconhecida. Eles são ainda jovens apaixonados nos quais as inspirações e os
desejos se assemelham travessamente àquelas de Jean Giraud. Isso se reconhece
também nessa nova geração: “Sfar e todo seu pequeno bando me lembram um
pouco aquilo que nós temos conhecido em 'Pilote', mas isso parece mais
coerente. Há mais educação e maturidade por trás desses jovens autores.”.
Contudo, esses adeptos do western foram amamentados na mesma mama. Notadamente,
foi o caso de Christophe Blain, autor do western surrealista “La Révolte d’Hop
Frog” (éd. Dargaud, 1997) e de “Gus” (éd. Dargaud, 2007), western humorístico.
Muito influenciado por “Lucky Luke” em sua infância, fascinado pela imagem
clássica do western, caiu no caldeirão do cinema de Clint Eastwood e de Sergio
Leone, que levou, a ele também, viajante aos Estados Unidos à idade de 25 anos,
para ver com seus próprios olhos o Colorado, o Arizona, o Grand Canyon,
Monument Valley... “Isso realmente me comoveu. Eu sabia que tinha que
escrever um western. Foi primordial, o western foi, de tal maneira, o fundador
da minha imaginação.”. “Gus” nasceu dessa imaginação.
Para Blain, “Blueberry
encarna o lado barroco do gênero. (...) Os roteiros de Charlier são clássicos,
mas Giraud levou um vigor, uma vida que eu sentia.”. Portanto, obras
radicalmente diferentes no plano gráfico, mas criadas por um mesmo impulso, um
impulso íntimo e apaixonado.
O fim
de Blueberry?
Jean Giraud não planeja
mais enterrar seu herói com toda a série. “Blueberry não pode morrer, eu
tive a certeza e a prova depois que eu li a biografia que Charlier escreveu
antes de nos deixar. (...) A história de um tipo como ele não pode ter fim...”.
Charlier considerou
mesmo um encontrou entre Blueberry e... Eliot Ness!
That’s all folks?
Textos: Marianne Pierre.
Bibliografia
La Jeunesse de Blueberry
(Charlier/Giraud)
1975 La Jeunesse de Blueberry
1979 Un Yankee nommé Blueberry
1979 Cavalier Bleu
(Charlier/Wilson)
1985 Les démons du Missouri
1987 Terreur sur le Kansas
1990 Le Raid infernal
(Corteggiani/Wilson)
1992 La poursuite impitoyable
1993 Trois hommes pour Atlanta
1994 Le Prix du sang
(Corteggiani/Blanc-Dumont)
1998 La Solution Pinkerton
2000 La Piste des maudits
2001 Dernier Train pour Washington
2003 ll faut tuer Lincoln
2005 Le Boucher de Cincinnati
2006 La Sirène de Veracruz
2007 100 dollars pour mourir
2008 Le Sentier des larmes
N.C.: A Dargaud Éditeur, após a publicação de
“Catalogue de l’Exposition Blueberry by Gir”, lançou mais três volumes de
autoria de François Corteggiani e Michel Blanc-Dumont:
2009 1276 âmes
2010 Rédemption
2012 Gettysburg
Blueberry
1965 Fort Navajo
1966 Tonnere à l’Ouest
1967 L’Aigle Solitaire
1968 Le Cavalier Perdu
1969 La Piste des Navajos
1969 L'Homme à l'étoile d'argent
1970 Le Cheval de Fer
1970 L'Homme aux poings d'acier
1971 La Piste des Sioux
1971 Général Tète Jaune
1972 La Mine de l'Allemand perdu
1972 Le Spectre aux balles d'or
1973 Chihuahua Pearl
1973 L'Homme qui valait 500.000$
1974 Ballade pour un cercueil
1974 Le Hors-la-loi
1975 Angel Face
1980 Nez Cassé
1980 La Longue Marche
1982 A Tribu fantôme
1983 La Dernière carte
1986 Le Bout de la piste
1990 Arizona Love
1995 Mister Blueberry
1997 Ombres sur Tombstone
1999 Geronimo, l’Apache
2003 O.K. Corral
2005 Dust
2007 Apaches
Marshal Blueberry
(Giraud/Vance)
1991 Sur ordre de Washington
1993 Mission Sherman
(Giraud/Rouge)
2000 Frontière sanglante
Recursos bibliográficos utilizados para a
realização desse catálogo:
DBD Nº 24
DBD Nº 27
BoDoï N 65
Schtroumpfs, les Cahiers de la BD Nº 25
Mœbius, entretien avec Numa Sadoul (Casterman 1991)
Ficha
Técnica
Catalogue
de l’Exposition Blueberry by Gir
“Catálogo
da Exposição Blueberry by Gir”
Desenhos: Jean Giraud.
Ano de lançamento: 2009.
Número de páginas: 28 (incluindo capa e contracapa).
Gênero: Western.
Desenhos: Jean Giraud.
Ano de lançamento: 2009.
Número de páginas: 28 (incluindo capa e contracapa).
Gênero: Western.
Formato:
14,7x21,0 cm.
La Maison de la Bande Dessinée, Bruxelas, Bélgica.
La Maison de la Bande Dessinée, Bruxelas, Bélgica.
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